Material didático inédito surgiu da necessidade em oferecer algo que traduzisse melhor os termos da grade curricular aos alunos surdos
Desenvolver um manual de Libras para as disciplinas de Ciências voltado ao público estudantil com deficiência auditiva, professores e a comunidade estudantil, essa foi a ideia que surgiu a partir da percepção de dificuldades de alunos com essa deficiência para entender as matérias e que, ao ministrarem suas aulas, observaram que seus conhecimentos em Libras eram insuficientes para atender esse público. Assim, os estudantes Bruno Iles e Taiane Maria de Oliveira, das disciplinas de “Estágio Supervisionado” da então Universidade Federal do Piauí (UFPI), atual Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar) apresentaram a necessidade para se criar esse manual, considerando que não havia material didático na área de Ciências e o intérprete da língua de sinais existente na escola – nem todas o possuem, por sinal – utilizava basicamente a datilologia, exatamente pela carência de sinais referentes aos temas abordados na exposição do conteúdo, mais ainda, na ausência do intérprete, o aluno ficava sem acesso ao conhecimento estudado.
Desenvolvido pelos dois alunos sob orientação e supervisão da professora Ma. Rosemary Meneses dos Santos, Secretaria Municipal de Educação (SEMED) de Tutóia (MA), e do professor Dr. Jesus Rodrigues Lemos, da Coordenação de Ciências Biológicas da UFDPar, a elaboração do “Manual de Libras para Ciências: A Célula e o Corpo Humano” contou com a participação do intérpretes Ana Cristina de Assunção Xavier Ferreira e Mário Augusto Silva Sousa Júnior. Trabalho que teve início no primeiro semestre de 2017, na disciplina de “Língua Brasileira de Sinais” (Libras), e, devido a diversos fatores logísticos e operacionais, foi concluído e publicado três anos depois.
Dr. Jesus Rodrigues enfatiza que o ensino para surdos precisa ser acrescentado nas escolas, tendo a Libras como disciplina obrigatória. “Com material em sua língua, professores e demais profissionais eximirão a exclusão do aluno surdo e este poderá aprender o que for necessário segundo o currículo pedagógico proposto”, observa.
A professora Rosemary Santos acrescenta, entretanto, que a inclusão curricular da disciplina deve contemplar toda a grade curricular, desde os anos iniciais da educação escolar. “Isto deve iniciar na educação infantil e prosseguindo para os demais níveis, sendo concluída no Ensino Superior. Somente assim será, literalmente, seguido o que preconiza a Lei 10.436/2002 e o Decreto 5.626/2005”, sustenta.
Ao comentar sobre o manual, os professores destacam que o material visa “suprir uma das barreiras do ensino ao discente surdo na disciplina de Ciências, mais especificamente com o conteúdo do oitavo ano do Ensino Fundamental” e, não diferente, “promover, não somente aos surdos, mas aos professores, intérpretes, profissionais da saúde e demais alunos não surdos, o conhecimento e o compartilhamento de saberes, de forma que surdos e ouvintes sejam protagonistas na construção de uma sociedade mais inclusiva”.
De acordo com o professor doutor, o manual não teve nenhum tipo de aporte financeiro e que os “custos com a operacionalização foram financiados pelos dois professores envolvidos, auxiliados pelos próprios alunos, os quais arrecadaram recursos com rifas e bingos”.
O e-book está disponível para download gratuito no site da UFPI através do link https://www.ufpi.br/arquivos_download/arquivos/EBOOK_-_MANUAL_DE_LIBRAS_PARA_CIENCIA-_A_CëLULA_E_O_CORPO_HUMANO20200727155142.pdf e é livre para todos que desejarem ter acesso. “A intenção de sua produção sempre foi trazer, para os profissionais da educação e outras áreas, conhecimentos do tema que auxiliassem na sua prática profissional e, mais especificamente, ajudar os discentes surdos a terem um recurso pedagógico, acessível na escola, na sua língua natural-Libras”, ressalta o professor doutor.
Por fim, Rosemary Santos e Jesus Rodrigues antecipam que, agora, eles trabalham nos planos para o desenvolvimento de material similar contemplando o conteúdo de Botânica.