Levantamento americano, publicado na Nature, indica ainda que as pessoas que tiveram Covid também têm 52% mais chances de ter um AVC
Um estudo realizado pela Universidade de Washington, nos Estados Unidos, e publicado na revista Nature comprovou numericamente o que muitos cardiologistas já verificavam na prática: pessoas que tiveram Covid estão propensas a desenvolver problemas cardiovasculares até um ano após a infecção. Até mesmo quem teve sintomas leves pode ter complicações futuras.
Os cientistas compararam dados médicos de 150 mil veteranos que sobreviveram à Covid com outros dois grupos de pessoas que não foram infectados. O cruzamento das informações permitiu observar que as pessoas que tiveram contato com a doença, mesmo com sintomas mais leves, tiveram 52% mais chances de ter um acidente vascular cerebral (AVC) e 72% mais risco de desenvolver insuficiência cardíaca, em relação aos grupos de controle.
Segundo Antônio Bahia Neto, presidente da Sociedade Mineira de Cardiologia, o estudo vem corroborar uma realidade observada pelos especialistas. “Quanto mais grave é a manifestação aguda da Covid, maiores são as chances de desenvolver complicações cardiovasculares de forma geral. Mas quem teve sintomas leves também pode desenvolver um problema”, explica o médico.
Por isso, até mesmo para as pessoas vacinadas ou que tiveram sintomas gripais após a infecção pela ômicron, a recomendação é procurar por um cardiologista para avaliar a saúde do coração. Não só pelo vírus em si, mas também por outras questões impostas pela pandemia.
“Existe uma questão multifatorial provocando um maior número de mortes por doenças cardiovasculares, além da Covid. A pandemia trouxe uma mudanças comportamentais, como aumento do estresse, do sedentarismo e de hábitos inadequados, como comer, fumar e beber mais”, explica Bahia.
Dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen/BR) indicam que, em janeiro de 2022, houve no Brasil um aumento de 20% em mortes por AVC, 19% por causas cardiovasculares inespecíficas e 17% por infarto em relação ao mesmo mês do ano passado.
E a tendência é de haver uma crescente de mortes por doenças cardiovasculares pelos próximos anos, segundo o cardiologista. “Antes da pandemia, já havia uma expectativa de crescimento, porque a população está vivendo mais e tendo hábitos inadequados. Mas com a Covid e as complicações, a expectativa passou a ser de um crescimento exponencial de mortes por doenças cardiovasculares”.
Exames de rotina e eletrocardiograma
O cardiologista Augusto Vilela recomenda que as pessoas façam uma consulta nos primeiros 45 dias após a infecção por Covid. Ele explica que, normalmente, um eletrocardiograma e exames de rotina são suficientes para identificar possíveis alterações.
Esse acompanhamento é importante para encontrar problemas invisíveis aos leigos, como a inflamação do músculo cardíaco, por exemplo. “A miocardite pode ser silenciosa. Geralmente, o principal sintoma dela é o cansaço. Então, a pessoa que teve Covid acredita que está se sentindo cansada por causa da infecção, mas na verdade é por causa da miocardite”, explica.
Ele lembra ainda que houve um aumento na demanda de atendimentos na área de cardiologia desde o início da pandemia, mas não apenas por problemas que realmente são do coração. “A pandemia também provocou muitos problemas psicológicos. Houve um aumento no número de pessoas buscando atendimento por causa de dor no peito e falta de ar, mas que, após a avaliação, se verificava que era somatização”.
*Fonte: O Tempo