O Samu explicou que “os jovens apresentaram sudorese, saturação baixa e taquicardia” e foram na escola por pelo menos 16 profissionais em seis ambulâncias e duas motos
Mais de 20 alunos de uma escola de ensino médio localizada em Recife (PE) passaram mal nessa sexta-feira (8) e precisaram receber atendimento médico. Os estudantes da Escola de Referência em Ensino Médio (Erem) Ageu Magalhães sentiam falta de ar e tremor, além de terem crise de choro. O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi chamado à escola para atendê-los e informou que os 26 adolescentes atendidos tiveram “crise de ansiedade”.
Em nota divulgada à imprensa, o Samu de Pernambuco explica que “os jovens apresentaram sudorese, saturação baixa e taquicardia”. Segundo o serviço, os estudantes foram atendidos na escola e “não precisaram de remoção para unidades de saúde”. Pelo menos 16 profissionais foram mobilizados em seis ambulâncias e duas motos.
Já a Secretaria de Educação e Esportes disse que os alunos foram liberados após o atendimento médico e foram para casa com os responsáveis. Além disso, acrescentou que realiza trabalho voltado para a educação socioemocional dos alunos, com orientações aos adolescentes e aos responsáveis.
Crise de Ansiedade
A crise de ansiedade é um problema que tem sido cada vez mais discutido, no entanto, muitas pessoas não sabem ao certo como acalmar alguém que esteja passando pelo transtorno. Na tentativa de auxiliar, muitos acabam dizendo palavras que podem piorar o quadro mental de quem está passando por uma crise de ansiedade. Saiba como identificar e ajudar no problema.
A definição de crise de ansiedade trata-se, conforme a psicóloga Talita Gonçalves explica ao BHAZ, de uma “resposta de luta ou fuga”. “A pessoa percebe uma ameaça, e a amígdala do cérebro é ativada, desencadeando reações no corpo que são a crise de ansiedade em si”, diz Talita.
Segundo ela, os sintomas da crise de ansiedade se dividem em duas categorias: psicológicos e físicos. A principal característica do transtorno é a intensidade dos sintomas físicos. “Sudorese, tontura, sensação de ataque cardíaco, e falta de ar, que no caso é a hiperventilação, são muitos sintomas”, explica.
Crise de Ansiedade na Pandemia
Com a pandemia da Covid-19, grande parte das pessoas diminuiu os vínculos sociais e tem passado por crises financeiras. Esses elementos, aliados ao cenário de incertezas que uma pandemia apresenta, contribuem para o desenvolvimento de transtornos mentais, incluindo a crise de ansiedade.
“Quando falamos de pandemia, estamos falando da composição de elementos que trazem insegurança sobre o futuro e impactam na nossa vida no presente. Então acaba que a pandemia é um cenário mais propício, embora ainda não se tenha evidências científicas”, aponta a psicóloga.
Como ajudar uma pessoa durante uma crise de ansiedade
Para a especialista em TCC (Terapia Cognitivo Comportamental) Talita Gonçalves, algumas pessoas não sabem lidar quando alguém está tendo uma crise de ansiedade por conta do desconhecimento. “Quando são coisas de ordem mental, as pessoas dão menos importância”, afirma a psicóloga.
No entanto, é essencial que a família e os amigos tenham sensibilidade para ajudar o outro a passar pela crise de ansiedade. “Quando uma pessoa está tendo uma crise, ficar por perto é excelente”, opina a moradora de Belo Horizonte Andreza Rubens, que lida com o transtorno há dois anos.
Técnicas Respiratórias
De acordo com Talita Gonçalves, técnicas respiratórias podem fazer a pessoa que está tendo a crise de ansiedade se conectar com o momento presente. “Se ela estiver hiperventilando, o ideal é você tentar ajudar ela com uma técnica de respiração, podendo ser a respiração diafragmática”.
Essa técnica nada mais é do que uma respiração abdominal, dando atenção para o diafragma. Ao fazer a respiração diafragmática, a pessoa pode inalar o ar pelo nariz e expirar pela boca enquanto está sentada em uma posição confortável ou deitada.
Pedir para olhar o ambiente
A psicóloga aconselha a orientar a pessoa que está tendo crise de ansiedade a olhar para o ambiente em que ela está, de forma atenta aos detalhes. “Trazer o foco dela para alguma coisa que esteja na sala faz com que a pessoa tenha algum tipo de distração”, afirma Talita.
Sinalizar que é uma crise de ansiedade
“Sinalizar que é uma crise de ansiedade ajuda porque muitas vezes a pessoa pode evoluir um pensamento de forma muito drástica”, diz a especialista em TCC. “Ela vai interpretar a falta de ar como se estivesse tendo um ataque cardíaco”.
Conforme explica Talita Gonçalves, propor fazer exercícios respiratórios juntos também auxilia no momento da crise de ansiedade. “A pessoa precisa trazer quem esteja tendo o problema para o momento presente e desfocar ela dos sintomas da crise, através do foco no que está acontecendo no ambiente externo”.
Colocar Música
A crise de ansiedade tem duração de 15 a 40 minutos, segundo explica a psicóloga. “Nesse tempo em que a crise estiver acontecendo, você pode colocoar uma música que a pessoa gosta, e orientar ela a tentar se lembrar de momentos que forem prazerosos para ela”, aconselha.
Andreza Rubens conta que faz acompanhamento psiquiátrico, e que o profissional lhe receitou remédios para tratar a crise de ansiedade. De acordo com a psicóloga Talita Gonçalves, a recomendação de medicação pode depender do nível que as crises podem afetar a vida cotidiana do paciente.
Moradora de Belo Horizonte, a dona de casa Andreza relata que seus familiares costumam ajudar quando ela está tendo crise de ansiedade. “Uns me abraçam, outros ficam só sentados comigo esperando passar, ou sentam para conversar comigo. Se a pessoa ficar só perto de você é melhor”.
Como ajudar uma pessoa durante a crise de ansiedade por telefone
Há aquelas situações em que a pessoa está longe e não pode auxiliar pessoalmente a quem está tendo a crise de ansiedade. Nesses casos, o telefone pode ser um bom aliado para ajudar um amigo ou familiar a aliviar os sintomas do problema.
A psicóloga Talita Gonçalves acredita que a ligação seja a melhor solução, em vez de uma mensagem. “O ideal é ligar para a pessoa, por mensagem do Whatsapp, por exemplo, eu acho meio complicado. Então o melhor é ligar, fazer um exercício de respiração junto com a pessoa…”.
“Perguntar para a pessoa onde ela está, aconselhar a ir para a janela e listar o que ela está vendo, o que está passando na rua etc, são técnicas que ajudam a tirar o foco do indivíduo da crise de ansiedade”, acrescenta.
O que não falar para uma pessoa que está tendo crise de ansiedade
Além de saber como ajudar, existem frases que devem ser evitadas por quem está lidando com um indivíduo que esteja passando por uma crise de ansiedade. Isso porque certas falas, no momento da crise, podem fazer com que a pessoa piore ou não se sinta confortável para falar ou sentir aquele problema.
“Quando eu comecei a ter crise de ansiedade, as coisas que eu mais escutei eram que era frescura, que eu estava querendo chamar atenção, que era gracinha, então parei de falar”, relata Andreza Rubens. Ela também conta que muitos começaram a comparar a dor dela com a dor de outros.
Sobre o que não deve ser falado para alguém que está tendo crise de ansiedade, a especialista em TCC Talita Gonçalves afirma: “Primeiro não se deve desvalorizar aquilo. Não ter falas do tipo ‘isso não é nada’, ‘não fica assim’, ‘isso é coisa da sua cabeça’”.
“Qualquer coisa que desmereça o que a pessoa está sentindo deve ser evitado. Às vezes falamos tentando ajudar, mas essas frases minimizam o que o outro esta passando”, explica.
Como tratar a crise de ansiedade
Existe uma série de possibilidades para tratar a crise de ansiedade, sendo a maioria recomendadas após um diagnóstico com um profissional de saúde mental. Talita Gonçalves aponta que a medicação é feita dependendo da intensidade, da frequência e do impacto do problema na vida pessoal do paciente.
“Para quem não quer se medicar, tem a TCC, o mindfulness, que é focar ‘no aqui e no agora’, e a gente tem tratamentos relacionados à atividade física. Para a ansiedade, a atividade física é tão importante quanto a medicação, pois é muito eficaz o nível de melhora dos pacientes”, relata.
Além disso, a psicóloga recomenda técnicas de relaxamento como o yoga e o tai chi chuan. “Cuidar da alimentação, e se puder com o auxílio de um nutricionista, ajuda a melhorar o transtorno. Certos alimentos podem desregular o intestino, prejudicar o sono e o nosso humor”, conclui Talita.
Grupos de apoio em BH para pessoas com crise de ansiedade e que existem correlatos em outras cidades
Em Belo Horizonte, existem alguns lugares com atendimento psicológico gratuito e que podem auxiliar no diagnóstico e tratamento da crise de ansiedade. Confira alguns deles:
NASF-AB (Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica): O núcleo é formado por multiprofissionais que trabalham nas equipes de Saúde da Família e nos Centros de Saúde da PBH (Prefeitura de Belo Horizonte). Os profissionais realizam terapia ocupacional e atendimento psicológico mediante agendamento no Centro de Saúde. O usuário deve solicitar o atendimento da ESF (Equipe de Saúde da Família).
CERSAM (Centro de Referência em Saúde Mental): Com funcionamento de 7h às 19h, o centro de referência abre todos os dias da semana, inclusive feriados. O serviço está disponível em diferentes regiões de Belo Horizonte. Oferece atendimentos próprios para cada caso, com presença de equipe multiprofissional, junto a oficinas e atividades culturais e de lazer.
Atendimento psicológico UniBH: A universidade oferece atendimento psicológico gratuito, feito pelos estagiários da Clínica Escola de Psicologia do UniBH, com supervisão dos professores. Qualquer pessoa interessada pode usufruir dos atendimentos individuais, para casais ou grupos, do plantão psicológico, e da avaliação psicológica. Os interessados devem preencher o formulário de inscrição para ter acesso às consultas presenciais ou remotas.
NAASP (Núcleo de Acolhida e Articulação da Solidariedade Paroquial): O núcleo surgiu por meio do projeto “Rede: Articulação da Sociedade”, da arquidiocese de Belo Horizonte. Na Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, o NAASP oferece atendimento psicológico para pessoas em situação de vulnerabilidade social, transeuntes, população de rua e paroquianos. O acolhimento é realizado mediante agendamento no telefone 31 3224-2270.
*informações BHAZ