Cada vez mais amantes de futebol e outras modalidades esportivas têm se inserido no universo das apostas online. Inúmeros sites e apostadores mundo a fora movimentam, diariamente, este que se tornou um mercado milionário. Mas um cruzeirense de 25 anos, natural do Triângulo Mineiro, resolveu compartilhar o “outro lado da moeda” ao fazer um alerta em suas redes sociais nesta semana.
“Basicamente, eu acabei com a minha vida devido a esse vício e afundei não só a mim, como também toda minha família. O fundo do poço parece nunca chegar e a tristeza e o desespero a cada aposta perdida me fazia tentar desesperadamente uma nova aposta e a realidade era uma nova derrota”, escreveu o rapaz em um trecho do relato.
Ao BHAZ, o jovem, que preferiu não se identificar, conta com tristeza que desde 2019 acumulou um prejuízo estimado de R$ 80 mil – 87% desse valor só nos últimos dois meses. O brilho nos olhos da primeira aposta, feita com simbólicos R$ 100, foi sumindo a cada aposta perdida.
Com a esperança de ganhar mais dinheiro, para arcar os danos cada vez mais crescentes, os valores investidos em cada jogada só foram aumentando. “Uma das minhas maiores percepções, com o passar do tempo, é que cada vez você quer apostar mais. E pouco já não te traz a mesma emoção”, conta ele.
‘Vício parecido com drogas’
Em conversa com a reportagem, a psiquiatra do Hospital Semper, Nayara Zinato, explica que esse tipo de dependência tem nome e tratamento, embora não tenha uma cura definitiva. O chamado “jogo patológico” é o comportamento que caracteriza pessoas que não conseguem mais controlar o impulso de apostar.
“A pessoa passa a jogar e aquilo passa a prejudicar toda a vida dela, o que acaba interferindo na saúde mental e, eventualmente, na física. A pessoa começa a mudar hábitos, jogar de forma compulsiva e perde a capacidade de perceber que ela consegue viver sem jogar”, explica a especialista.
Apesar de reconhecer todos os malefícios dessa dependência em sua vida, o mineiro confessou ao BHAZ que ainda não consegue vislumbrar um futuro longe dela. “É um vício parecido com o de drogas. Aumenta muito a ansiedade e te faz querer sempre mais. Hoje sei que é errado, mas não consigo afirmar que nunca mais vou apostar”, desabafa ele.
Quando chega a hora de parar?
Além da compulsividade e da ansiedade, existem outros sinais que caracterizam uma pessoa com comportamento jogo patológico. Segundo a psiquiatra Nayara Zinato, eles costumam ser percebidos por quem convive com o apostador.
“Geralmente ela começa a mentir, enganar pessoas que estão perto dela – porque as pessoas ao redor começam a perceber. O dependente em jogos vai se isolar cada vez mais, ficar mais irritada quando não tá jogando, porque ela vai ter sintomas de abstinência”, afirma a especialista.
À reportagem, é com tristeza que o cruzeirense compartilha que a dependência em apostas tem lhe tirado o sono e prejudicado profundamente sua saúde mental. Para arcar com os prejuízos, ele precisou fazer vários empréstimos e chegou até a contatar os administradores das casas de aposta, mas sem sucesso.
“Fiz o relato por vontade de ajudar pessoas que ainda não tenham perdido tanto a repensar sua situação e não chegar no mesmo ponto que eu. Acho que cheguei em uma rua sem saída que essas pessoas não precisam chegar”, explica.
Tratamento
Mesmo que o desânimo impeça que pessoas com comportamento jogo patológico enxerguem um futuro longe do vício, existem caminhos para quem quer sair do “fundo do poço”. A psiquiatra afirma que o primeiro passo é se reconhecer como dependente e, em seguida, procurar um profissional de saúde mental para uma avaliação médica.
“O principal tratamento é a terapia. Existem terapias mais centradas nessa questão dos jogos e existem algumas medicações que a gente pode usar para ajudar no controle dessa compulsão. Se a pessoa perceber os sintomas, seja que está jogando muito, ou prejudicando a vida e se afastando de pessoas queridas, o ideal é procurar ajuda”, explica Nayara.
*Fonte: BHAZ