De acordo com o diretor-geral da OMS, a subvariante BA.2 da ômicron continua sendo a dominante em todos os territórios
Novas versões do Sars-CoV-2 têm levado ao aumento de casos da COVID-19 em pelo menos 50 países, alertou, ontem, a Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da agência das Nações Unidas, a subvariante BA.2 da ômicron continua sendo a dominante em todos os territórios, mas as cepas BA.4 e BA.5 impulsionaram a transmissão do coronavírus nas últimas semanas, tornando ainda mais grave a situação de países que seguem severamente castigados pela pandemia, como a África do Sul.
Em uma coletiva de imprensa, Tedros Ghebreyesus enfatizou que a atual redução da mortalidade por COVID-19, desencadeada principalmente pelas vacinas, não é motivo para abandonar as medidas preventivas. “Essa pandemia não acabou, e precisamos que todos os líderes intensifiquem os esforços para aumentar a imunidade da população e trabalhar coletivamente para obter testes, tratamentos e vacinas para todos”, defendeu.
Segundo o diretor-geral da OMS, o “pior cenário” seria o surgimento de uma variante mais transmissível e mortal, o que pode ser facilitado pelas baixas taxas de imunização em alguns países. “O número crescente de casos destaca a volatilidade desse vírus. “As subvariantes estão gerando um grande aumento nos casos. Mas, pelo menos no momento, as hospitalizações e as mortes não estão aumentando tão rapidamente quanto nas ondas anteriores”, comparou.
A OMS segue estudando as novas cepas do vírus e, até o momento, nenhuma delas se mostrou mais perigosa do que as antecessoras. “BA.4 e BA.5 têm apenas uma ligeira vantagem de crescimento em relação à BA.2”, disse Maria Van Kerkhove, pesquisadora da OMS.
“Insustentável”
Tedros Ghebreyesus também criticou a política impulsionada pelo governo da China para conter a nova onda do vírus. “Quando falamos da estratégia ‘COVID zero’, isso é insustentável, considerando a evolução do vírus e nossas análises feitas em Genebra até agora”, justificou.
Apesar da insatisfação da população, o governo chinês mantém medidas severas, como confinamento após o registro de casos em algumas regiões. O país enfrenta a pior onda de COVID-19 desde a primavera de 2020. No último fim de semana, moradores de áreas isoladas protestaram batendo panelas das janelas de casa.
Diretor de Situações de Emergência da OMS, Michael Ryan avalia que, diante do aumento do número de mortes em fevereiro e em março, é esperado que o governo asiático reaja, mas que as medidas devem considerar os apelos da população. “É uma decisão da China em busca de proteção. Mas todas as suas ações, como nós repetimos desde o início, devem ser tomadas com respeito às pessoas e aos direitos humanos”, justificou.
Outro fator de sofrimento a ser considerado é a situação do país, muitas dificuldades inclusive na lida dos governos em relação à situação sanitária: “Minha experiência atual é de consultório, mas continuo em constante contato com rede pública de saúde mental, onde trabalhei por mais de 30 anos, e os colegas relatam que em virtude da pandemia, muitas pessoas tiveram perdas graves, queridas. E as classes menos favorecidas perdas econômicas significativas. Se você tem problemas psíquicos, isso agrava e se não tem, pode passar a ter, sem generalizar. Houve enorme sobrecarga no serviço de saúde mental, que precisa de reforço de profissionais e equipes”, esclarece a psiquiatra Ana Lobosque.
Cinthia Demaria, psicanalista e mestranda em Estudos Psicanalíticos pela UFMG, também chama a atenção para não generalizar os sintomas. “A pandemia impacta todo mundo, mas não da mesma forma. Dificuldades nas relações sociais, falta de paciência, problemas de memorização, diz muito de caso a caso. Existem algumas pesquisas indicando que o pós-covid tem questões sobre memorização, impacto de ansiedade, depressão, porém a dificuldade de memorizar torna a pessoa mais impaciente.”
A psicanalista também diz ser preciso levar em conta que a mudança repentina para relações virtuais trouxeram à tona o imediatismo. Uma situação em que a pessoa não precisa se deslocar, consegue fazer muitas coisas ao mesmo tempo, mas que também passou a conviver com a restrição financeira e de espaço, com atividades que eram tidas como lazer ou cotidianas e passaram a ser problemas. A quantidade de informações recebidas ao mesmo tempo, dificultando seu processamento.
Cinthia Demaria, psicanalista e mestranda em Estudos Psicanalíticos pela UFMG, também chama a atenção para não generalizar os sintomas. “A pandemia impacta todo mundo, mas não da mesma forma. Dificuldades nas relações sociais, falta de paciência, problemas de memorização, diz muito de caso a caso. Existem algumas pesquisas indicando que o pós-covid tem questões sobre memorização, impacto de ansiedade, depressão, porém a dificuldade de memorizar torna a pessoa mais impaciente.”
A psicanalista também diz ser preciso levar em conta que a mudança repentina para relações virtuais trouxeram à tona o imediatismo. Uma situação em que a pessoa não precisa se deslocar, consegue fazer muitas coisas ao mesmo tempo, mas que também passou a conviver com a restrição financeira e de espaço, com atividades que eram tidas como lazer ou cotidianas e passaram a ser problemas. A quantidade de informações recebidas ao mesmo tempo, dificultando seu processamento.
“Muita gente se reinventou, inseriu em grupos, passou a participar de outras instituições. São necessidades não apenas psicológicas, mas físicas, motoras. Idosos, por exemplo, que tiveram quadros piorados, restrição de movimentação. Pessoas que precisam de tratamento diário que não deram continuidade por medo de se deslocar ou porque os serviços foram suspensos”, lembra Cinthia Demaria.
Situação vivida por Meiry Geraldo, de 52 anos, musicoterapeuta, mãe de um adolescente de 16, Artur Rauba, portador de autismo severo, nível três, situação de dependência que necessita de apoio diário. Desde o nascimento, passaram-se um ano e oito meses para chegar ao diagnóstico.
Treinar habilidades
Artur Rauba passou por diversas fases de tratamento e de profissionais especializados, como fonoaudiologia, terapia ocupacional, ecoterapia, psicanálise, terapia comportamental. Desenvolveu diversas habilidades e faz tratamento contínuo de Atividades da Vida Diária (AVD). Os pais também foram treinados, o que ajudou no prosseguimento das práticas durante isolamento na pandemia.
Meiry Geraldo conta que fez treinamentos em casa, “incorporei ao meu dia a dia, e algo mais como estimulação através da música e da arte. Na pandemia trabalhamos escovação de dentes, vestir roupa, ir ao banheiro. Autonomia é fundamental para essas crianças. A pandemia foi péssima em todos os sentidos. O autismo tem problema basicamente em dois pontos, comunicação e interação social. Ele tem movimentos repetitivos estereotipados. As crianças perderam a interação social, o convívio com seus pares. A escola é um grande facilitador pra isso, onde encontram ambiente familiar, de criança com criança.”
A musicoterapeuta reconhece que nem todos os pais, na pandemia, têm como dar essa atenção ao filho. “Foi péssima (a pandemia) na comunicação, não tinham como experimentar, tentar brincar com pessoas dentro de casa. Ficar engessada em um apartamento. Criança tem energia, não podia sair para caminhar. Eles necessitam desenvolver uma rotina e quando isso é quebrado tudo se desorganiza. Meu filho não fala, e é preciso entender os sinais. Ele pega o sapato demonstrando que quer sair. Agora recomeçamos com um personal training que sai duas vezes por semana também para passear e também faz passeios de triciclo.”
Vulneráveis
A psicóloga Vânia de Morais reconhece que houve sim um efeito devastador sobre saúde mental, e que os impactos ainda vêm sendo estudados mundo afora. “Os mais atingidos são os mais vulneráveis, crianças, jovens, mulheres profissionais de saúde e educação, e em vulnerabilidade social que ficaram expostas em maior intensidade ao vírus, por viverem em comunidades onde aglomeração é inevitável. Perderam mais pessoas da família. Crianças que não puderam ir à escola, separadas de seus colegas, que não puderam aprender no ambiente escolar, privados de amigos e professores. Muitas não se adaptaram às aulas on-line e ainda hoje sentem dificuldades de aprendizagem e de convivência em casa.”
A psicóloga também destaca os desafios de pais que se sentiram sobrecarregados com múltiplas funções, mesmo em casa. “A convivência em casa gerou muito conflito familiar, vejo isso na clínica, entre pais e filhos, e casais. Evidenciou muitos conflitos latentes, muitos elevado a graus que chegaram à violência doméstica.”
De acordo com o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), em publicação “Aspectos sociais – Evidências Covid 19”, há um conjunto de aspectos sociais que são decorrentes da própria pandemia, enquanto também há outros aspectos sociais consequentes aos processos do seu enfrentamento.
Os estudos sobre aspectos sociais associados a uma epidemia compreendem assuntos como, medidas de enfrentamento dos problemas pelas equipes e unidades de saúde, pelas instâncias governamentais, pelas comunidades, associações e por grupos da sociedade.
Mapeamento de estratégias de enfrentamento coletivo frente às dificuldades enfrentadas, aspectos culturais que influenciam no avanço ou na contenção da pandemia. Desigualdades sociais que podem afetar na evolução da pandemia em locais com poucos recursos e pouco investimento público.
Aspectos socioeconômicos que influenciam na adesão da população às medidas de enfrentamento governamentais, o impacto socioeconômico e cultural das medidas de isolamento social.
*Fonte: Estado de Minas