Cientistas da Austrália descobriram que larvas conhecidas como tenébrio gigante podem se alimentar somente de poliestireno, material plástico que ameaça a vida no mar
Material de embalagens, talheres descartáveis, caixas de CD: o poliestireno é uma das formas mais comuns de plástico, mas sua reciclagem não é fácil e a grande maioria termina em depósitos de lixo ou chega aos oceanos, onde ameaça a vida marinha.
Cientistas da Universidade de Queensland, na Austrália, descobriram que as superlarvas de tenébrio gigante (Zophobas morio), uma espécie de besouro, se alimentam desta substância, e suas enzimas intestinais poderiam ser a chave para taxas de reciclagem mais altas.
Chris Rinke, que dirigiu um estudo publicado no último dia 09 na revista Microbial Genomics, disse à AFP que pesquisas anteriores haviam demonstrado que as larvas de traça-da-cera e as larvas-da-farinha (outra espécie de besouro) tinham boas credenciais por ingerir plástico.
“Assim que supomos a hipótese de que as superlarvas, que são muito maiores, podem digerir inclusive mais”, explicou.
As larvas de tenébrio gigante chegam a cinco centímetros e são criados como alimento de répteis e aves, e até mesmo para alimentação humana em países como México e Tailândia.
Rinke e sua equipe alimentaram as superlarvas com diferentes dietas durante um período de três semanas: alguns receberam espuma de poliestireno, comumente conhecida como isopor, outros receberam farelo e outros não receberam nada.
“Confirmamos que as superlarvas podem sobreviver com uma dieta única de poliestireno e, inclusive, ganhar uma pequena quantidade de peso em comparação com o grupo de controle de fome [os exemplares que não receberam nenhum alimento], o que sugere que as larvas podem obter energia ao comer poliestireno”, assinalou Rinke.
Embora as superlarvas criadas a base de poliestireno tenham concluído seu ciclo de vida, se transformando em pupas e depois em besouros adultos completamente desenvolvidos, os testes revelaram uma perda de diversidade microbiana em seus intestinos e patógenos potenciais.
Essas descobertas sugerem que, apesar de os insetos conseguirem sobreviver com poliestireno, esta não é uma dieta nutritiva e afeta sua saúde.
Em seguida, a equipe utilizou uma técnica chamada metagenômica para analisar a comunidade intestinal microbiana e encontrar quais são as enzimas codificadas por genes que participaram da degradação do plástico.
‘Bio-upcycling‘
Uma maneira de utilizar essas descobertas seria dar às superlarvas restos de alimentos ou bioprodutos agrícolas para consumir junto com o poliestireno.
“Esta poderia ser uma forma de melhorar a saúde das larvas e de lidar com a grande quantidade de desperdício de alimentos nos países ocidentais”, disse Rinke.
Contudo, apesar de ser possível criar mais larvas para esse propósito, o cientista sugere outro caminho: criar usinas de reciclagem que imitem o que fazem as larvas, que é primeiro triturar o plástico e depois digeri-lo através de enzimas bacterianas.
“Em última instância, queremos tirar as superlarvas da equação”, assinalou.
Rinke planeja agora mais pesquisas destinadas a identificar as enzimas mais eficientes e depois melhorá-las ainda mais através da engenharia de enzimas.
Os produtos de decomposição dessa reação poderiam depois ser utilizados para alimentar outros micro-organismos para criar compostos de alto valor, como bioplásticos. Rinke espera que isso se torne um “upcycling” economicamente viável.
“Upcycling” é o processo de reutilizar o que é descartado para gerar algo de maior valor, diferentemente da reciclagem, que supõe destruir o lixo para criar algo novo.
*informações G1