Corpo de Adriano Paulino, de 47 anos, foi encontrado por volta das 9h deste sábado (20) na Rua Carneiro da Cunha, na Saúde, Zona Sul da capital.
A madrugada gelada na capital paulista neste sábado (20) terminou com a morte de uma pessoa em situação de rua por suspeita de hipotermia. A Prefeitura de São Paulo afirma que aumentou o número de vagas em abrigos para receber quem está ao relento, mas a quantidade total ainda é insuficiente: são 20 mil vagas para ao menos 32 mil pessoas em situação de rua na cidade, ou seja, ao menos 12 mil pessoas não têm para onde ir quando a temperatura cai.
O corpo de Adriano Paulino, de 47 anos, foi encontrado por volta das 9h deste sábado na Rua Carneiro da Cunha, na Saúde, bairro de classe média da Zona Sul da capital. Ele já havia passado algumas vezes por abrigos da prefeitura, mas ontem estava ao relento quando morreu, segundo informações do padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua de São Paulo. O caso foi encaminhado para o 16ºDP, na Vila Clementino.
Segundo a prefeitura, Adriano havia sido acolhido em 2 de agosto, “quando saiu do serviço e não retornou”. Ainda de acordo com a gestão municipal, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado para uma ocorrência de morte provável no endereço em que ele foi encontrado. “A ambulância foi até o local e, constatando o óbito da vítima, que estava sem identificação, acionou a Polícia Militar” (leia a íntegra da nota abaixo).
Lancellotti afirma que está em busca da família de Adriano, que estava sozinho durante a madrugada e que, provavelmente, como em vários outros casos, ingeriu bebida alcoólica para se aquecer e aguentar o frio.
Mas o que acontece no organismo é o oposto. O álcool provoca a dilatação dos vasos sanguíneos –quando eles deveriam estar contraídos, para preservar o calor do corpo.
O álcool diminui a resposta ao frio, ou seja, a pessoa passa a tolerar mais as baixas temperaturas. E é aí que está o perigo. Porque, para tolerar mais o frio, a pessoa bebe mais e vai perdendo a consciência e a capacidade de reagir a ele, explica o médico Carlos Eduardo Pompilio, clínico geral do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).
À medida que essa capacidade de reação vai diminuindo, a chance de a pessoa morrer de frio –por hipotermia– aumenta.
Abrigos municipais
Com a nova frente fria, a prefeitura afirmou novamente que aumentou a capacidade de acolhimento, mas as vagas seguem insuficientes.
Segundo a gestão municipal, do prefeito Ricardo Nunes (MDB), a prefeitura tem 18 mil vagas em abrigos e criou 2.044 novas vagas para a Operação Baixas Temperaturas deste ano em equipamentos como Centros de Acolhida, Centros Esportivos e Núcleos de Convivência. No total, são cerca de 20 mil vagas.
O último censo da prefeitura, feito no ano passado, encontrou 32 mil pessoas vivendo nas ruas na capital paulista.
Isso significa que 12 mil pessoas não têm vaga nos abrigos e locais disponibilizados pela prefeitura.
Um levantamento feito pelo Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua (Polos – UFMG) mostra que o problema pode ser ainda maior: eles estimam que a população de rua na cidade é 30% maior do que indica censo municipal e, portanto, a quantidade seria de cerca de 42 mil pessoas.
A prefeitura afirma que também monta dez tendas entre 18h e 0h sempre que a temperatura fica abaixo de 10°C. E que, além dos chamados pelo 156, equipes fazem busca ativa, durante as noites e madrugadas, por pessoas em situação de rua.
Entre a noite da última quinta-feira (18) e 5h desta sexta (19), 307 pessoas foram encaminhadas para os serviços de acolhimento e, entre 18h da última sexta (19) e 5h deste sábado (20), foram 268 pessoas.
O governo do estado também disponibiliza vagas em um abrigo provisório montado na estação Pedro II do Metrô, que continuará aberto na madrugada deste sábado para domingo (21).
Na última noite, foram acolhidas 91 pessoas, sendo três crianças, sete mulheres e 81 homens. Já na quinta-feira, 21 pessoas foram abrigadas. Essas pessoas receberam colchões para dormir, kits de higiene, cobertores e refeições gratuitas entregues pelo Programa Bom Prato Móvel.
Há capacidade no alojamento para atender 100 pessoas por noite com cobertores e colchões, podendo ser ampliado para 400 pessoas.
A entrada do abrigo Noites Solidárias é pela Estação Pedro II do Metrô; na Rua da Figueira, s/n; Bairro Sé, Centro.
O que diz a prefeitura
“A Prefeitura Municipal de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), informa que os orientadores socioeducativos do Serviço Especializado de Abordagem Social realizaram atendimento social a uma pessoa em situação de rua neste sábado (20), à 00h02, na Rua Carneiro da Cunha, na Saúde, zona sul de São Paulo. Na ocasião, o homem não aceitou acolhimento e foi entregue a ele cobertor.
A SMADS informa ainda que o homem abordado no endereço mencionado acima havia sido acolhido no último dia 02 de agosto, quando saiu do serviço e não retornou.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado para uma ocorrência de morte provável na rua no local, neste sábado(20). A ambulância foi até o local e constatando o óbito da vítima, que estava sem identificação, acionou a Polícia Militar.
Na noite de ontem, nos arredores da Rua Carneiro da Cunha foram prestados 12 atendimentos à população em situação de rua, que resultaram em três encaminhamentos para acolhimento, além disso foram entregues 36 cobertores.
Importante ressaltar que a causa da morte é determinada pelos serviços competentes, IML (Instituto Médico Legal) e SVO (Serviço de Verificação de Óbito).”