Fábio Farias, ministro das Comunicações do governo, futuro empregado do homem mais rico do mundo, Elon Musk, é uma estrela em ascensão no exclusivo mundo dos analistas políticos.
Ele está coberto de razão ao dizer que se Bolsonaro tiver mais votos do que Lula, se reelege. A recíproca é verdadeira, mas sobre ela Farias não se debruça por fidelidade a Bolsonaro.
Segundo o ministro, Romeu Zema (NOVO), reeleito governador de Minas, ajudará Bolsonaro a virar a eleição ali, assim como Tarcísio de Freitas (PL) ampliará a vantagem de Bolsonaro em São Paulo.
Reeleito governador, Ronaldo Caiado (UNIÃO), fará a mesma coisa em Goiás, assim como deputados federais bolsonaristas eleitos no Nordeste, e antes preocupados só com a própria sorte.
O voto de Simone Tebet em Lula? Vale pouco. Farias garante que os eleitores de Simone que votariam em Lula já foram para Lula no primeiro turno. As demais adesões a Lula não pesam tanto.
Que os bolsonaristas não se aflijam, pois. Está tudo sob controle, está tudo certo, no próximo dia 30 é só irem votar. Acreditem: “A mamata acabou, a mamata não volta mais”. Lula? Adeus!
Fazer conta de chegada, como faz o ministro, é moleza. Não requer uma inteligência especial como a de Frias, nem conhecimentos profundos sobre o que se diz. Basta apostar no que se projeta.
A isso pode-se dar o nome de truísmo. Ou seja: verdade banal, evidente; lugar-comum, clichê, redundância; coisa óbvia, trivial ou corriqueira, que não merece nem precisa ser falada.
O fato é: encerrada a primeira semana de campanha no segundo turno, Lula aguentou bem o tranco de ver Bolsonaro contrariar as pesquisas de intenção de voto que o davam como derrotado.
Derrotado ele foi, mas por uma diferença menor do que se supunha. O voto útil o favoreceu e não a Lula. Faltou só um tiquinho para que Lula vencesse, mas faltou.
Em números: faltou 1,6% de votos válidos para que Lula se elegesse. Significa… Significa que faltaram 1,8 milhão de votos. No caso de Bolsonaro, faltaram mais de 8 milhões.
Presidente candidato à reeleição nunca perdeu. Presidente candidato à reeleição nunca chegou atrás no segundo turno. Mas, Bolsonaro é Bolsonaro… Jamais houve nada parecido.
Truísmo contra truísmo: se Lula manter a dianteira que abriu no Nordeste sobre Bolsonaro, e a dianteira em Minas; se em São Paulo não levar uma goleada, estará eleito. Simples.
Os estrategistas da campanha de Bolsonaro, entre eles Farias, uma sumidade, querem estimular o aumento da abstenção no Nordeste para prejudicar Lula; os de Lula, levar a votar quem não votou.
O que será mais fácil ou difícil? Bolsonaro é um especialista em atirar no próprio pé. Disparou nos dois pés ao apontar Lula como beneficiado pelo analfabetismo dos nordestinos.
Bolsonaro viajou a Belém no fim de semana para o Círio de Nazaré (eu escrevi Círio, e não Sírio como o presidente escreveu nas redes sociais). E lá ficou isolado numa lancha da Marinha.
Em nota, o arcebispo de Belém disse que não o convidou, como a nenhuma outra autoridade; que o Círio é uma manifestação de religiosidade popular que deve ser respeitada por todos.
Lula resistiu à tentação de duelar com Bolsonaro no campo dele. Então, protagonizou em Belo Horizonte o maior ato político de sua campanha. Nesta quarta-feira, tentará repeti-lo em Salvador.
Domingo que vem (16), Lula e Bolsonaro estarão frente a frente no primeiro dos dois debates do segundo turno. Há um terceiro marcado, mas Lula não irá. Tem mais o que fazer nas ruas.
Bolsonaro prefere não se expor muito nas ruas, só em espaços sob encomenda. Depois do Círio (Sírio, não!), foi passear de jets-sky em um rio que banha Belém. Fará novas motociatas.
A última vez que Bolsonaro reuniu multidões foi em sociedade com os militares no 7 de setembro em Brasília e diante dos canhões do Forte de Copacabana, no Rio. Estava em casa, entre amigos.