Um ano após o acidente de avião que matou a cantora Marília Mendonça, a Polícia Civil de Minas Gerais apresentou, na manhã desta sexta-feira (4), as conclusões iniciais sobre o pouso da aeronave.
Segundo o delegado responsável pelo caso, Ivan Lopes, o piloto desviou do padrão no momento do pouso e bateu na rede de transmissão da Cemig, que não estava na área de proteção para aeronaves.
A princípio, a corporação aguarda um laudo para descartar falhas no motor. O mais importante, segundo a Polícia Civil, é dar respostas aos familiares das vítimas e também aos fãs da cantora.
“Investigação diferente”
“É uma investigação diferente. A ideia ao final não é apontar dedo a nenhum criminoso. O que ocorreu foi um acidente, ninguém gostaria que isso tivesse ocorrido”, pontua Ivan Lopes.
Segundo a Polícia Civil, as investigações começaram já no dia 6 de novembro, com a liberação dos corpos para serem velados. Ela vem sendo conduzida com base em três fatores: meio, humano e máquina.
O procedimento investigativo perpassa dois órgãos: a Polícia Civil (PC) e o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).
Enquanto à PC compete apurar eventuais responsabilidades criminais, ao Cenipa compete prevenir acidentes e desvendar o que ocorreu para que não haja reincidências.
Fator meio
O delegado Ivan Lopes pontua que as condições meteorológicas no dia do acidente eram favoráveis ao voo visual, então obstruções à visão foram descartadas. Hoje não há dúvidas de que o avião de Marília Mendonça se chocou no para-raios da Cemig.
“Muito se questiona por que essas redes não estavam sinalizadas, precisamos distinguir se havia faculdade ou obrigatoriedade de haver a sinalização, e não havia obrigatoriedade, porque o aeródromo de Caratinga tem uma zona de proteção”, afirma.
No aeródromo, há um documento chamado NOTAM (Notificação para impacto aéreo). Nele, consta qualquer obstáculo dentro da circunferência de 3 quilômetros dentro da zona de proteção, e compete ao piloto consultá-lo.
As torres nas quais o avião bateu não estavam na área de proteção, por isso não precisavam ser sinalizadas, segundo a PC. Outro fator que dispensa tal sinalização é a altura relativamente baixa das torres, de 35 a 36 metros.
O que se tem é que no Leste do aeródromo não é possível se aproximar devido a um morro, então em Caratinga os pilotos obrigatoriamente devem fazer a aproximação pelo Oeste.
Fator humano
Dois pilotos prestaram depoimentos relevantes para a investigação. Um deles havia decolado de Viçosa e pousaria em Caratinga: ele ouviu pelo rádio o piloto de Marília reportando que já estava na “perna do vento da 02”, preparando para pousar.
A declaração implica que o piloto se aproximou pelo setor correto, Oeste, e voava a favor do vento para fazer a curva à esquerda. Na sequência, entraria na reta final e pousaria a aeronave dentro de um minuto, conforme o padrão.
Já no segundo depoimento, um piloto experiente que estava no aeroporto se aproximou quando viu o avião de Marília fazendo o controle de tráfego e se aproximando para pousar. Ele notou que o avião se distanciou, sendo que o padrão é que os pilotos peguem a “perna do vento” e curvem à esquerda dentro da zona de proteção.
Em dado momento, o avião da cantora se afastou tanto que o piloto que estava em solo perdeu o contato visual. Depois, viu a aeronave se alinhando na pista para pousar e não conseguiu enxergar os fios, momento em que o veículo se chocou e caiu.
Em resumo, o padrão saiu do padrão de pouso em Caratinga há menos de dois minutos do pouso. Realizar a curva na zona de proteção é facultativo, mas é um padrão dos pilotos.
“Quando ele sai da zona, qualquer eventual obstáculo que tiver não vai estar no NOTAM, é por conta e risco dele. O visual dele que vai orientar”, diz Ivan Lopes. A PC também descartou qualquer mal súbito, além de efeitos de medicamentos e drogas, por parte do piloto.
Fator máquina
A corporação ressalta que ainda não desvendou por que o piloto voava tão baixo naquele local. Ainda resta descartar que o motor apresentou algum problema, o que teria feito o profissional adotar essa decisão.
Hoje, a Polícia Civil aguarda a elaboração dos laudos por parte do Cenipa para que qualquer falha nos motores seja descartada. Assim, seria possível caminhar para uma conclusão de falha humana, embora a corporação avalie que se tratou de um acidente de qualquer maneira.
Conclusões preliminares
A PC pontua que o piloto era muito experiente e que já havia atuado em voos comerciais para grandes empresas. Nunca havia, contudo, voado para Caratinga. A princípio, não há indícios de que houvesse qualquer tipo de sobrecarga no expediente dele.
A aeronave que transportava Marília Mendonça se chocou primeiro no motor esquerdo da rede de proteção e, com a tensão, o cabo de aço se enrolou no motor, fazendo-o se pendurar no ar.
As investigações também apontam que “nunca saberemos” por que o piloto se afastou tanto. Há especulações, como, por exemplo, ele querer fazer uma rampa mais suave para dar conforto ao pouso.
Segundo a corporação, é possível que o acidente não houvesse ocorrido se a rede de transmissão não estivesse naquele local. No entanto, seria dever do piloto ver o obstáculo.
Até o momento, a norma sobre a sinalização no aeroporto segue a mesma. Se surgir algum laudo mostrando que houve falhas no motor, as investigações tomarão rumos distintos.
Descoberta das mortes
Segundo o delegado, a equipe da cantora não sabia que das vítimas quando o avião caiu e, por isso, houve um desencontro de informações. Assim que o acidente foi divulgado, a assessoria afirmou à imprensa que ela estaria viva.
O primeiro passo foi estabilizar a aeronave, pois havia riscos de ela descer na cachoeira. Depois, um médico do Samu (Serviço de Atendimento Móvel) conseguiu entrar e constatou as mortes.
Naquele momento, a Polícia Civil assumiu as investigações. A preocupação inicial foi evitar a exposição de imagens indevidas das vítimas, já que a população se agrupou no local.
Quando os corpos chegaram no IML, na madrugada, a orientação foi liberá-los com celeridade para que os familiares pudessem se despedir.
Acidente e morte de Marília Mendonça
A cantora sertaneja Marília Mendonça morreu, aos 26 anos, após a queda de um avião que a transportava de Goiânia para Minas Gerais, onde realizaria shows em pelo menos duas cidades.
O chamado para a queda do avião em que Marília estava ocorreu por volta das 15h30. Inicialmente, por volta das 16h40, a assessoria da artista disse que “todos foram resgatados” e estavam “bem”. Mais tarde, surgiu a confirmação da morte.
Estavam na aeronave um produtor, um assessor, piloto e co-piloto, além da artista. Ninguém sobreviveu.
Horas depois, às 17h45, a morte da cantora foi confirmada.
*Informações e imagem: BHAZ