Ou a Justiça acorda enquanto há tempo ou o país atravessará as mais violentas eleições de sua história
Do portal Metrópoles – Ficou célebre a cena protagonizada pelo general Newton Cruz em dezembro de 1983. Então Comandante Militar do Planalto, ele convocou uma entrevista coletiva de imprensa para fazer um balanço dos dois meses em que Brasília viveu sob medidas de exceção baixadas para forçar o Congresso a aprovar projetos do interesse do governo do presidente João Figueiredo.
Irritado com uma pergunta que lhe fez o jornalista Honório Dantas, o general chamou-o de “moleque” e mandou que ele calasse a boca. Ao final da entrevista, ao ouvir do jornalista em tom de ironia que ele se sentia honrado com o tratamento que recebera, o general deu um pulo de mais de um metro, agarrou-o pelo pescoço e tentou agredi-lo fisicamente. Exigiu que lhe pedisse desculpas.
Bolsonaro ainda não chegou a esse ponto, embora já tenha dito que estava com vontade de encher de porrada a boca de um jornalista que lhe perguntou sobre depósitos feitos por Fabrício Queiroz na conta de Michelle Bolsonaro. Newton Cruz foi testemunha de defesa de Bolsonaro no processo que ele respondeu em 1988 no Superior Tribunal Militar. Bolsonaro o admira muito.
Quando o general agiu daquele modo, a ditadura militar de 64 ainda produzia estragos no país. É impensável que Bolsonaro, hoje, seja capaz de repetir o comportamento de Newton Cruz, mas o problema não é esse. O problema é “o guarda da esquina”. A expressão foi cunhada pelo vice-presidente Pedro Aleixo ao tomar conhecimento em dezembro de 1968 do Ato Institucional nº 5.
Naquela ocasião, a ditadura que se apresentava como branda tirou de vez a máscara e se assumiu como tal. Não havia mais limite para nada. A tortura virou política de Estado. Adversários do regime foram caçados e mortos. Todos os direitos acabaram cancelados. Aconteceu o que Aleixo previra. A violência passou a ser praticada pelos escalões mais rasteiros do sistema.
O mau exemplo dado por Bolsonaro nas suas relações com a imprensa começa a ser copiado pelos responsáveis por sua segurança, e também por seus devotos mais fanáticos. A proximidade das eleições é terreno fértil para que se multipliquem fatos como os registrados em Roma, há dois meses, e na Bahia, no fim de semana. A Justiça deve acordar para isso com urgência.