Nos últimos meses, Alexandre Machado esteve próximo de um graduado agente do serviço secreto do governo, a quem repassou informações
Do Portal Metrópoles – Da Coluna de Rodrigo Rangel – Alexandre Gomes Machado, o funcionário afastado pelo Tribunal Superior Eleitoral que prestou à Polícia Federal um depoimento usado pela campanha de Jair Bolsonaro para tentar corroborar a denúncia sobre supostas falhas na veiculação da propaganda eleitoral do presidente em emissoras de rádio, esteve nos últimos meses em estreito contato com um oficial graduado da Agência Brasileira de Inteligência, o serviço secreto do governo.
A partir de relatos de fontes que conheceram de perto o relacionamento de Machado com o oficial da Abin e com base em outras evidências às quais teve acesso, a coluna apurou que Machado compartilhou informações sensíveis sobre os bastidores do TSE e sobre pessoas próximas ao atual presidente da Corte, ministro Alexandre de Moraes, e ao seu antecessor, Luis Roberto Barroso.
Além de ter sido alçado a uma posição importante na Abin durante o governo de Jair Bolsonaro, o oficial de inteligência a quem o funcionário afastado do TSE repassou os dados é também ligado à cúpula militar do Palácio do Planalto – em especial, ao ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno Ribeiro.
Alexandre Machado foi exonerado pelo TSE na última terça-feira. Como assessor vinculado à Secretária Geral da presidência da Corte, ele era responsável por receber das campanhas os arquivos das propagandas eleitorais e em seguida disponibilizá-los para as emissoras de rádio e de televisão. No mesmo dia da demissão, ele foi à Polícia Federal prestar um depoimento que durou horas a fio e entrou pela madrugada.
Ao depor, Machado disse acreditar que “sua exoneração seja pelo fato que desde o ano de 2018 tenha informado reiteradamente ao TSE de que existem falhas de fiscalização e acompanhamento na veiculação de inserções da propaganda eleitoral gratuita”.
Na véspera, após uma convocação para que jornalistas fossem até a frente do Palácio da Alvorada para um anúncio urgente no qual seria exposto um “fato grave”, Fábio Faria, ministro das Comunicações de Bolsonaro, e Fabio Wajngarten, conselheiro do presidente, afirmaram que milhares de inserções de rádio da campanha bolsonarista teriam deixado de ir ao ar, o que beneficiaria o candidato Luiz Inácio Lula da Silva.
A denúncia sobre a suposta falha na distribuição das peças de propaganda de Bolsonaro, usadas pelo próprio presidente para questionar a atuação do TSE nesta reta final das eleições, também foi apresentada à Corte. O ministro Alexandre de Moraes negou a abertura de um procedimento para apurar o assunto e mandou investigar os denunciantes por “possível cometimento de crime eleitoral com a finalidade de tumultuar o segundo turno do pleito em sua última semana”.
Tão logo surgiu, na sequência, a notícia da demissão de Alexandre Machado do cargo que ocupava no TSE, integrantes da campanha de Bolsonaro e apoiadores do presidente passaram a sustentar que a saída dele corroborava a denúncia feita por Fábio Faria e Fábio Wajngarten.
O tribunal negou que haja relação entre uma coisa e outra e, em nota, disse que Machado foi desligado por “indicações de reiteradas práticas de assédio moral, inclusive por motivação política, que serão devidamente apuradas” — a “motivação política” seria justamente o pendor do servidor, no exercício de suas funções, para o bolsonarismo.
Sobre o teor das declarações prestadas pelo servidor à Polícia Federal, o TSE afirmou tratar-se de alegações “falsas e mentirosas”.
A coluna tentou falar com Machado, mas não obteve retorno até o momento. Também procurado, o TSE informou que, por ora, não vai se manifestar.