Para estudiosos, ideia de que a liberdade é um “presente” deve ser questionada, e a data precisa ser reutilizada para reflexões
Comemorada em 13 de maio, a abolição da escravatura é um marco importante na história do Brasil e do mundo. Foi nesse dia, em 1888, que a princesa Isabel assinou a lei Áurea, iniciando um novo período no país – a partir dessa data, a escravidão deixou de existir de maneira legalizada. Porém, o significado do dia, segundo especialistas, vai muito além disso: envolve desde a necessidade de reflexão até um entendimento mais aprofundado sobre o que representa essa lei.
O historiador Douglas Silva lembra que a memória construída em torno da data é hoje bastante questionada, já que durante anos persistiu a ideia de que a abolição da escravatura foi um “presente”. Muitos apagam, inclusive, a própria luta dos negros para que isso ocorresse.
“Questiona-se essa ideia de ‘dádiva’. Atualmente nós sabemos que a abolição teve a influência de muitos grupos sociais, inclusive das pessoas que estavam sob a escravidão. Isso foi menosprezado por muito tempo. Antes de 13 de maio, muitas pessoas já estavam construindo um conceito de liberdade dentro de uma sociedade escravagista”, diz ele.
Nesse cenário, Silva lembra que muitos escravos lutavam inclusive para provar a ilegalidade da situação deles. Embora a lei Eusébio de Queirós tenha sido aprovada em 1850, colocando fim, teoricamente, ao tráfico negreiro no país, não foi bem isso o que aconteceu.
“Os escravos começaram a argumentar que chegaram ilegalmente ao país, o que acabou sendo utilizado dentro de processos visando a liberdade deles. A partir daí, a história deles, o conhecimento sobre quem eram essas pessoas, como chegavam até aqui, em quais condições, recebiam mais atenção. O movimento abolicionista é muito diversificado”, afirma Silva.
Mas a luta dos negros por reconhecimento não acabou naquela época, conforme lembra o historiador André Bueno – continua firme e forte. E isso, inclusive, traz mais um significado para o dia da abolição da escravatura. Para ele, é uma data que exige reflexão.
“Há ainda várias perguntas a serem feitas: será que a escravidão foi mesmo abolida? Existem outras formas de escravidão, além do cárcere?”, questiona. “Devemos também pensar na própria questão social do negro, no preconceito institucional que ainda existe”, diz ele.
Para Bueno, o 13 de maio ainda é um tanto quanto “apagado”, porém isso precisa mudar. “Devemos reutilizar essa data para debater, para revisar as novas formas de escravidão. A data é muito importante. Não podemos anulá-la”, conclui.
*informações O Tempo