O arcebispo sul-africano Desmond Tutu (1931-2021), herói da luta contra o apartheid e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1984, que morreu em 26 de dezembro, solicitou que seu corpo fosse submetido à aquamação.
Era “o que ele aspirava como ativista ambiental”, disse seu amigo, o reverendo Michael Weeder.
Isso porque esse procedimento é defendido por seus promotores como uma alternativa “mais ecológica” à cremação.
A técnica reduz os corpos a cinzas, como acontece durante uma cremação, mas sem a necessidade de combustão.
De acordo com a empresa britânica Resomation, uma “análise ambiental independente” mostrou que o uso de cremação de água em vez de chamas “reduziu as emissões de gases de efeito estufa de um funeral em cerca de 35%”.
Por sua vez, a empresa Bio-Response, especializada no processo nos Estados Unidos, indica que essa tecnologia reduz o uso de energia em “90% em relação à cremação com chamas”.
O nome científico do processo é hidrólise alcalina, que implica em pesar o corpo e esquentá-lo a 150°C em uma mistura de hidróxido de potássio e água por 90 minutos.
Isso faz com que o tecido corporal se dissolva, restando apenas os ossos, que são então enxaguados a 120°C, secos e pulverizados em uma máquina chamada cremulador.
Depois de concluídas todas essas etapas, os restos mortais podem ser enterrados ou espalhados segundo os desejos do morto, da mesma forma que aconteceria em uma cremação comum.
Alguns países
A técnica simula o processo de hidrólise alcalina que ocorre naturalmente quando um corpo se decompõe, só que neste caso a decomposição que ocorre em um período de até 20 anos ocorre em questão de poucas horas .
A aquamação existe há vários anos, mas apenas em alguns países.
Em 2014, Philip Olson, especialista em ética tecnológica da Virginia Tech University, nos Estados Unidos, escreveu um artigo na revista especializada Science, Technology, & Human Values falando sobre as vantagens do uso da técnica.
“Os defensores se concentram nos benefícios ambientais da hidrólise alcalina na cremação e no sepultamento, alinhando a tecnologia com o movimento de ‘sepultamento verde”.
Nos Estados Unidos, acrescentou Olson, o procedimento foi usado pela primeira vez na década de 1990 por pesquisadores do Albany Medical College que procuravam “uma maneira eficiente e barata de descartar restos de animais experimentais que continham radioisótopos de baixo nível”.
Em 2014, o procedimento era legal em oito estados dos Estados Unidos e, segundo o pesquisador, havia setores que se opunham fortemente a essa tecnologia.
*Fonte: BBC Brasil