O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) terá mudanças a partir de 2024, com opção de escolher uma área do conhecimento para a prova do segundo dia e também com questões discursivas. Em 2021, o Ministério da Educação (MEC) publicou a portaria n° 521 que instituiu o cronograma nacional de implementação do novo ensino médio. Consequentemente, pelas novas alterações na grade curricular dos alunos, o Enem também sofrerá alterações. A Gazeta do Povo conversou com especialistas para entender o impacto e as principais modificações no exame.
O coordenador-geral de Ensino Médio (COGEM) do MEC, Fernando Wirthmann, explicou que o novo formato do Enem só irá ser implementado a partir de 2024, com alterações feitas de forma gradual nos próximos dois anos. “Nesse ano de 2022, tivemos adesão da 1ª série no novo formato do ensino médio. Em 2023, será a 1ª e 2ª série. E 2024 todas as séries do ensino médio”, afirmou.
A Lei nº 13.415/2017 alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que estabeleceu uma mudança no ensino médio ampliando o tempo do estudante em sala de aula que antes era de 800 horas para 1.000 horas anuais. Os alunos também terão a possibilidade de escolher os “itinerários formativos”, ou seja, a grade horária pode ser alterada conforme a área do conhecimento e formação técnica que o estudante pretende aprofundar e prosseguir no futuro, em um possível curso superior.
Com isso, por essa ampliação na grade horária, o novo ensino médio está pensado para ser em tempo integral. “As escolas são totalmente livres para organizar a carga horária por ano (há vários modelos curriculares para isso) desde que atendam as diretrizes de 1.800 horas para a formação básica geral e 1.200 horas para os itinerários formativos. Tudo isso em 3 anos”, explicou o doutor em educação, Danilo Briskievicz.
Devido a essas modificações, apesar de continuar sendo em dois dias, no primeiro dia do Enem a prova irá abranger a formação geral básica, pautada nas competências e habilidades da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). No segundo dia de prova, o aluno poderá escolher entre quatro opções, com base na área que buscará se aprofundar em um curso superior: Linguagens; Matemática; Ciências da Natureza e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
O intuito é preparar o aluno para o ensino superior, pois ao saber o curso que deseja cursar na universidade, o estudante já pode focar nessa área de estudo no ensino médio. Embora o objetivo seja benéfico, há a possibilidade de o aluno se preparar ao longo de três anos para um determinado curso e por fim, no último ano, decidir ir para outra área diferente.
Questionado sobre isso, o coordenador-geral de Ensino Médio do MEC, Fernando Wirthmann, confirmou ser uma realidade possível. Ele comentou que os alunos de 15 e 16 anos estão em uma fase de autoconhecimento e planejamento sobre o futuro profissional. Dessa forma, Wirthmann destacou que em qualquer formato do ensino médio essas dúvidas e mudanças de curso superior pelos vestibulandos podem ocorrer.
O doutor em educação Danilo Briskievicz apontou que o desafio desse novo formato do ensino médio é que a qualidade do desenvolvimento das habilidades e competências seja o mais próximo da equidade. Ele criticou o fato de algumas escolas privadas insistirem na ideia de que o ensino médio é uma preparação para o Enem. “Quando de fato deviam se preocupar em preparar para a vida, para a socialização, para a democracia e especialmente para a vivência plena da cidadania. Essa ideia de ‘preparar para o Enem’ é estratégia pedagógica e comercial para as escolas particulares”. Apesar disso, ele também afirmou que outro desafio é que as escolas públicas consigam ofertar com qualidade esse novo formato para que os alunos consigam boas notas no Enem.
Além das mudanças na prova, a perspectiva é de inserção de questões dissertativas no exame. “No primeiro dia, a ideia é que tenha a redação e a inserção de outras questões discursivas e no segundo dia, um número maior de questões discursivas”, afirmou o coordenador-geral de Ensino Médio do MEC. Segundo ele, há um estudo em andamento no Inep para essas modificações, e também para uma evolução tecnológica para a correção da prova.