Ambas as opções têm vantagens e desvantagens; veja o que quatro especialistas destacam na hora de tomar a decisão
No Brasil, ainda vale a máxima de que “quem casa quer casa”, mas os especialistas são unânimes em afirmar que, se formos colocar na ponta do lápis, viver de aluguel é financeiramente mais vantajoso do que comprar um imóvel. Eles também ressaltam que a escolha entre comprar, financiar ou alugar um imóvel depende de circunstâncias financeiras e objetivos de cada um. Ambas as opções têm vantagens e desvantagens, e cabe a você avaliar qual delas é mais adequada para suas necessidades.
Professor de finanças da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, Fabio Gallo explica que, ao comprarem uma propriedade, as pessoas esquecem que estão fazendo um alto investimento.
“Você está colocando um dinheiro grande nessa história, está investindo, está imobilizando aquele capital. E, no caso do financiamento, você está pagando juros e, obviamente, vai pagar mais que o valor da casa”, analisa. “A grande diferença entre a compra do imóvel ou o aluguel é o custo do dinheiro. Mal comparando, resume-se à questão: quanto eu ganharia investindo esse dinheiro?”
O especialista, por outro lado, admite que essa decisão não é tomada levando em conta apenas o lado financeiro. “O brasileiro, de forma geral – mesmo nas gerações mais novas, que são menos apegadas à ideia de possuir uma propriedade ou um carro –, tem essa mentalidade de ‘eu quero ter uma família, quero ter a segurança de ter a minha casa e poder dizer que ela é minha’. Assim, a decisão adquire outros contornos. Matematicamente, porém, o aluguel seria a melhor opção”, avalia.
Quando vale a pena comprar um imóvel?
A economista Yolanda Fordelone, criadora do canal Econoweek, acredita que a decisão pela compra de um imóvel deve ser tomada dependendo do momento de vida da pessoa. Ela indica que o aluguel é benéfico para quem está no começo da vida, quando se tem muita incerteza sobre aspectos como carreira, renda e configuração familiar.
“Se estiver na fase inicial da vida, recém-casado, o aluguel traz mobilidade. Se mudar de emprego para outro bairro, estado ou mesmo país, não tem nada que te prenda ao lugar onde se está morando. Logo, no início da vida, a mobilidade é um grande ponto favorável para quem vive de aluguel”, observa.
Fordelone destaca que vale a pena considerar a compra de um imóvel quando a pessoa já está mais estabilizada, os filhos estão adaptados à escola ou há o desejo de morar perto dos pais. Milhares de motivos podem levar uma pessoa a querer comprar uma casa.
Nesse momento, é necessário considerar dois quesitos relacionados à área financeira. “O primeiro é a pessoa que já tem dinheiro para comprar a casa à vista. Principalmente nas grandes cidades, os imóveis custam caro. Em São Paulo, por exemplo, um pequeno empreendimento não sai por menos de R$ 500 mil e, se for maior, não fica abaixo de R$ 1 milhão. A renda passiva obtida por meio de uma aplicação financeira facilmente paga o valor de um aluguel”, pondera.
“Com R$ 1 milhão, você consegue uma renda de R$ 7 mil ou 8 mil líquidos, o que é mais do que suficiente para alugar um bom espaço em São Paulo e ainda sobrar dinheiro. Dessa maneira, você poderia comprar não apenas uma casa, mas uma casa e um patrimônio para investir em outras coisas, como formar uma reserva de emergência”, sugere.
Segundo a economista, outra situação mais comum refere-se a pessoas que não têm o dinheiro para comprar uma casa à vista e teriam que optar entre financiar ou alugar. “Ainda assim, vale a pena alugar, desde que se consiga economizar para, daqui a um tempo, dar uma entrada ou aumentar o valor da entrada na casa, eventualmente, até comprar à vista, se for um bom poupador”, pontua.
Para deixar mais claro, ela exemplifica com a escolha entre aluguel no valor de R$ 2 mil e financiamento em que a parcela do imóvel seria de R$ 3 mil. “Essa diferença de R$ 1 mil tem que ser economizada e investida para, daqui a um tempo, dar de entrada ou até comprar à vista. O grande problema é a consistência disso”, adverte.
“O risco é não guardar o dinheiro, morar de aluguel, não poupar e, quando chegar à velhice, ser obrigado a pagar um aluguel cada vez mais caro, porque os imóveis são caros, principalmente nas grandes cidades. Resultado: não vai ter reserva suficiente nem para comprar uma casa, muito menos para viver de renda passiva. Então, o esforço financeiro exige disciplina para que não se fique refém de um aluguel cada vez mais caro na velhice, quando será obrigado a sair do mercado de trabalho”, alerta.
Como última recomendação, Fordelone não aconselha as pessoas a contratarem financiamento agora, porque “não estamos em um bom momento, os juros estão altos”. Entretanto, se, mesmo assim, a opção for essa, também é necessário continuar a fazer o esforço da economia.
“Nos primeiros anos, basicamente se pagam os juros do financiamento. Quanto mais conseguir amortizar o valor dessa dívida, que está incorrendo juros, melhor. Se entrar um décimo terceiro ou conseguir uma renda extra, deve-se reservar esse dinheiro para quitar a parcela desse financiamento”, complementa. “Quanto mais se adiantar o pagamento e amortizar a dívida, menos vai pagar de juros.”
Quando vale a pena comprar um imóvel popular?
Já José Nicolau Pompeu, professor de finanças pessoais da PUC São Paulo, avalia que uma exceção aos juros altos dos financiamentos é comprar um imóvel popular. “São subsidiados pelo governo, que tem uma condição extremamente vantajosa oferecida pelo banco público, sob prazos longos e juros abaixo do que os bancos privados praticam no mercado. Isso possibilita que o valor da prestação fique inferior ao valor do aluguel”, revela.
No entanto, o professor lembra que os imóveis populares geralmente têm algumas restrições, como regras específicas em relação à revenda ou ao aluguel do imóvel, que podem limitar a flexibilidade do proprietário.
Além disso, alguns desses imóveis podem apresentar desafios em termos de manutenção e durabilidade, devido à qualidade inferior dos materiais utilizados na construção.
“A compra de um imóvel popular pode ser uma opção vantajosa para pessoas de baixa renda ou com orçamento mais limitado. Porém, é importante avaliar cuidadosamente as restrições e os desafios associados a esses imóveis antes de tomar uma decisão final”, reflete.
Morar de aluguel é melhor?
Já o criador do site de educação financeira Você Mais Rico e do curso Viver de Renda, Bruno Perini, é 100% do time “morar de aluguel é melhor”, mesmo depois de ter comprado uma casa há pouco tempo.
“Na minha opinião, morar de aluguel é melhor. Por mais que o metro quadrado do imóvel talvez venha a valorizar-se, eu poderia estar com o dinheiro da casa investido em títulos públicos hoje. Tem alguns que estão pagando 15% ao ano praticamente. E você está emprestando dinheiro para o governo, que é o tomador de recursos mais seguro que tem, porque, na pior das hipóteses, ele imprime dinheiro para te pagar. Isso vai gerar inflação, mas você recebe antes dos outros, pelo menos”, assinala.
“Mesmo assim, comprei uma casa, porque já tenho tanto dinheiro investido que o valor imobilizado não fará diferença na minha vida. Além disso, por mais que financeiramente não seja a melhor conduta, nem tudo é dinheiro na vida”, considera.
*Informações Portal Metrópoles.