A Prefeitura de Poços de Caldas anunciou no início da última semana que as tradicionais charretes de tração animal serão substituídas por carruagens elétricas. Este nova proposta tornou-se possível devido ao projeto de mobilidade elétrica já em andamento na cidade, o “Poços + Inteligente”.
O projeto é uma parceria entre o DME (Departamento Municipal de Eletricidade), Prefeitura Municipal, PUC Minas (Pontifícia Universidade Católica) e o IF Sul de Minas (Instituto Federal), com aprovação da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), e tem como objetivo fomentar a mobilidade elétrica, uma tendência mundial.
Em Poços de Caldas foram instalados três eletropostos de carregamento de carros elétricos, um na Fepasa (aberto ao público e gratuito), de carregamento rápido; outro na PUC, de carregamento médio; e outro no DME, de carregamento lento. Além disso foi adquirido um carro elétrico, e estão sendo desenvolvidas, em Itajubá, cerca de 30 bicicletas elétricas para posteriormente serem ofertadas como uma opção de locomoção na cidade.
Um veículo movido a eletricidade traz vários benefícios, como emitir menos poluentes, ser mais silencioso e também ter um consumo de energia mais eficiente. Os custos de abastecimento também são menores, assim como a manutenção.
De acordo com o gerente de Laboratório e coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento do DME, Anderson Muniz, se trata de um projeto grande e inovador envolvendo uma energia chamada fotovoltaica, que é obtida através da conversão direta da luz em eletricidade por meio do efeito fotovoltaico.
“Implantamos na PUC um super laboratório de qualidade de energia para estudar os carros elétricos e uma usina fotovoltaica com banco de baterias, então toda energia para abastecimento dos veículos elétricos será gerada lá e por isso não terá nenhum custo”.
Carruagens Elétricas
Com a inauguração do ‘Poços + Inteligente’, surgiu a ideia de aproveitar a estrutura já existente dos eletropostos, para então trocar as charretes tradicionais pelas elétricas.
“A partir do projeto em andamento o prefeito nos acionou pedindo para verificar a possibilidade de substituir as charretes por veículos elétricos. Fizemos a avaliação e vimos que seria possível agregá-la. Ainda vamos definir como será o modelo e o funcionamento, mas já estamos em processo avançado, com a parceria de empresas”, explicou Anderson Muniz.
Ainda de acordo com o DME, eles serão responsáveis pelo desenvolvimento da primeira carruagem, e a partir dela a Prefeitura deve adquirir outras, a quantidade depende do orçamento.
O prazo estipulado para a carruagem elétrica ser entregue é de menos de um ano, conforme anunciado na data de 4 de outubro, por isso o trabalho das instituições envolvidas será intenso durante este período. Segundo o professor e coordenador do centro de pesquisas da PUC Minas, Fabiano Costa, as carruagens serão um marco para a cidade.
“O projeto é um desafio bastante grande que extrapola a questão meramente tecnológica. Não basta montar um projeto de charrete que se mova por meio de um motor elétrico. É preciso que seja um produto que possa ser produzido em série para atender a demanda que temos. Além disso, a manutenção precisa ser simples para que os passeios turísticos realmente sejam viáveis.”
O que pensam os condutores de charretes
Por trás da inovação tecnológica proposta pela Prefeitura, há ainda uma questão social: como ficarão os 48 condutores de charretes registrados na cidade. De acordo com Francisco Carlos Rodrigues, presidente da Associação dos Condutores de Veículos de Tração Animal de Poços, a medida não foi bem aceita pela maioria dos charreteiros.
Segundo Francisco, a prefeitura fez uma reunião com a associação apenas depois do comunicado, e para ele há alguns quesitos que os preocupam quanto à mudança, já prevista para o ano que vem.
“A história das charretes em Poços é centenária, é um negócio familiar, algumas já estão na segunda ou terceira geração trabalhando com isso. A primeira coisa que preocupa é que todos nós temos mais de um cavalo, ao todo devem ser uns 150, não temos solução do que será feito com eles. O segundo ponto é que alguns charreteiros não dirigem, como vão guiar um carro elétrico desses? Fica difícil.”
Ele também contou que acredita que não serão produzidos carros elétricos para todos eles: “Temos quase 30 charretes registradas, será que vão substituir todas? Acho que não. Para fazermos uma mudança deste tamanho a prefeitura precisa nos dar estrutura.”
Por outro lado, apesar das preocupações, o presidente da associação contou que acredita que a medida pode ser positiva se for feita de forma organizada, principalmente em função do baixo custo que as carruagens teriam.
“As crianças adoram os cavalos, mas se essa carruagem aí for atrativa para os turistas, se eles receberem bem pode ser uma coisa boa para nós, ainda mais pensando no custo. Cuidar dos cavalos custa muito caro, alimentação, veterinário, vacina, ferradura, é um custo elevado, e parece que a carruagem seria melhor nessa parte.”