O enfraquecimento da moeda ocorre junto à alta inflação, que deve chegar a 70% no fim de 2022
A crise econômica que assola a Argentina torna o país latino-americano mais atrativo para turistas brasileiros. O principal motivo é a crescente desvalorização do peso em relação ao real, que, até esta terça-feira (19), acumulava 18% de perda do valor. O enfraquecimento da moeda ocorre junto à alta inflação, que deve chegar a 70% no fim de 2022, conforme previsões estatais.
Os fatores tornam a Argentina um dos poucos países onde brasileiros têm mais poder de compra. De acordo com levantamento divulgado pelo fórum “Panrotas”, a quantidade de turistas vindos do Brasil ultrapassou 2,5 milhões no primeiro semestre, e o público representa um em cada cinco visitantes internacionais. O número está 25% maior do que no mesmo período de 2019, antes da pandemia de Covid-19.
No balanço mais recente, R$ 1 equivale a cerca de 23,5 pesos. Há dez anos, quando estava estável, a diferença em relação ao real flutuava entre dois e três pesos. Apesar disso, a incerteza econômica torna a conversão ainda mais desigual e incerta. É possível trocar a moeda brasileira por até o dobro do valor oficial, mas há ampla inconsistência no câmbio.
“Troco os reais que transfiro do Brasil para a Western Union (rede de transferências internacionais), que paga muito melhor do que os cambistas. Chegamos a trocar R$ 1 por 55 pesos”, relata a relações-públicas Rebeca Pileggi, de 30 anos. “Viemos para ficar porque compensa a cotação. A vantagem é muito grande, não só de bens de consumo, mas no preço de aluguel, serviços públicos e em geral”, completa.
“Não sabemos realmente o valor, cada um coloca o seu preço”, explica Nilton Azevedo, 36 anos, engenheiro eletricista que viajava ao país. “Quando chegamos, a cotação estava a 51 (pesos por real); hoje, vimos a 56. Há preços diferentes entre os cambistas, o que faz a gente procurar o melhor valor”, acrescenta.
O argentino Francisco Urdinez, professor de Relações Internacionais da PUC Chile, explica que há, na Argentina, duas faixas de câmbio. A primeira é oficial, determinada pelo governo, e está no patamar de 100 pesos por dólar. A outra, conhecida como “dólar blue”, é estabelecida pelas flutuações de oferta e demanda da moeda.
Brasileiros que visitam o país trocam dólares ou reais com base na segunda medida de câmbio. “O que tem acontecido é que o ‘dólar blue’ tem perdido muito valor. Para turistas, isso torna os preços extremamente baratos”, pontua.
Em Buenos Aires, por exemplo, tem-se um ótimo jantar com 2,5 mil pesos (cerca de R$ 100). A diferença no bolso pesa muito entre quem tem reais ou dólares como “base” para a conversão, e quem recebe em pesos, conforme Urdinez.
O professor ressalta que a diferença entra as taxas de câmbio não é levada em consideração em gastos com cartão de crédito, que usam o dólar determinado oficialmente pelo governo argentino. Por isso, deve-se evitar usar a forma de pagamento.
*Fonte: O Tempo