“O momento exige grandeza política, espírito público e união. A política precisa enxergar as pessoas. Não vamos deixar ninguém para trás”, declarou o agora pessebista
O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, cotado para ser o vice na chapa encabeçada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais deste ano, anunciou hoje sua filiação ao PSB. O acordo foi fechado na semana passada. A filiação será oficializada na próxima quarta-feira, 23, em Brasília, às 10h, segundo a colunista Mônica Bergamo da Folha de S.Paulo.
O evento – que contará ainda com o ingresso de outras lideranças à sigla – está sendo formatado para apresentá-lo como um político progressista. Lula não confirmou presença, mas dirigentes pessebistas dizem que o presidenciável sinalizou que participará do ato. Entre as lideranças que vão dividir o palanque com Alckmin e também assinarão a filiação ao PSB estão o presidente da Aliança Nacional LGBTQIA+, Toni Reis; o vice-governador do Maranhão, Carlos Brandão, que deixou o PSDB; o advogado e influencer Augusto de Arruda Botelho; e o senador Dario Berger (SC), que deixou o MDB; além do núcleo de aliados mais próximos do ex-governador paulista. Em post nas redes sociais, Alckmin afirmou que o tempo da mudança chegou. Ele repetiu o mesmo mote da campanha do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e da ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em 2014: “Não vamos desistir do Brasil”. Campos morreu em acidente de avião durante a campanha eleitoral daquele ano.
“O momento exige grandeza política, espírito público e união. A política precisa enxergar as pessoas. Não vamos deixar ninguém para trás. Nosso trabalho para ajudar a construir um país mais justo e pronto para o enfrentamento dos desafios que estão postos está só começando”, declarou Alckmin.
Em janeiro, o ex-presidente Lula afirmou que sua exigência é que o vice “seja um contraponto” para ampliar o diálogo com outros setores da sociedade, incluindo o de empresários. A ideia do PSB e do PT é formar uma frente ampla para tentar derrotar o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), no primeiro turno do pleito. Ambos os partidos conversam com o PCdoB e o PV sobre a possibilidade da formação de uma federação partidária entre eles. Desta forma, as quatro siglas passariam a atuar de forma mais próxima e a reforçar com maior unidade a oposição contra Bolsonaro.
Atualmente, Lula aparece à frente de Bolsonaro nas principais pesquisas de intenção de voto. No entanto, os políticos sabem que as pesquisas só retratam um panorama do período em que são realizadas e nada está garantido. Conversas entre Lula e Alckmin As tratativas entre Lula e Alckmin acontecem desde, pelo menos, novembro do ano passado. Eles se encontraram publicamente em dezembro, durante um jantar em São Paulo. Os dois se cumprimentaram com um abraço e posaram para fotos de mãos dadas. Na ocasião, Lula voltou a afirmar que ofensas passadas e diferenças entre os dois devem ser vencidas.
Em dezembro, Alckmin se desfiliou do PSDB, onde construiu a carreira política e do qual fazia parte há 33 anos, e passou a discutir nos bastidores qual o melhor partido para se filiar mirando a chapa com o petista. Alckmin segue agora para uma legenda mais situada à esquerda no espectro político.
Lula e Alckmin foram adversários políticos. Além de conviverem como presidente e governador, respectivamente, foram concorrentes na eleição presidencial de 2006. O pleito foi vencido por Lula no segundo turno justamente contra o então tucano. Mas, hoje, o petista enxerga no ex-governador um político experiente, conciliador e que não vai arranjar problemas políticos para ele enquanto vice-presidente, se realmente formarem uma chapa e vencerem a disputa ao Planalto.
Há ainda resistência ao nome de Alckmin em um grupo do PT. No entanto, essa divergência não tende a atrapalhar os planos, afirmam políticos envolvidos com as negociações. O caso deve ser discutido novamente em reunião do diretório nacional do partido. Alckmin já disse que Lula mentia e foi chamado de ‘picolé de chuchu’ Lula e Alckmin têm um histórico de ataques que vão de “delegado de porta de cadeia” e “picolé de chuchu” até a comparação com um “ladrão de carros”.
Relembre abaixo o que Lula e Alckmin já disseram um sobre o outro:
Críticas que Alckmin já fez a Lula
Sem chance de aliança com o PT, em 2018
“Vou disputar e vencer o segundo turno, para recuperar os empregos que eles destruíram saqueando o Brasil. Jamais terão meu apoio para voltar à cena do crime. Seus apoiadores são aqueles que acampam em frente a uma penitenciária”, Geraldo Alckmin, em 2018, ao descartar aliança com o PT no segundo turno das eleições.
Lula quer voltar à cena do crime, em 2017
“Depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder. Ou seja, quer voltar à cena do crime. Será que os petistas merecem uma nova oportunidade? Fiquem certos de uma coisa, meus amigos: nós os derrotaremos nas urnas”, Geraldo Alckmin, em 2017, durante convenção do PSDB
Lula é o retrato do PT, partido sem limites, em 2016
“Eu acho que o Lula é o PT. O Lula é o retrato do PT, partido envolvido em corrupção, sem compromisso com as questões de natureza ética, sem limites”, Geraldo Alckmin, em 2016, ao comentar denúncias envolvendo Lula no caso do tríplex.
Críticas que Lula já fez a Alckmin
Delegado de porta de cadeia, em 2006
“Não pensei que estava na frente de um candidato. Pensei que estava na frente de um delegado de porta de cadeia”, Lula, em 2006, no dia seguinte ao debate, ao comentar a postura de seu adversário.
Alckmin só sabe vender coisas
“Só um maluco acha que pode realizar viagens internacionais com um avião de carreira. A única coisa que ele [Alckmin] sabe fazer é vender coisas. O PSDB não devia ter candidato a nada. Devia ser candidato a [dirigir] uma empresa de vender empresas estatais”, Lula, em 2006, ao dizer que ficou irritado com a “pequenez” de Alckmin que prometera vender o avião presidencial, o Aerolula, caso fosse eleito.
Picolé de chuchu, comida insossa, em 2014
“Não é à toa que esse governador tem apelido de picolé de chuchu porque é uma coisa insossa, como comida sem sal. Ele nunca fala nada grave do Estado. Se tem problema, é com o governo federal ou prefeitura”, Lula, em 2014, ao dizer que Alckmin não assumia responsabilidade pelos problemas de São Paulo.
Parece que mamou até os 14 anos
“Eu quando disputei a eleição com o Serra era uma coisa civilizada. Depois com o Alckmin não foi. Ele parece que mamou até os 14 anos”, Lula, em 2017.
*informações portal Uol com informação do Estadão Conteúdo