A Fundação Clóvis Salgado e o Instituto Moreira Salles realizam, a partir do dia 28 de outubro, próxima sexta-feira, a exposição Retratos de Limercy Forlin. A mostra, que ocupa a CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais até 4 de fevereiro de 2023, reúne aproximadamente 7.500 imagens em preto e branco tiradas pelo fotógrafo ao longo de sua carreira em Poços de Caldas. A mostra, que também conta com a parceria da Prefeitura, integra as comemorações dos 150 anos da cidade.
Limercy Forlin (1921-1986) comandou seu estúdio fotográfico na cidade de Poços de Caldas entre 1958 e 1982, passando pelas suas lentes desde políticos e figuras conhecidas da região até profissionais liberais, operários e imigrantes. Também foi em seu estabelecimento que muitas mulheres tiraram suas primeiras fotografias para as carteiras de trabalho.
Um recorte desse vasto acervo, testemunho da história dos habitantes da cidade, é apresentado na mostra. Com curadoria de Teodoro Stein Carvalho Dias, a mostra reúne imagens do acervo do fotógrafo, sob a guarda do IMS desde 2016. A maior parte dos retratos foi tirada para ilustrar documentos da população, como RG e carteira de trabalho.
Para Sérgio Rodrigo Reis, presidente da Fundação Clóvis Salgado, é um orgulho para a instituição abrir suas portas para as produções artísticas dessa magnitude feitas no interior de Minas Gerais. “Temos imensa honra em receber o acervo desse importante artista mineiro e disponibilizá-lo para o público que, certamente, irá se identificar com a história e evolução de cada retratado. Nessa exposição, Poços de Caldas é representada pelos rostos de diversos moradores, mostrando que a fotografia por ela mesma deve ter o seu valor artístico reconhecido. Essa é, também, uma grande oportunidade para que a capital do estado se conecte aos diferentes modos de fazer artístico que marcam a diversidade cultural de Minas Gerais”, destaca.
Sérgio também ressalta que a exposição Retratos de Limercy Forlin é mais um marco na parceria entre a Fundação Clóvis Salgado e o Instituto Moreira Sales, importante para a pesquisa, difusão e preservação da fotografia brasileira, assim como a celebração dos 150 anos de Poços de Caldas, que tem início com a exposição na CâmeraSete. “É um momento simbólico para a Fundação Clóvis Salgado celebrar o aniversário de Poços de Caldas em Belo Horizonte. As ações de difusão da FCS pelo interior também são fortalecidas quando abrimos as portas da instituição para todo o estado”, pontua.
Ministério do Turismo, Governo de Minas Gerais, Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, por meio da Fundação Clóvis Salgado e do Instituto Moreira Salles, apresentam a exposição Retratos de Limercy Forlin, que tem correalização da APPA – Arte e Cultura e patrocínio máster da Cemig, ArcellorMittal, AngloGold Ashanti e Usiminas, por meio das Leis Estadual e Federal de Incentivo à Cultura.
“Ocupar a CâmeraSete com uma exposição de Poços de Caldas no ano do sesquicentenário é uma imensa alegria. Alegria maior ainda que seja ‘Retratos de Limercy Forlin’, literalmente a nossa cara, exposição mais representativa sobre o nosso povo. A curadoria foi tremendamente feliz ao conduzir a mostra pelas datas de aniversário, o que nos faz construir uma relação de afeto e reconhecimento”, enfatiza o secretário municipal de Cultura de Poços de Caldas, Gustavo Dutra. “É realmente um presente do Instituto Moreira Salles e da Fundação Clóvis Salgado para a cidade nesses 150 anos estarmos no hipercentro da capital Belo Horizonte, no coração de Minas. Ao abrir as portas do Circuito Liberdade, a SECULT-MG recebe a cultura e a arte poços-caldense, fortalecendo e valorizando nosso sentimento de pertencimento, identidade e conexão”, completa.
A Fundação Clóvis Salgado é integrante do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult) que reúne diversos espaços com as mais variadas formas de manifestação de arte e de cultura em transversalidade com o turismo.
Linha do tempo
O estúdio foi fundado em 1945, ano em que Forlin chegou a Poços de Caldas. Nascido em 1921, numa família de imigrantes italianos, vivia na cidade vizinha de Vargem Grande do Sul. Com 24 anos, partiu para o novo destino, em busca de oportunidades econômicas. Na cidade, consolidou-se no ramo da fotografia, comandando o negócio junto com sua esposa, Zizi Forlin, por mais de 20 anos.
A exposição reproduz o método que Limercy e Zizi Forlin adotaram para arquivar seus negativos no estúdio. Com fins comerciais, o acervo era organizado a partir da data de aniversário dos clientes. Cada foto era colocada em um envelope, com o nome e o dia do nascimento do retratado. Os envelopes eram guardados em gavetas, subdivididas pelos meses e dias do ano, em ordem alfabética. Quando um cliente retornava para fazer um novo retrato, seu envelope era localizado pela data de aniversário, e o novo negativo era arquivado juntamente com os de fotografias anteriores. No acervo, há, assim, imagens de pessoas que Forlin retratou em momentos distintos da vida, da juventude à velhice.
Para conceber a mostra, o curador mergulhou no arquivo do fotógrafo e selecionou de 10 a 15 aniversariantes para cada dia do ano, em um período que vai de 1958 a 1982. Os retratos foram distribuídos nas paredes do IMS Poços, seguindo a lógica do calendário. Para cada dia do ano, há uma coluna com as imagens dos aniversariantes.
“Ainda que improvável, não é impossível que os habitantes da região que conviveram com o Estúdio Limercy se encontrem representados nessas colunas com um, dois, três ou até quatro retratos de épocas distintas, revelando assim uma linha do tempo emocionada que o fotógrafo, sem se dar conta, traçou”, afirma o curador.
Reinvenção econômica
Em conjunto, as imagens também apresentam um panorama das transformações econômicas e culturais que Forlin pôde acompanhar. Na década de 1940, quando o fotógrafo chegou a Poços de Caldas, a região passava por um momento de ruptura. Os cassinos, opção de lazer conhecida da cidade, haviam sido proibidos no Brasil. Outro fator determinante foi que, com os avanços da medicina e a ampliação do uso de antibióticos, os tratamentos nas águas termais, que atraíam inúmeros visitantes, passaram a ser menos procurados.
Nesse cenário, a economia local precisou se reinventar, com fontes de renda para além do turismo. Na década de 1970, Poços de Caldas passou por uma política de expansão, com a instalação de indústrias de médio e grande porte, que trouxeram uma nova mão de obra à cidade, desde estrangeiros, entre americanos, japoneses e franceses, até trabalhadores vindos das fazendas ao redor e de outras regiões do país.
Essa nova conjuntura também se reflete nas imagens da exposição, como reforça o curador: “De maneira sutil, essa mudança se faz sentir nos retratos de operários feitos por Limercy Forlin diretamente na fábrica, e num maior número de fotografias de mulheres, que trocam os porta-retratos pelas carteiras de um trabalho conquistado a partir dessa década”.
Das roupas aos penteados, da postura séria ao olhar descontraído, as imagens trazem sinais, vestígios de rupturas e continuidades. Em cartaz até 9 de janeiro, a exposição é também um convite aos habitantes de Poços de Caldas para relembrarem a história da cidade a partir dos rostos de quem a construiu e constrói diariamente.
Sobre o acervo de Limercy Forlin – Em 2016, quando o Estúdio Fotográfico Limercy encerrou suas atividades em Poços de Caldas, os herdeiros do fotógrafo doaram seu acervo de negativos ao IMS. A coleção é composta por cerca de 400 mil negativos, em preto e branco e cromos, que foram arquivados no estúdio entre 1958 e 2002.
RETRATOS DE LIMERCY FORLIN
Local: CâmeraSete – Casa de Fotografia de Minas Gerais
Endereço: Av. Afonso Pena, 737, Centro
Data: 28 de outubro de 2022 até 4 de fevereiro de 2023
Horário: de terça-feira a sábado, das 9h às 21h
Informações para o público: (31) 3236-7400.