Tradição de fé, especialmente em Minas Gerais, o Dia de Santa Cruz remonta à data em que a Cruz de Cristo teria sido encontrada
Amanheceu o Dia de Santa Cruz e mãos artesãs enfeitam de rosa e azul a Cruz, qual o manto de Nossa Senhora do Rosário, ornam de flores a capelinha. No entardecer, Poços de Caldas, município do Sul de Minas Gerais, já é a capital da cultura popular e tradicional de Minas Gerais, decretada pela força da fé, pelo secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira. No início da noite, o Dia Municipal dos Ternos de Congos é honraria unânime dos representantes do povo.
Da pequena capelinha emana uma energia imensa, que segue pelas ruas do bairro dos Funcionários e chega até o coração da cidade. É Dia de Santa Cruz e os congadeiros estão sem máscara, depois de dois anos. Vão rezar aos pés da cruz santa, agradecer pela vida que segue nas crianças que nasceram em 2020 e só agora ouvem com nitidez o som dos tambores que tanto dizem sobre elas. Não há ninguém que não agradeça pela vida que pulsa em Orlanda da Conceição, 94 anos, mestra de todos. Sobe a escadinha nos braços dos presentes, canta, reza e dança e, neste momento, não há cadeira de rodas.
Há dois anos que esses tambores esperam por esta batida sem medo, livre, forte e repleta de fé e devoção. A Capela de Santa Cruz já está aberta. É Dia de Santa Cruz, neste pedacinho mineiro da grande Vera Cruz, é Festa de São Benedito porque é maio em Poços de Caldas. Pelas ruas da cidade, seguem felizes os Ternos de Congos porque suas tradições venceram a pandemia. Descem as ruas com sua máxima força, os braços se movimentam em amplitude, balançando o ar, os pés tocam o chão tão rápido que fariam inveja aos colibris.
Pelo percurso, as janelas vão se abrindo e os sorrisos são maiores que as folhas escancaradas. Já descem aos portões, reúnem-se nas esquinas e, certamente, pensam que a vida de volta é bonita, é bonita e é bonita. Já vão chegando a rua Assis e os sinos da Basílica de Nossa Senhora da Saúde – de Saúde, sim – juntam-se ao ritmado de cada um dos Ternos de Congos e aos corações que seguem o cortejo. Vêm buscar a imagem de Nossa Senhora do Rosário, que também aguarda no andor.
Entram todos e são recebidos no altar principal, como há muito não havia, onde recebem as bênçãos do Padre Donizete de Brito e rezam todos juntos, por São Benedito, por Nossa Senhora do Rosário, pela saúde, pela fé e devoção do povo de Poços de Caldas. Dona Orlanda da Conceição, que é mestre de Cultura Popular pelo Ministério da Cultura, é agora só uma menina de 94 anos, capitaneando seu Terno de Santa Bárbara e São Jerônimo, a agradecer pela acolhida e a incluir cada um dos presentes em suas orações.
Benedito Luiz da Costa, Capitão Seu Ditinho do Terno Nossa Senhora do Rosário, também rezou. E com o marrom de suas fardas que lembram o hábito de Ifigênia, cantou o Paulo Sérgio, Paulinho do Terno de Santa Efigênia, para “Benedito amigo de Deus”, dono dos Congos.
Lá vai indo o andor de Nossa Senhora do Rosário, seguido pelo batuque dos Ternos de Congos. Vão pela Rio Grande do Sul, passam pela Praça dos Macacos, entram no sentido da Trincheira, já ansiosos por este retorno, que é reencontro, que é acolhida na casa do pai, que é chegada, que é abrigo na casa da mãe. Vêm vindo e o som dos tambores ocupa o lugar que é seu há mais cem anos, tradição preservada, devoção garantida. Na Praça Coronel Agostinho Junqueira, a Capela de São Benedito está aberta e festiva, com a Irmandade de São Benedito a esperar que entrem os congadeiros e ocupem o altar, já pequeno para tanta fé, tanta alegria, tanta música. Nossa Senhora do Rosário é coroada. Todos saem ao pátio, onde sobem os mastros e sobem os fogos, rumo ao céu de outono. É 3 de maio em Poços de Caldas.
Sobre o Dia de Santa Cruz
Tradição de fé, especialmente em Minas Gerais, o Dia de Santa Cruz remonta à data em que a Cruz de Cristo teria sido encontrada. Em diversos municípios mineiros, a herança cultural de enfeitar as cruzes permanece, especialmente nas cidades históricas.
No ano de 1895, Fernandes José Lopes pediu autorização para construir uma igreja dedicada à Santa Cruz no morro onde, tradicionalmente, havia peregrinações religiosas. A edificação da Capela de Santa Cruz seguiu uma tradição mineira e marcou o início de uma das mais significativas festas religiosas do município: a Festa de Santa Cruz, celebrada a 3 de maio pela Igreja Católica, mais tarde integrada à tradicional Festa de São Benedito.
Festa de São Benedito
Embora a Festa de São Benedito não esteja sendo realizada com as barracas de pratos típicos e doces, a programação cultural está mantida, assim como a programação religiosa, com trezena e missa até o dia 12, sempre às 19h, na Capela de São Benedito. Além disso, a Secretaria Municipal de Cultura preparou uma programação artística relacionada aos festejos de São Benedito. A programação completa está disponível no site da Prefeitura www.pocosdecaldas.mg.gov.br.
*informações Secom Prefeitura