Por Tiago Monteiro Tavares e João de Carvalho –
Em entrevista exclusiva ao Alô Poços Sérgio Azevedo, o primeiro prefeito reeleito da maior cidade do Sul de Minas, Poços de Caldas, fala sobre sua vida dentro da política, sua gestão e os novos projetos que estão sendo realizados em toda cidade, além de explicar o novo contrato emergencial com a empresa Circullare e a concessão dos pontos turístico da cidade à iniciativa privada.
Nascido em Volta Redonda, no Rio de Janeiro, o prefeito Sérgio Antônio Carvalho de Azevedo, tem 57 anos, namora a jornalista Elisangela Zanetti, tem dois filhos e é flamenguista. Sérgio, é formado em engenharia e pós-graduado em engenharia de segurança do trabalho. Ingressou na Prefeitura de Poços de Caldas em 1994, passando em primeiro lugar no concurso público. Lotado na Secretaria Municipal de Obras, prestou serviços ao DMAE durante dois anos (1998 e 1999).
Em 2002, começou a administrar a Coopoços, transformando-a numas das principais cooperativas de Minas Gerais. Foi reeleito presidente da cooperativa dos servidores quatro vezes. Entre 2005 e 2006, foi tesoureiro da Associação Atlética Caldense. Em 2015, foi eleito servidor padrão da Secretaria de Obras. Em 2016, foi eleito prefeito de Poços de Caldas e, em 2020, foi o primeiro prefeito reeleito na história da cidade.
“Estamos negociando com a empresa Circullare o valor do período emergencial, de forma que possa permanecer o subsídio, tendo um pequeno aumento e também podendo voltar todas as linhas, que está tendo bastante reclamação disso. É logico que não vai voltar tudo, porque não é mais como era antes”.
A entrevista foi dividida em dois blocos: o primeiro publicado nessa matéria e o segundo será amanhã (16). Confira:
Alô: Prefeito, como é estar à frente da principal prefeitura do sul de Minas e ser o primeiro prefeito reeleito na história da cidade?
Sérgio: Antes de mais nada é uma honra, não só ter sido eleito prefeito, mas por ter sido reeleito na cidade, em um lugar em que tinha um tabu que ninguém era reeleito, e a gente conseguiu quebrar isso e continuar nosso trabalho. Sendo muito importante isso, pois quatro anos são muito pouco e você ter a oportunidade de dar continuidade ao trabalho é bom para a cidade e Poços de Caldas ainda não tinha experimentado isso. Agora temos um prefeito e secretários muito mais experientes.
Pegamos a prefeitura em um momento muito difícil há cinco anos atrás, em Poços de Caldas e no Brasil. Tínhamos um déficit muito grande e, além disso, o governo anterior do estado segurava os impostos de todas as prefeituras. Poços sofria muito com isso, duplamente no início, depois o próprio Governo Federal começou a reter impostos nossos, do Fundo de Participação dos Municípios, por dívidas antigas da prefeitura. Com isso, 100 % dos nossos impostos ficavam retidos e no último ano, se não bastasse tudo isso, veio a pandemia. Mesmo assim conseguimos ir bem e a cidade continuou crescendo nesse período.
Poços de Caldas talvez seja a cidade que mais cresceu no Brasil, conforme a sua arrecadação e, agora, com 5 anos de gestão, mais que dobramos a nossa arrecadação. Isso dá uma média de 20 % ao ano, com uma inflação prevista de 3 %, a gente tem um crescimento constante. Por isso, a gente está começando a conseguir respirar e isso nos permite fazer esses investimentos todos que, quem anda pela cidade vê obra para todo lado, saúde também, educação, promoção social, DMAE, DME, todo mundo atravessando o melhor momento, graças a esse trabalho de trazer mais desenvolvimento para nossa cidade, mais indústrias vindo e o relacionamento com o governo de estado está muito bem. O governo do estado também fez um trabalho muito bem visto, isso atrai investimentos, sendo que muitos desses vem para Poços, que está crescendo bastante e nós estamos muito otimistas. Desejo que os próximos três anos sejam os nossos melhores anos para nossa cidade, depois de termos passado por quatro anos difíceis agora vamos para os quatro melhores.
“Tínhamos um déficit muito grande e, além disso, o governo anterior do estado segurava os impostos de todas as prefeituras. Poços sofria muito com isso, duplamente no início, depois o próprio Governo Federal começou a reter impostos nossos, do Fundo de Participação dos Municípios, por dívidas antigas da prefeitura”.
Alô: Qual foi a maior dificuldade que o senhor enfrentou desde que você assumiu a prefeitura?
Sérgio: Eu peguei uma cidade que não tinha nenhum equilíbrio financeiro, faltava no financeiro da prefeitura R$ 150 milhões. Eu não tinha, aliás tinha despesa, mas não tinha receita, a gente teve que cortar uma série de coisas, fazendo um trabalho de recuperação de impostos, mas sem aumentá-los, buscando novos investimentos e mantendo bom relacionamento com o governo do estado. Hoje, a gente conseguiu empresas para investir na cidade e isso foi melhorando a situação, mas isso, sem dúvida, foi o maior desafio. Hoje, conseguimos respirar. Quando cheguei estávamos na UTI, agora já saímos da UTI, estamos no quarto particular, aguardando ir para a casa. Ainda não estamos de alta, estamos quase, ainda vamos melhorar mais.
Alô: O que fez o senhor entrar na política e o que o motiva a continuar nela?
Sérgio: Eu não sou político, sou servidor de carreira, concursado na prefeitura há 28 anos. Eu tive uma experiência na nossa cooperativa de servidores, acabei ficando lá 16 anos, onde fui reeleito cinco vezes como presidente. Quando cheguei na cooperativa, ela estava quebrada também e ia fechar as portas. Acabei entrando no momento que eu nem queria, fui colocado lá, sem eu pedir. Quando fui ver já era diretor, acabei ficando e fui gostando e nós conseguimos arrumar as coisas lá. Hoje, é uma das melhores cooperativas do Brasil. E aí com esse trabalho o pessoal começou a falar por que eu não saía candidato a prefeito. Acabei saindo e ganhei a primeira, mesmo com toda dificuldade, conseguimos ganhar também na segunda. O que me motivou a ficar? A paixão pela cidade! Financeiramente não me atrai muito, como engenheiro ganho muito mais do que hoje como prefeito. Assim, foi muito difícil passar esse primeiro mandato sem dinheiro no caixa da prefeitura e hoje estar realizando as coisas na cidade é muito compensatório, estamos fazendo obras em toda cidade e um tanto de coisa nova que vem por aí. Hoje, a Prefeitura é totalmente viável e vai conseguir começar a voltar a investir novamente. Mas eu continuo sem ser político. Eu continuo sendo engenheiro que, por acaso, está como Prefeito.
Alô: Em sua primeira gestão, o senhor teve que lidar com a pandemia, falta de leitos hospitalares, alta demanda, como foi administrar essa crise? O Senhor acredita que essa fase ruim já passou?
Sérgio: A Secretaria de Saúde trabalhou muito, a gente sempre envolvido em todas as decisões tomadas em conjunto, muita das vezes decisões difíceis, né? Porque às vezes prejudicavam um tanto de gente, mas fazer um Hospital de campanha no início da pandemia, quando nem precisava dele, foi muito bom, porque quando a população precisou, ele estava pontinho lá e não teve nenhum paciente de Poços que teve que ir para algum leito de covid fora da cidade. Conseguimos atender todos, aliás, nós é que recebemos pacientes de fora, alguns de cidades grandes, como Juiz de fora e Governador Valadares. Graças a Deus trabalhando a gente saiu na frente, sempre tomando decisões que, as vezes, desagradaram alguns, mas que eram necessárias.
“Hoje o transporte coletivo está passando por um momento muito delicado, não apenas em Poços, mas em todo Brasil. Praticamente o transporte público vem se tornando um transporte quase inviável, perto dos modelos que eram antes”.
Alô: Na semana que vem acaba o contrato emergencial com a empresa Circullare. Esse contrato será renovado? Isso vai gerar aumento na tarifa do transporte público? Uma nova licitação está descartada?
Sérgio: Hoje o transporte coletivo está passando por um momento muito delicado, não apenas em Poços, mas em todo Brasil. Praticamente o transporte público vem se tornando um transporte quase inviável, perto dos modelos que eram antes. Hoje, você tem alguma concorrência, como moto-taxi, Uber, vans, bicicletas, enfim, a pessoa vai buscando outras formas de transporte. Como o número de usuários do transporte coletivo está cada vez menor, automaticamente leva a uma revisão de Tarifa. O que seria essa revisão de tarifa?
Quanto mais passageiros, menor é o valor da tarifa, quanto menor o número de passageiros, maior será a tarifa. Em Poços, o número de passageiros caiu, quase não tinha como manter o funcionamento do transporte público. Aqui a gente conseguiu manter com muita dificuldade. Quando estava preparando a licitação de mudança de empresa, veio a pandemia e ficou ainda mais difícil, então fizemos um contrato emergencial. Agora, nós já temos a empresa ganhadora, mas não vai dar tempo dela assumir, porque o contrato emergencial acaba na semana que vem e ela não teve tempo ainda de se preparar para assumir, por diversas razoes, como por exemplo, ter condições de comprar ônibus novos, porque não há disponibilidade no mercado e não estão nem entregando.
A nova empresa não tem como começar do jeito que foi planejado, porque o número de passageiros hoje é a metade. Então, somos obrigados a fazer um novo contrato emergencial, para passar por esse momento de dificuldade, até que a empresa possa assumir e voltar gradativamente o transporte público. Antes, a gente tinha 1 milhão e duzentos mil passageiros/mês, hoje temos 600 mil, ou seja, praticamente 55% de passageiros a menos.
Um sistema totalmente desequilibrado e que conseguimos manter uma tarifa mais baixa, menos do que o subsídio e, nesse período, temos outro porém: o aumento do diesel que foi muito alto. Este ano passou de 50 %, a gente que abastece o carro sabe, o preço da gasolina subiu, antes com R$ 100 reais você quase enchia o tanque. Hoje com R$ 100 não enche nem a metade. Esse é o custo principal do transporte público, deixa o sistema ainda mais desequilibrado, diesel alto e falta de passageiros.
Estamos negociando com a empresa Circullare o valor do período emergencial, de forma que possa permanecer o subsídio, tendo um pequeno aumento e também podendo voltar todas as linhas, que está tendo bastante reclamação disso. É logico que não vai voltar tudo, porque não é mais como era antes. Um dos motivos da diminuição de passageiros foi que muita gente ficou desempregada, mas se Deus quiser vão voltar ao emprego. Hoje, a cidade é a que mais gera empregos em todo sul de Minas. Novamente, esperamos que nos próximos seis meses, um ano, que o transporte público possa se normalizar, e a empresa que assumir, possa chegar em uma situação diferente, com a normalização do número de passageiros, poderá prestar um serviço de qualidade, igual foi o da Circullare nesses últimos 15 anos.