Por P.A. Ferreira e Tiago Monteiro Tavares.
Luzia Teixeira Martins, a vereadora Luzia Martins do PDT, em seu primeiro mandato, eleita em outubro de 2020 com 604 votos, é a nossa personagem do “Entrevista Exclusiva” desta segunda-feira, 21. Em entrevista ao Alô Poços ela fala do primeiro mandato, as expectativas para o segundo ano da legislatura, avalia os Executivos Municipal, Estadual e Federal e seus projetos para a cidade.
Nascida em 1960, filha do empresário Geraldo Martins Costa, é mãe e avó. A vereadora é graduada em Psicologia, pós-graduada em Psicologia Organizacional e do Trabalho, é mestre em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida, possui formação em Psicanálise e atuou como docente do Curso de Psicologia da Faculdade Pitágoras no período de 2013 a 2020.
Sua vida é norteada em ações na área social desde a década de 90, além de trazer em seu currículo o desempenho como secretária Municipal de Promoção Social de Poços de Caldas de janeiro de 2017 a março de 2020, durante o primeiro mandato do atual prefeito Sérgio Azevedo (PSDB).
Alô Poços – Vereadora, como a senhora entrou para a política e o que lhe motiva a seguir nela?
Luzia Martins – Eu sempre militei, eu digo que eu sempre fiz política sem estar como integrante da política. Nunca fui filiada a nenhum partido, a não ser pelo meu irmão [Laércio Martins – empresário e ex-presidente da Caldense] que uma vez me filiou ao PMDB, mas, foi por ele mesmo, na época ele coletou alguns filiados.
Eu sempre atuei, militei mais enquanto promoção social, ação social mesmo. Mas, em 2016, fui convidada pelo Flávio Faria, então vice-prefeito do Sérgio [Azevedo, atual prefeito], para compor a pasta, para ser gestora da pasta da Promoção Social.
Inicialmente eu neguei, achei que não era o que eu gostaria para a minha vida. Depois, em conversa com alguns amigos e dizendo da importância da gente realmente atuar na política, eu reconsiderei, me coloquei à disposição e trabalhei na pasta da Promoção Social.
Não foi um trabalho fácil. É uma das pastas mais difíceis e eu tive muitas dificuldades com o Legislativo da época. Eu percebia que nenhum deles conhecia o trabalho realizado pela Política Nacional de Assistência Social. Então, esse foi um dos motivos que me provocou a importância de participar da política.
Na época para me candidatar eu optei por não ficar com nenhum dos dois partidos, nem com o do Sérgio [PSDB], então prefeito, e nem com o do vice-prefeito, Flávio Faria [Rede], fiz a minha escolha mediante alguns amigos que participavam do PDT, mediante algumas pessoas que eu conheci e eram filiadas ao PDT. Então, eu optei pela legenda pela minha afinidade com a proposta deste partido e, principalmente, o que eu tenho como exemplo que é o Leonel Brizola.
Alô Poços – Primeiro mandato como vereadora, a senhora está conseguindo colocar seus projetos em prática? Como está sendo ser vereadora?
Luzia Martins – Eu confesso que estar vereadora para mim é um desafio muito grande porque eu sempre gostei de executar, sempre fui da prática. Então, agora, no segundo ano de mandato, eu percebo que não sofro com isso.
Faço o diagnóstico, escuto a população e apresento, ou por meio de Indicação, trabalho muito com a questão da fiscalização, que esse é o nosso principal papel, e aí elaboro os Requerimentos, procuro estudar os temas para não fazer Requerimentos vazios, sem conteúdo.
Eu gosto que venham as respostas que realmente me satisfaçam naquela pergunta. Então, para isso eu tenho que saber fazer perguntas. Confesso que nos primeiros Requerimentos eu fiquei muito decepcionada com as respostas e aí eu resolvi melhorar as perguntas para que essas respostas viessem à altura do que estou perguntando.
Legislar, muitas vezes nos dá a sensação de impotência, porque você fica reclamando, reclamando. A impressão que eu, como mulher, na vivência de mulher, tenho é que às vezes você está falando com um filho teimoso, tentando explicar como que é, o que é, como tem que fazer. Mas, nós vamos sempre ouvindo o que a população precisa, de maneira incansável, para que a gente obtenha, do Executivo, uma resposta para o que a população está querendo, e outra coisa, quando eu percebo que eu posso fazer alguma coisa, provocar em algum lugar, tentar fomentar de alguma forma, eu faço também, para que o Executivo realmente cumpra o papel dele.
“Eu acho que o Executivo tem a responsabilidade agora de finalizar com esses contratos emergenciais, de colocar em prática o trabalho pela Floramar que já está pactuado, já está correto e aí, sim, a gente possa pensar em diminuir esse preço da passagem, em fazer o subsídio”.
Vereadora Luzia Martins (PDT).
Alô Poços – Vereadora, o transporte público tem sido grande preocupação e motivo de muitas críticas. Também há muita controvérsia na manutenção da prestação do serviço emergencial pela empresa Circullare ao passo que a empresa Floramar já deveria ter começado a operar na cidade. Como a senhora avalia a situação do transporte público em Poços de Caldas, o valor da tarifa e qual sua sugestão para resolver o problema?
Luzia Martins – É um problema muito sério que nós estamos tendo em Poços. Não justifica, para mim, quando diz que no Brasil todo está acontecendo dessa forma, que não tem mais empresas. Isso não justifica. Nós estamos aí com a empresa que já venceu o processo licitatório. Foi um processo longo, cheio de detalhes, contrato já está pronto, parece que a ordem de serviço também já está pronta.
Então, no quarto contrato emergencial foi pago o subsídio que nós aprovamos no pacote que tivemos aqui junto com a merenda escolar e também junto com o auxílio emergencial. E o que me causou muita estranheza é que mesmo com subsídio a qualidade do transporte continuou na mesma. Quando iniciou a pandemia diminuiu a circulação dos ônibus, diminuiu os horários, diminuiu o número de ônibus e voltou tudo ao normal [para os trabalhadores], 100% pessoas estão saindo para trabalhar, as pessoas estão indo pra escola, e não houve avanços nessa prestação de serviço de transporte.
Então, “ah, porque a pandemia diminuiu o número de passageiros”, mas, se não voltar o número de ônibus como é que os passageiros vão, porque os passageiros estão indo e vindo todos, 100%. Então, isso é muito sério.
Quando votei contra o subsídio [dezembro do ano passado], não foi porque eu acho que não deva ter, eu acho que deva ter subsídio, que isso vai diminuir o preço da passagem, mas eu voltei contra o subsídio para um serviço em novo contrato emergencial, o quinto contato.
Então, foi essa a lógica. Eu acho que o Executivo tem a responsabilidade agora de finalizar com esses contratos emergenciais, de colocar em prática o trabalho pela Floramar que já está pactuado, já está correto e aí, sim, a gente possa pensar em diminuir esse preço da passagem, em fazer o subsídio. Parece que o Senado, agora, aprovou a lei que favorece os municípios com esse subsídio por conta da gratuidade dos idosos. Então, acho que a gente tem que pensar, mas, tem que pensar já com o novo. Já sabemos que remendo em pano velho não dá certo. Acho que a gente tem que ter responsabilidade com isso para melhorar para a população.
Eu estou sabendo, inclusive preciso me certificar, mas chegou pra mim a denúncia de que os alunos que estudam a noite no Colégio Municipal, não estão tendo ônibus pra ir pra casa, porque parece que os ônibus estão parando antes do término das aulas. Então, como que eles vão à escola?
“Eu espero que, de fato, algumas coisas aconteçam, que sejam executadas. Vou continuar cobrando. Espero que o transporte melhore e que ele [prefeito Sérgio Azevedo] cumpra com a questão do estudo técnico para o novo Plano Diretor. Espero que os recursos que tem nos Fundos [Municipais] sejam utilizados nas políticas públicas para tal. Espero que o estudo da mobilidade urbana seja concluído, a ciclovia seja concluída”.
Luzia Martins, vereadora.
Alô Poços – Como é sua relação com o prefeito e, na sua visão, o que esperar dessa administração?
Luzia Martins – Política para mim é a arte de conseguir articular com os vários atores. Não adianta eu chegar aqui e ficar falando mal, atacando. Eu acho que nós precisamos aprender a conversar, porque no diálogo que surgem as soluções para os problemas.
A minha maneira de pensar, ela é independente e eu atuo aqui de forma independente. Eu coloco aquilo que eu penso que é ruim, que é bom, e o que é bom eu tento dialogar com todos os atores, sejam quais forem, porque eu não posso agir de maneira infantil e ficar de briguinha porque isso não vai chegar a lugar nenhum. Então, eu tento me relacionar de forma responsável com todos, não sou de ficar batendo palmas nem para um lado e nem para outro, mas, eu gosto de que as responsabilidades sejam realmente cumpridas, tanto de um quanto de outro.
Eu espero que, de fato, algumas coisas aconteçam, que sejam executadas. Vou continuar cobrando. Espero que o transporte melhore e que ele [prefeito Sérgio Azevedo] cumpra com a questão do estudo técnico para o novo Plano Diretor. Espero que os recursos que tem nos Fundos [Municipais] sejam utilizados nas políticas públicas para tal. Espero que o estudo da mobilidade urbana seja concluído, a ciclovia seja concluída.
Muitas vezes eu acho que falta muito diálogo com a população, não diálogo de eu falo e vocês obedecem. Acho que falta diálogo de aprender a ouvir o outro. Nós não somos donos da verdade, nós construímos a verdade juntos, porque tem vários pontos de vista.
Eu acho que política é isso, porque senão vamos viver eternamente isso que nós estamos vivendo e aí eu fico preocupada, porque eu penso, o que é verdade? O que é mentira?
Alô Poços – A Rodovia Geraldo Martins Costa, Rodovia do Contorno (LMG-877), que traz o nome do pai da senhora, é de responsabilidade do governo estadual, tem registrado inúmeros acidentes e é motivo de muitas críticas e reclamações. A senhora, juntamente com os demais vereadores, já tentou intervir junto ao governo Zema para que este problema seja resolvido? Como está sua articulação junto ao Estado para que os problemas sejam sanados?
Luzia Martins – Eu fico muito preocupada com essa forma de gestão. A rodovia, uma rodovia de grande fluxo de veículos pesados, é uma rodovia perigosa, estava de forma lamentável.
A queixa era por conta disso, todos nós cobramos muito e foi divulgado que iria ser restaurada e quando faz o trabalho foi aquela qualidade que nós vimos, que o asfalto desmanchava e quando vai cobrar para que faça direito aquilo que foi pago, eles simplesmente tiram aquele asfalto e ficou perigoso do mesmo jeito.
Então, isso me deixa muito entediada, porque se pagou por um serviço porque estava precisando serviço. Faz um serviço ruim, vai arrumar, piora mais ainda e aí vai responsabilizar quem sempre que cobra, e nós cobramos muito DER [DER-MG], nós cobramos muito governo do Estado, nós fizemos Moção para o prefeito cobrar o governo do Estado. Todos os vereadores, todos eles muito preocupado, porque houve muitos acidentes em função disso, e no fim fica do mesmo jeito. Então, isso é me causa muita de estranheza e serviço público não pode assim.
Eu venho da área privada, seu entrego um serviço ruim eu tenho que dar garantias disso, então eu não sei o que falta a fazer. Acho interessante quando fala que tem que cobrar as autoridades. Eu acho que essa empresa tinha que ser responsabilizada pelo serviço, deve ser multada, deve fazer de maneira correta, ser responsabilizada e punida pelo que ela fez para que outros não venham a fazer a mesma coisa.
Alô Poços – O seu mandato está voltado para uma região da cidade em especial? Quais benefícios e melhorias já foram alcançados para a população e quais projetos estão em andamento?
Luzia Martins – O meu mandato, como sempre atuei na área social e ela permeia Saúde, Educação, Cultura, Esporte, moradia, trabalho e renda, então, todas as minhas ações eu tento, com isso, abarcar que todas as pessoas tenham qualidade de vida, que nós tenhamos uma sociedade mais justa, mais equânime, pensando na raiz do problema.
Tenho um enfoque muito grande na questão da criança e do adolescente porque eu acho que é ali que a gente tem que investir na Educação. Então, os projetos eles vêm buscando aí, principalmente as indicações, porque a gente diz, temos projetos de lei na proteção da mulher também, mas se nós conseguirmos mudar a condição de vida das crianças e adolescentes, pensando no seu desenvolvimento com qualidade de vida, nós vamos conseguir obter, lá na frente, uma sociedade mais justa.
Um dos projetos de lei que nós estamos até agora estudando a aplicabilidade da lei, que multa os agressores quanto às mulheres, que eles paguem uma multa administrativa, porque responsabiliza ele [agressor] pelos danos causados, a despesa que é provocada com isso e com isso possamos fortalecer as políticas públicas desenvolvidas com as mulheres.
Outro projeto prevê a divulgação do imposto de renda solidário que objetiva reter 3% tanto para a criança e o adolescente quanto para o idoso e esse recurso que fica no Município pode ser desenvolvido com projetos para criança e adolescente e também para idosos, Tem o projeto de lei da ciclovia, que vem trabalhar a questão da mobilidade urbana nas mesmas condições para todos, para que as pessoas não precisem depender tanto do transporte público, que possam optar por outro meio de transporte, mas, que ela possa fazer com segurança e com responsabilidade.
Tem um anteprojeto de lei muito importante, que não retornou a Casa, foi feito no início do meu mandato, que é a economia solidária. Nós precisamos também apostar que existe outras formas de fazer, de garantir trabalho e renda, não necessariamente do formal, mas, aquilo que lhe traz prazer e que ela possa fazer. Temos que pensar em políticas públicas que venham a favorecer esse nicho de trabalhadores. Esses projetos, agora, esse ano quero focar para que o Executivo possa manda-lo de volta enquanto projeto de lei.
Alô Poços – Qual a sua avaliação em relação à gestão do prefeito Sérgio Azevedo, do governador Romeu Zema e do presidente Bolsonaro?
Luzia Martins – Vou começar de cima para baixo.
Do presidente realmente, cada dia gente só não se decepciona porque a gente não esperava grande coisa. Mas, a gente fica impactada com a questão, principalmente, do negacionismo, da falta de responsabilidade com as políticas públicas inerentes à Educação, Saúde, Cultura, são ações que ele traz que gera até certo mal-estar.
Brasileiro não precisava passar por isso. Por muito menos fizeram o impeachment de outros e esse se mantém no lugar. Acho que é pra ver até onde a gente aguenta. Isso é decepcionante.
Do governo de Minas, nós tivemos um governo anterior que deixou muito a desejar, principalmente para o município de Poços, com irresponsabilidades mediante a transferência de recursos e outros tantos, então, eu vejo que o governador atual pelo menos tem feito alguma coisa. Não tenho o que falar nem bem nem mal. Para mim eu acho que está melhor que o federal.
Do governo municipal, tenho como princípio, enquanto pessoa, de que eu estou junto para colaborar pelo desenvolvimento da cidade, mas, eu acho que ele tem que atender a todas as lacunas que que eu citei anteriormente, que é a conclusão de ciclovia, que é a conclusão da mobilidade urbana, do transporte público, as escolas precisam todas estar em condições de receber os alunos. Então, é meu papel fiscalizar e cobrar. Se meu julgamento fosse algo que acrescentasse alguma coisa, eu faria, mas não vai ser isso que vai acrescentar em nada para a população. Eu prefiro cobrar, fiscalizar, do que despejar o rosário de críticas e de que não vão acrescenta em nada para população.
“Não sou candidata, já me basta essa experiência que estou tendo, acho que estou aprendendo demais. Eu acredito que “Poços” poderia sentar à mesa, todos os pretensos candidatos, dialogar e tentar eleger um nome para que nós obtivéssemos êxito e ter um representante tanto no Estado quanto federal”.
Luzia Martins, vereadora (PDT).
Alô Poços – A senhora pensa em se candidatar a deputada neste ano ou já tem candidato para essas eleições? Qual recado gostaria deixar a população de Poços de Caldas e do Sul de Minas para as eleições?
Luzia Martins – Não sou candidata, já me basta essa experiência que estou tendo, acho que estou aprendendo demais. Eu acredito que “Poços” poderia sentar à mesa, todos os pretensos candidatos, dialogar e tentar eleger um nome para que nós obtivéssemos êxito e ter um representante tanto no Estado quanto federal.
Eu, até e em consonância com o presidente do partido, do PDT, ele teve uma ideia, eu achei fantástica e queria levar adiante, que era fazer aqui na Câmara, uma homenagem aos nossos ex-deputados, de Poços de Caldas, que representaram tanto na esfera estadual quanto federal. Nós tivemos poucos e esses poucos conseguiram acrescentar algo politicamente, mas, não foi possível fazer por ser ano eleitoral. Estou levantando o acervo e terminando nas eleições quero fazer essa reflexão junto a todos… Poços está precisando muito de um representante nas esferas estadual e federal e que a gente possa ter acesso em prol da nossa população.