No meio político é comum a percepção dos estragos que uma CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito – pode causar, tanto que não é à toa que costuma-se dizer: “Todo mundo sabe como começa, mas ninguém sabe como termina”!
Por isso, todos os governos fazem de tudo para que as CPI’s não sejam instaladas.
Quando se rompe essa barreira, faz-se necessário uma verdadeira força tarefa por parte do governo para conter as crises e revelações que podem surgir dos depoimentos de pessoas que, pressionadas, acabam não sustentando a versão que reforça a tese do governo de que não cabe investigação sobre o assunto.
Com a CPI da Pandemia não tem sido diferente! Comandada pelo senador Omar Aziz (PSD/AM) e pelo senador Renan Calheiros (MDB/AL), além de integrantes da oposição como os senadores Randolfe Rodrigues (Rede/AP), Fabiano Contarato (Rede/ES), Humberto Costa (PT/PE) e Otto Alencar (PSD/BA), a Comissão conseguiu avançar e chegar a um ponto mais que preocupante para o governo Bolsonaro.
O colegiado já colheu depoimentos e documentos que revelaram alguns pontos que demonstram a negligência do governo diante à Pandemia, entre elas: o desinteresse pela compra da vacina da Pfizer, a aposta em medicamentos de ineficácia comprovada contra o novo coronavírus, a existência de um gabinete paralelo ao Ministério da Saúde para orientar o Presidente da República, que pregou contra a vacina, o distanciamento social e às recomendações sanitárias baseadas na ciência e no que já se sabe do Covid-19 no mundo.
Diante a todos esses fatos, não havia, ainda, nada que comprometesse diretamente o mandato de Bolsonaro.
Agora, chegamos, talvez, ao ponto mais importante da CPI, o pedido de propina de U$$ 1,00 (um dólar) por vacina pelo então diretor do Ministério da Saúde, Roberto Dias, exonerado um dia depois e revelado pelos irmãos Miranda, Luis Ricardo Miranda, servidor da pasta e Luiz Miranda, deputado federal pelo Democratas do Distrito Federal.
Esse fato atingiu em cheio o governo e o próprio presidente Jair Bolsonaro, uma vez que os irmãos Miranda se reuniram com o presidente para alertá-lo sobre a corrupção na compra da vacina indiana Covaxin, por 1,6 bilhão de reais.
Tudo isso foi descoberto após as quebras de sigilo do empresário Francisco Emerson Maximiano e de sua empresa Precisa Medicamentos, que intermediou a compra de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin.
O governo tem dado, cada dia mais, espaço para os intermediadores juntos às contratações emergenciais durante a Pandemia. Prova disso foi o policial militar de Minas Gerais, Luiz Paulo Dominguetti, que fazia “bico” vendendo produtos médicos e farmacêuticos, representante da empresa Davati Medical Supply.
As acusações de Dominguetti aos irmãos Miranda que, segundo Dominguetti, teriam procurado a empresa para comprar a vacina, complicou ainda mais a situação do governo, que agora ficou refém do possível áudio dos irmãos Miranda na reunião com Bolsonaro.
Essa é a carta na manga dos Miranda que, uma vez lançada à CPI, pode comprovar que Bolsonaro sabia do esquema e não agiu para contê-lo, pois o líder de seu governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP/), é quem liderava esse esquema.
Barros foi ministro da saúde do ex-presidente Lula e integra a cúpula do Progressistas, comandado pelo senador Ciro Nogueira (PP/PI), que vem comandando também o Centrão e dando sustentação ao governo Bolsonaro no Congresso Nacional.
Se isso se comprovar, será difícil para o governo Bolsonaro segurar o estrago, pois derruba o pilar mais sólido, até então, de seu governo: a ausência de grandes casos de corrupção.
Não bastando tudo isso, a CPI encontrou indícios de ligações entre o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos/RJ) e empresários com contratos macabros junto ao governo federal.
Mais uma vez, em uma CPI… “Todo mundo sabe como começa, mas ninguém sabe como termina”!
É aguardar para ver as cenas dos próximos episódios!