População comemora obra que vai levar alívio para quem enfrenta dificuldade no acesso aos serviços de saúde, educação e segurança
A substituição do uso de balsas e barcos pela travessia por uma ponte com pouco mais de um quilômetro de extensão traz esperança de progresso e mais qualidade de vida aos moradores da cidade de São Francisco, localizada no Norte de Minas, às margens do rio que batizou a cidade.
É sobre o rio São Francisco que passará a ponte de 1.120 metros de extensão, uma das maiores do estado, no acesso ao município de Pintópolis pela rodovia MG-402. À medida que as equipes do Departamento de Edificação e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) fazem a sondagem do terreno na área, iniciam as escavações do aterro e a regularização do solo de acesso ao areal, a população local e os motoristas passam a vislumbrar a obra aguardada há 70 anos e as mudanças que serão proporcionadas pela nova ligação entre os dois lados do rio.
Despesa
Hoje, quem pretende passar de um lado ao outro do Velho Chico recorre a embarcações, como no caso de professoras e alunos que precisam atravessar de barco para ir e voltar a uma escola ribeirinha, e pagar até R$ 100 mensais por pessoa. Já os motoristas que precisam atravessar o rio pela balsa pagam R$ 5, R$ 15, R$ 70 ou, às vezes, até R$ 400 por travessia, dependendo da dimensão do veículo.
A opção pela balsa acaba onerando quem transita pela região, como é o caso do caminhoneiro Antônio da Silva Oliveira. Nascido no Espírito Santo, ele passou pela primeira vez pelo local para transportar caixas d’água até Pintópolis e lamentou o alto custo da travessia.
“Há alguns dias, já gastei R$ 100 para ir e voltar de balsa em São Romão. Agora vou gastar R$ 130 para ir e voltar aqui (São Francisco). Acaba pesando no bolso”, afirma, relatando também a espera pelo embarque como obstáculo. “Ficamos parados muito tempo esperando. Para quem está na correria como eu, acaba atrasando”, diz.
Morador de Brasília de Minas, o também caminhoneiro Amílcar Antunes Pereira fica de segunda a sexta-feira em São Francisco, de onde faz o transporte de brita para os municípios de Pintópolis e Urucuia. O maior problema, para ele, também são os atrasos.
“A balsa é muito boa, consegue transportar caminhões e carretas, mas isso aqui é um atraso de vida. Faço esse percurso umas duas ou três vezes por dia, às vezes tenho que ficar esperando por uma hora para conseguir passar”, revela.
Policiais militares ainda reforçaram que a dependência da balsa prejudica a celeridade no atendimento de ocorrências, como assaltos, diante da necessidade de deslocamento de viaturas para o outro lado do rio.
O acesso à balsa, hoje feito por estrada de terra dos dois lados do rio, é outra dor de cabeça para os motoristas, que enfrentam problemas com a manutenção dos veículos. Para essa dificuldade, além do erguimento da ponte, a intervenção no local prevê acesso asfaltado de aproximadamente 3 quilômetros da MG-402.
Qualidade de vida
Mesmo quem não precisa pagar pelo transporte na balsa, no caso de pedestres e ciclistas, anseia pela ponte. É o caso do agricultor Valdomiro Ferreira dos Santos, que atravessa com a bicicleta, com a qual percorre mais dois quilômetros para chegar à fazenda onde trabalha fazendo plantação de milho e mandioca.
“Há uns cinco anos, já tive que dormir na balsa e esperar pra descer na manhã seguinte porque ela encalhou”, lembrou. O risco de encalhar aumenta à medida que a altura do rio abaixa.
Eliene Alves Cordeiro, que trabalha em uma barraquinha próxima à balsa, diz que a ponte vai melhorar muito o acesso dos moradores aos serviços de saúde.
“A evolução é boa, vai ajudar muita gente e no transporte de ambulâncias do Samu para o hospital de Pintópolis, já teve gente morrendo dentro da balsa, porque não deu tempo de chegar. Tem uma senhora aqui na beira do rio que já teve que fazer vários partos por emergência de tempo”, afirma.
Ela acredita que a região deve receber, também, maior fluxo de pessoas. “Quem vai a Brasília deixará de fazer o trajeto por Januária e passará a fazer por aqui, que é mais perto”, observa.
Essa é justamente a expectativa do coordenador regional, Ronilson Ribeiro da Silva. “A construção da ponte será a realização de sonho dos norte-mineiros, pois irá impulsionar ainda mais a economia, melhorando o escoamento da produção de grãos da região, criando uma nova rota da interligação do Nordeste do Brasil, passando por Montes Claros, com os estados de Goiás e Mato Grosso, além do Distrito Federal, no Centro Oeste do país”, afirma.
Município de São Francisco, no Norte de Minas, fica às margens do rio que batizou a cidade (Cristiano Machado / Imprensa MG
A ponte
Ao custo de R$ 137 milhões, a previsão é a de que a ponte em São Francisco, uma das maiores já construídas em Minas – com 1.120 metros de extensão e 13,8 metros de largura, seja concluída em 25 meses.
Aguardadas há mais de 70 anos no Norte de Minas, as obras da ponte começaram. O pátio de produção, estocagem e armazenamento de vigas que serão utilizadas na edificação foram compactados e, também, o levantamento topográfico já foi realizado.
O empreendimento, que faz parte do Provias, vai gerar mais mobilidade e circulação de mercadoria, além de facilitar o acesso ao Distrito Federal.
Provias
A construção de pontes e pavimentação é um dos eixos do Provias. O programa prevê 44 empreendimentos para viabilizar novas ligações entre importantes regiões de Minas Gerais, somando cerca de 807 quilômetros.
O Provias – maior pacote de obras rodoviárias da última década – também abrange intervenções de recuperação funcional para promover melhorias no pavimento das estradas em pior estado de conservação. No total, serão 55 intervenções em 1.770 quilômetros da malha rodoviária.
Os recursos do Provias são de R$ 2 bilhões, sendo R$ 1,4 bilhão do Termo de Reparação assinado com a Vale, por conta do rompimento da barragem de Brumadinho, R$ 120 milhões do Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC) firmado entre o Governo de Minas e a Fundação Renova, além de convênios e emendas parlamentares estaduais e federais, parcerias com empresas e convênios com prefeituras.
*Fonte: Agência Minas Gerais