Agressões ocorreram dentro de uma delegacia; Policiais civis recusaram a registrar o boletim de ocorrência
Um jornalista de Belo Horizonte foi agredido por um policial civil, candidato a deputado federal, acusado de assediar uma menina de 13 anos. O profissional levou um soco no estômago e teve o celular usado como equipamento de trabalho confiscado dentro de uma delegacia da Polícia Civil, em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte. Segundo o boletim de ocorrência, policiais civis que estavam da Delegacia se recusaram a registrar o ocorrido, sendo necessário o acionamento da Polícia Militar. O caso foi na noite do último sábado (27).
“Após o ocorrido, (o jornalista) solicitou providências pelos policiais civis daquela delegacia. No entanto, não foi atendido por eles pois criaram muita resistência para lavratura deste documento”, informa o boletim de ocorrência.
O documento também apontou que a confusão começou durante uma tentativa de entrevista. O policial pegou o celular do repórter e seguiu para o interior da delegacia com a intenção de apagar as imagens. “Lá ele conseguiu apagar as imagens do fato, tendo também acesso as mensagens particulares da vítima”, registra o boletim de ocorrência.
Em nota, a empresa onde trabalha o jornalista afirmou que repudia a agressão sofrida no exercício da profissão. “A agressão física e o confisco do material de trabalho do nosso colega de trabalho ocorreu quando esperávamos e insistíamos para ouvir o outro lado, prática indelével do jornalismo ético”, disse em nota. A empresa disse ainda que “não vai se calar” e que se preocupa com a população que também é vítima deste mesmo tipo de violência. “Nos colocamos no lugar dos cidadãos comuns que não têm microfones para tornar público eventuais abusos do tipo”, afirmou.
O caso de assédio
A denúncia de assédio foi registrada na última sexta-feira (26), em uma espetaria, em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte. Segundo testemunhas, em depoimento aos militares, a menina de 13 anos estava com a mãe quando foi assediada pelo policial civil.
Elas estavam fechando a conta, quando este abordou a menor e foi repreendido pela mãe. “Ele entrou no seu veículo fazendo uma manobra de retorno e nesse momento parou o carro em frente a mesa e falou: novinha de verde, você está me chamando para quê?”, descreve o boletim de ocorrência. Uma hora depois ao ocorrido, ele retornou ao local e “mandou um beijo para a mãe”. Conforme descrito no boletim de ocorrência, ele teria dito: “pego a novinha a hora que eu quiser”.
A Polícia Militar foi acionada ao local. Em contato com o policial civil, ele disse que passou pela região e as mulheres teriam o elogiado, “falando que ele era bonito”. Aos militares, ele disse que não saberia se no local havia alguma menor de idade. Segundo o policial civil, uma das mulheres que teria o ameaçado aparentava ter problemas psicológicos. Após a abordagem, ele foi conduzido para a Delegacia da Polícia Civil de Nova Lima para prestar depoimentos.
Em uma rede social, o policial civil disse que as pessoas que estavam na mesa não fazem “o tipo” dele e que elas estariam embriagadas. “Eu preciso assediar alguém?”, disse. Em relação as agressões, o policial disse nessa mesma publicação de que teria sido vítima. “Eles armaram algo para mexer comigo, me filmar e ainda fez ocorrência de que eu bati nele”, contou. Ele afirmou ainda “não ter medo” dos envolvidos. A reportagem do O Tempo procurou o policial civil, mas ele não atendeu as ligações.
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) classificou os casos como graves e disse que está apurando as denúncias de agressão e de assédio. A PCMG informou ainda, por meio de nota, que “será instaurado um procedimento disciplinar na corregedoria para investigar a transgressão praticada pelo agente público”. A instituição destacou que ele estava afastado de suas funções para concorrer ao mandato de deputado federal.
Em relação a denúncia de assédio, a Polícia Civil disse que a vítima foi encaminhada ao IML para exames periciais. “É necessário, entretanto, que a vítima se dirija à delegacia de polícia e ofereça “representação”, tendo em vista a natureza do crime (lesão corporal)”, orientou. A PCMG reforçou que “não compactua com quaisquer desvios de conduta de seus servidores e, como órgão garantidor de direitos constitucionais, assegura o livre exercício da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão”.
Sindicado dos Jornalistas repudia as agressões e pede investigação
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais repudiou as agressões sofridas pelo repórter e disse que se colocou à disposição para auxiliar na apuração do ocorrido. Para a presidente do Sindicato, Alessandra Mello, a Polícia Civil tem a obrigação de apurar o ocorrido. “Não adianta soltar de desagravo. O policial tem que ser responsabilizado, tem que sentir no bolso, tem que ser condenado a fazer curso de reciclagem. Dependendo do grau da lesão, tem que ser condenado e preso”, disse.
A presidente também lamentou o aumento de casos de agressão aos profissionais de imprensa. “A impunidade é o combustível da violência e é o que tem acontecido não só em Minas Gerais, mas em todo o Brasil. A violência contra jornalistas é vertiginosa. Se antes a violência era virtual, hoje é nas vias de fato”, disse.
*informações O Tempo