Existe a expectativa de que o presidente eleito anuncie o nome que comandará a pasta do Meio Ambiente
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva é aguardado com enorme expectativa na COP27, a conferência climática da ONU que acontece no balneário egípcio de Sharm el-Sheikh, onde líderes políticos e da sociedade civil esperam poder reunir-se com quem assumirá o poder no Brasil em 1º de janeiro de 2023. Um dos mais interessados, segundo fontes do governo eleito, é John Kerry, o enviado especial para o clima do presidente americano, Joe Biden, além de representantes dos governos da Alemanha e da China, entre outros que participarão do evento que termina em 18 de novembro.
O anúncio mais importante deve ser a confirmação de que, atendendo a uma demanda de ONGs da sociedade civil, o governo eleito vai propor o Brasil como sede da COP30, em 2025. Também poderia ser confirmado o nome do futuro ministro ou ministra do Meio Ambiente, e do que alguns na equipe de transição já chamam de “Kerry brasileiro”, ou seja, uma autoridade especial para tratar da questão climática.
Lula, que chegará ao Egito no dia 15, planeja usar a conferência para marcar diferença em relação ao governo de Jair Bolsonaro e sinalizar que sua gestão pretende se empenhar no combate ao desmatamento da Amazônia. Na estratégia traçada pelos petistas após a vitória nas urnas do dia 30 de outubro, a busca de respaldo internacional tem sido uma das prioridades.
Entre as propostas para o meio ambiente apresentadas durante a campanha eleitoral está o compromisso de buscar o desmatamento zero na Amazônia e a emissão zero de gases que causam o efeito estufa na matriz energética. Lula também enfatizou, mais de uma vez, que pretende acabar com o garimpo ilegal em terras indígenas. O petista ainda vai criar o Ministério dos Povos Originários.
Encontro com Guterres
O convite para que Haddad faça parte da delegação foi lido no entorno de Lula como um sinal de que ele ocupará uma pasta de destaque no governo. Os ministérios que o também ex-prefeito paulistano tem mais chance de assumir são, pela ordem, Fazenda e Casa Civil.
Em Sharm el-Sheikh, a delegação será recebida pelo embaixador no Cairo, Antônio Patriota, ex-chanceler do governo de Dilma Rousseff, ex-embaixador nos EUA e um dos diplomatas de longa trajetória e prestígio enviados a destinos de segunda ou terceira categoria pelo então chanceler Ernesto Araújo no início do atual governo.
A equipe de transição recebeu mais de uma dezena de pedidos de encontros com lideranças políticas que participam da COP 27 e, em muitos casos, não foi possível confirmar os encontros por incompatibilidades de agenda. Foi o caso, por exemplo, do Reino Unido, que esperava um encontro de alto nível com Lula, mas as datas da presença no Egito não coincidiram.
Uma das reuniões mais importantes que o presidente eleito terá no âmbito da COP27 será com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. O contato entre ambos está previsto faz tempo. As primeiras conversas entre interlocutores de Lula e Guterres ocorreram antes do segundo turno, em Nova York.
Uma das principais assessoras da campanha de Lula sobre a pauta climática, a ex-ministra Izabella Teixeira, que integra o Painel Internacional de Recursos Naturais da ONU Meio Ambiente, está na COP 27 e preparou o terreno para o desembarque de Lula em grande estilo no debate sobre o aquecimento global.
Lula também terá uma reunião bilateral com o presidente do Egito, Abdel Fatah al-Sisi, e deve conversar com lideranças da sociedade civil brasileira e internacional. A delegação brasileira no Egito é uma das mais expressivas no evento, com cerca de 500 pessoas confirmadas, entre representantes do governo Jair Bolsonaro, do governo eleito e da sociedade civil.
Sem ter o que mostrar
O Itamaraty será representado pelo embaixador Paulino Franco de Carvalho Neto, secretário de Assuntos Multilaterais e Políticos, que chegou na sexta-feira ao Egito. O atual governo não tem boas notícias para dar ao mundo na COP27: 12 meses depois da última conferência do clima em Glasgow, na Escócia, os compromissos assumidos pelo Brasil não saíram do papel, e o desmatamento não diminuiu.
Na COP26, o Brasil assinou entendimentos para zerar o desmatamento ilegal até 2028, reflorestar 18 milhões de hectares até 2030, reduzir emissões de metano e recuperar 30 milhões de hectares de pastagens. Também se comprometeu a cortar pela metade a emissão de dióxido de carbono (CO2) até 2030, atingir a neutralidade de carbono em 2050 (isto é, compensar todas as emissões) e a ter, em 2030, de 45% a 50% de suas fontes de energia renováveis.
Na COP27, confirmaram fontes do governo Bolsonaro, não estão previstos novos acordos ou a criação de novos instrumentos legais. Poderiam ser assinados entendimentos bilaterais, afirmou uma fonte, sobre temas que “têm a ver com mudanças climáticas, como florestas, por exemplo”.
*Informações e imagem: O GLOBO