Por Vinícius Generoso Monteiro –
Uma das lembranças mais temerosas da população brasileira é a da hiperinflação. O chamado “imposto dos pobres” corrói o poder de compra da tão restrita renda da maior parte das famílias brasileiras. Mas é possível que a hiperinflação volte a assombrar os lares?
A resposta é sim e não. Sim porque o cenário pós pandemia evidenciou a fragilidade estrutural da economia brasileira. O processo de retomada ainda não pegou marcha. O desabastecimento na indústria diante de uma demanda reprimida pela impossibilidade de consumo, dadas as restrições de locomoção e renda, levou à alta dos preços. A inflação oficial medida, IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo, de 10,67% acumulados nos 12 últimos meses, esconde uma inflação real percebida por muitas famílias, já que os itens que mais pesaram nesse aumento foram alimentação (11,71%), energia elétrica (30,27%), gás (37,86%) e combustíveis (45,26%). As medidas para solução das fragilidades estruturais levam muito tempo para surtir efeito para a população em geral, pois dependem de ações governamentais e de investimentos vultuosos. Associado a tudo isso, os governos se veem sem capacidade de investir pela queda na arrecadação provocada pela baixa atividade econômica.
E não porque, em muito, esses percentuais se deram em função do patamar elevado do câmbio e da crise hídrica, fatores cíclicos e contextuais. Embora o fator político influencia fortemente, as perspectivas apontam para muita nebulosidade ainda até o final das eleições de 2022. Além disso, a economia brasileira tem demonstrado nas últimas crises uma capacidade de retomada mais rápida, apesar dos problemas fundamentais. Se essa tendência se confirmar, devemos vivenciar uma retomada ao ritmo pré pandemia e haver alguma estabilidade em termos de preços.
Mas, o que preocupa ainda mais é a possiblidade de os preços se manterem em tendência de alta e o crescimento econômico permanecer baixo ou negativo. O PIB com baixo crescimento e os preços em alta geram estagflação, uma condição muito ruim e de difícil reversão, que pode custar caro aos bolsos da população pois exigirá investimentos fortes dos governos, implicando em aumento de impostos.
O que a população espera e o mercado de um modo geral quer é um breve reencontro com a prosperidade e o desenvolvimento.