Maria do Socorro Pereira, de 56 anos, diz que sofreu ao longo de 15 anos e recebeu julgamentos ao falar sobre agressões
“O que você fez para apanhar?”. “Lá vem você de novo! Mais uma surra que você levou!”. As frases, fortes, segundo Maria do Socorro Pereira, de 56 anos, foram ouvidas por ela há muitos anos, quando ela foi denunciar a violência que sofria em casa. A mulher relata que foram 15 anos vivendo ao lado de um homem que batia nela, a atingia com objetos pesados (televisão, por exemplo) e chegou a correr atrás dela com uma faca. A ajuda que Maria do Socorro encontrava, muitas vezes, vinha era de vizinhos.
Nos últimos dias, O Tempo ouviu relatos que mostram a dificuldade e o medo que muitas mulheres precisam enfrentar para denunciar episódios de agressão, além de julgamentos pelos quais costumam passar.
Somente neste ano, até o mês de maio, 55.908 mulheres foram vítimas de violência em Minas Gerais, conforme dados da Polícia Civil. O Estado, que tem 853 municípios, conta com 69 Delegacias Especializadas em Atendimento à Mulher (Deams). Profissionais consultados pela reportagem destacam que o número é insuficiente, diante da necessidade de uma escuta diferenciada para as mulheres. Atendimento que Maria do Socorro não recebeu há anos atrás e que, segundo ela, continua raro nos dias de hoje.
Dor que virou luta
“Eu luto para que as mulheres não sofram mais esse tipo de violência. Tem a reclamação de que elas chegam na polícia, e, quando ela é mulher, elas são bem recebidas. Policial feminina ainda as recebe com carinho. Mas policial homem não trata com o mesmo carinho que precisa. Por isso é que a gente precisa que em toda cidade tenha uma policial feminina para atender esses casos, pois é muito constrangedor para a gente”, afirma.
Machismo
Deputada estadual, Ana Paula Siqueira (Rede) afirma que a questão do machismo, assim como acontece em outros setores da sociedade, marca presença em delegacias.
“Sabemos o quanto é difícil, para muitas mulheres, formalizar a denúncia. E não é possível que essas mulheres, que já sofreram uma violência tão grande em casa, passem por mais uma agressão ao serem atendidas. Esses são relatos de várias e várias mulheres que a gente escuta na Comissão (de Defesa dos Direitos da Mulher). O machismo presente também nas delegacias é o mesmo machismo estrutural, institucional, que está nas empresas, nas escolas, na sociedade como um todo”, diz.
Diante desse cenário, no último dia 21, uma audiência na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, cobrou a ampliação e estruturação das Deams. A deputada Ana Paula Siqueira é presidente da comissão e uma das autoras do requerimento para que fosse feita a reunião. De acordo com a parlamentar, é muito importante que haja um atendimento humanizado a mulheres que buscam auxílio.
“É preciso que haja uma diretriz, treinamento, cursos, uma cultura e uma orientação de atendimento justo, humanizado, acolhedor, respeitoso, com profissionais multidisciplinares para fazerem a escuta mais humanizada das mulheres que recorrem para pedir ajuda”, afirma ela.
Saiba onde pedir ajuda
- Ligue 180 – Para orientação às mulheres em situação de violência e denúncia
- Ligue 190 – Se ouvir gritos ou sons de briga e para emergências
- Ligue 192 – Para emergência médica
- Disque 100 – Para casos de agressões a crianças e idosos
- Defensoria Pública Especializada na Defesa dos Direitos da Mulher em Situação de Violência (Nudem-BH). Contato pelo e-mail nudem@defensoria.mg.def.br ou pelos telefones: (31) 98475-2616 / 98464-3597/ 98239-8863 / 98306-1247
- Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher: 3330-5752
- Centro Especializado de Atendimento à Mulher Benvinda: (31) 98873-2036/ ceambenvinda@pbh.gov.br
- Centro Risoleta Neves de Atendimento (Cerna): (31) 3270-3235 / 3270-3296
- Casa de Referência da Mulher Tina Martins: (31) 3658-9221 ou pelo e-mail casatinamartins@gmail.com
- Promotoria de Justiça Especializada no Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (31) 3337-6996/ mariadapenha@mpmg.mp.br
Fonte: Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania de BH
*Fonte: O Tempo