Preço do combustível começou a cair em junho, após disparada desde meados de 2021. Mas o que esperar para os próximos meses?
O preço da gasolina começou a disparar em meados do ano passado – e só recentemente começou a dar sinais de alívio ao bolso dos consumidores.
Mas para onde vai o preço do combustível agora?
Por que os preços estão caindo?
Enquanto a alta foi puxada pela retomada da economia global após o tombo provocado pela pandemia da Covid, aliada à forte alta do dólar frente ao real e aos efeitos da guerra na Ucrânia, a queda recente veio principalmente na esteira do corte da tributação sobre o produto.
Em meados de junho, entrou em vigor a legislação que limita as alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Produtos (ICMS) que incidem sobre itens considerados essenciais – como combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo.
O ICMS é um imposto estadual, compõe o preço da maioria dos produtos vendidos no país e é responsável pela maior parte dos tributos arrecadados pelos estados.
A mesma lei também zerou as alíquotas dos tributos federais incidentes sobre a gasolina – que, em junho, representavam cerca de 10% do preço do combustível vendido ao consumidor, segundo dados da Petrobras.
Como estão os preços hoje?
A entrada em vigor da nova lei teve efeito rápido: no mesmo mês, o preço da gasolina vendida ao consumidor recuou 0,72%. E, em julho, o tombo foi de 15,48%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No acumulado em 12 meses, depois de 16 meses seguidos com alta na casa dos dígitos, a gasolina finalmente voltou a ter uma alta discreta no mês passado, de 5,64%.
O litro da gasolina, que chegou a ser vendido no primeiro semestre, em média, a R$ 7,39 (embora em alguns locais tenha passado a casa dos R$ 10) – recuou para R$ 5,74 no final de julho.
Uma tentativa de ataque aos sistemas da Agência Nacional do Petróleo (ANP), que realiza esse levantamento de preços, no entanto, deixou indisponíveis dados mais recentes. A expectativa é que, quando a divulgação for retomada, a pesquisa mostre nova queda – já que a Petrobras reduziu mais uma vez, nesta terça-feira (16), o preço da gasolina vendida às distribuidoras, acompanhando um alívio nos preços internacionais do petróleo.
E como fica daqui pra frente?
A expectativa é que preço do litro da gasolina se estabilize – ou até continue caindo por mais algum tempo.
“A nossa perspectiva é de que não ocorram novos aumentos do preço de gasolina esse ano”, diz o líder de análise da Warren Investimentos, Frederico Nobre. “É possível que a gasolina se mantenha nos patamares atuais ou até caia um pouco mais no decorrer de 2022”, completa.
“Tudo vai depender do ritmo da economia mundial”, aponta André Braz, economista e coordenador dos índices de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Braz explica que o mundo ainda vive um período de inflação em alta, o que deve fazer com que bancos centrais das principais economias sigam elevando suas taxas de juros para deter a alta de preços. Esse movimento ‘esfria’ a economia, e dificulta uma alta de preços das commodities – incluindo o petróleo.
“Para essas matérias primas mais baratas, incluindo aí o petróleo, a tendência é que os preços não subam tão fortemente ou até caiam”, diz o economista.
Ele lembra que, em dólar, o preço do barril já caiu em torno de 20%, o que abriu espaço para as recentes reduções no preço da gasolina vendida pela Petrobras. E que, se essa tendência continuar, há chances de novas quedas nos preços da gasolina e do diesel.
O economista aponta, no entanto, que essas expectativas podem ser revertidas, por conta das eleições marcadas para outubro, e por conflitos geopolíticos, como a guerra na Ucrânia e a tensão entre os Estados Unidos e a China em relação a Taiwan.
“Então vai depender exatamente de como o mundo vai se comportar. Só que nesse momento o que eu descrevi [a estabilidade ou queda de preços] parece ser a tendência, o que a gente deve ter a maior probabilidade de acontecer”, aponta.
Um levantamento da XP estima que a gasolina tenha deflação, dentro do IPCA, de 8,28% em agosto, seguida de outra, bem mais suave, em setembro (-0,67%). No último trimestre do ano, leves altas devem fazer o preço subir cerca de 5%.
Mas a expectativa da instituição financeira é que, ao final de 2022, o litro esteja sendo vendido cerca de 15% mais barato do que era no início de janeiro. Se isso se concretizar, o brasileiro pode entrar no próximo ano pagando, em média, pouco mais de R$ 5,60 por litro da gasolina.
E em 2023?
O alívio deste ano, no entanto, pode ter fôlego curto: isso porque, caso não haja mudança, a partir de janeiro os tributos federais voltam a incidir sobre a gasolina – e a pressionar o bolso dos motoristas.
“Para 2023 é outra conversa. Acho que tem que esperar um pouco mais para a gente conseguir se aprofundar. Existe uma eleição aí no meio do caminho que pode modificar a medida do ICMS, a questão toda da PEC dos benefícios, enfim, então preferimos esperar para entender”, diz Nobre, da Warren.