Segundo a vítima, médico Sebastião Nelson Edy Guerra se dirigia a ela com termos de cunho sexual e fazia gestos obscenos. Ele também chegou a beijar a mulher no elevador
Um dos médicos da clínica particular onde a engenheira Júlia Moraes Ferro, de 29 anos, passou por cirurgias plásticas antes de morrer é acusado de assédio sexual por uma ex-funcionária. A Polícia Civil investiga o caso.
O registro policial foi feito em junho de 2021. A vítima trabalhava como técnica em enfermagem na clínica Sebastião Nelson, localizada no Serra, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, desde março.
Em nota, a defesa da clínica disse que os médicos e a equipe jurídica não têm “ciência de qualquer investigação”.
Ela disse à polícia que, inicialmente, foi contratada para trabalhar como assistente de outro médico, mas foi assediada pelo suspeito, Sebastião Nelson Edy Guerra, de 77 anos, desde o dia em que começou a trabalhar no local.
Segundo a mulher, o médico se dirigia a ela com termos pejorativos e de cunho sexual, na frente de outros profissionais, que minimizavam a situação como se fosse brincadeira.
A vítima disse que, cerca de duas semanas antes de procurar a polícia, passou a ser assistente do médico durante as cirurgias e os pós-operatórios, e os assédios se intensificaram.
De acordo com ela, durante os procedimentos, o homem a olhava e fazia gestos obscenos, como se simulasse o ato sexual.
A mulher relatou ainda que, após uma cirurgia, o médico ordenou que ela entrasse no elevador com ele, segurou-a pelo queixo e a beijou por cima da máscara, dizendo em seguida: “Isso não é assédio, é carinho”.
Depois disso, ela não voltou mais ao trabalho. A vítima disse à polícia que não conseguia mais dormir e estava apavorada, temendo pela própria integridade física.
Em nota, a Polícia Civil afirmou que instaurou inquérito policial, e diligências estão em andamento para apuração dos fatos. O caso tramita na Delegacia Especializada em Investigação à Violência Sexual.
“Outras informações serão repassadas após a conclusão das investigações para não prejudicar o andamento do feito”, disse a instituição.
O que diz a defesa da clínica
“Lamentamos profundamente que uma ex-funcionária se aproveite de um momento tão delicado do falecimento de uma jovem. A nossa única preocupação agora é quanto aos esclarecimentos do lamentável caso da nossa paciente. Outras distrações não nos farão descumprir nosso dever.
O instrumento de enfrentamento aos assédios no ambiente de trabalho as vezes se presta a abusos e desvios. Uma pena presenciarmos a deslegitimação dessa luta. Até o momento, nem os médicos e nem a equipe jurídica têm ciência de qualquer investigação feita pela polícia civil.
A ex-funcionária sempre teve boa relação profissional e de amizade com todos os colaboradores e proprietários. A relação era de tamanha abertura que a própria funcionária enviava mensagens carinhosas para a pessoa pela qual ela diz ter sido assediada.
No momento do desligamento, a ex-funcionária estava insatisfeita com as verbas rescisórias e inclusive tentou um acordo utilizando áudio cortado e fora de contexto. Como temos segurança na nossa conduta, o acordo não foi realizado.
Destacamos que a ex-funcionária não faz mais parte do nosso quadro de colaboradores desde 21 de junho de 2021. Estamos à disposição das autoridades caso em algum momento queiram esclarecer qualquer um dos fatos infundados narrados unilateralmente pela ex-funcionária, mas destacamos agora nossa atenção está canalizada para o caso da nossa paciente.”
Morte após cirurgia plástica
A Polícia Civil também apura a morte de Júlia Moraes Ferro, de 29 anos, após passar por cirurgias plásticas na clínica Sebastião Nelson.
Segundo o boletim de ocorrência, a mulher, moradora de João Monlevade, na Região Central de Minas Gerais, colocou prótese de silicone nos seios e passou por uma lipoaspiração no abdômen no dia 8 de abril.
Após seis horas de cirurgia, Júlia saiu do bloco cirúrgico e foi para o quarto. Uma familiar dela, que a acompanhava, contou aos policiais que foi impedida de ficar no local.
Segundo ela, a equipe médica disse que a acompanhante precisava sair do quarto para que outro paciente ficasse no lugar.
Horas depois, o cirurgião plástico Renato Nelson, responsável pelas cirurgias, comunicou à família que a paciente estava passando bem, descansando, mas que teve uma perda de consciência e foi necessário um procedimento de reanimação.
Ela precisou ser transferida para um hospital, também na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, onde ficou internada até o dia 10 de abril. Neste mesmo dia, ela foi levada para um segundo hospital “com quadro irreversível, tendo evoluído para a morte encefálica, confirmada no dia 22 de abril”, segundo relatos do familiar da vítima à polícia.
A família de Júlia registrou a ocorrência na Delegacia de Homicídios da Polícia Civil.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, a clínica tinha irregularidades, mas as mais críticas “foram sanadas”. A clínica ainda está em processo de liberação de alvará sanitário. Mas, segundo a prefeitura, o estabelecimento já poderia funcionar e fazer os procedimentos.
Nesta quarta-feira (28), a defesa da clínica disse, por meio de nota, que “não há nenhum indício de má conduta médica” no caso.
*Fonte: g1