Documento é fruto de audiência da Comissão Pró-Ferrovias e defende reativação do trecho de Três Corações a Cruzeiro (SP)
A Comissão Extraordinária Pró-Ferrovias Mineiras da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizou, na última segunda-feira (08), em Três Corações (Sul de Minas), audiência pública para debater a recomposição da ferrovia que liga o município a Cruzeiro (SP).
Como resultado das discussões, prefeitos de municípios da região assinaram um ofício, que será encaminhado ao ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, em favor da reativação completa das atividades nesse trecho.
No documento, já assinado pelos prefeitos de Três Corações, Conceição do Rio Verde, Soledade de Minas, São Sebastião do Rio Verde e Passa Quatro, são destacadas a importância da ferrovia e a viabilidade técnica da sua retomada. O ofício também deve ser assinado pelos prefeitos de São Lourenço, Itanhandu, Pouso Alto e Cruzeiro.
Entre outros benefícios que o trecho traria, os prefeitos ressaltam sua relevância logística para o desenvolvimento regional e interestadual.
Histórico
Os 170 km da linha entre Três Corações e Cruzeiro foram inaugurados em 1884, como parte da Ferrovia Minas-Rio, tendo o Visconde de Mauá como um dos investidores. Suas operações foram encerradas em 1992. Atualmente, estão em atividade apenas trens de “Maria Fumaça”, entre São Lourenço e Soledade de Minas e entre Passa Quatro e a estação de Coronel Fulgêncio. A recuperação da ferrovia foi incluída no Plano Estratégico Ferroviário de Minas Gerais.
Linha favoreceria o escoamento de grãos e o turismo regional
Os deputados João Leite (PSDB), presidente da comissão, Gustavo Mitre (PSB), que solicitou a reunião, e Zé Reis (Pode), assim como todos os convidados da audiência, defenderam a recuperação do modal ferroviário para o transporte de cargas, de passageiros e, consequentemente, para o turismo.
“O governo federal está acenando para a retomada das ferrovias, em Minas não poderíamos perder este momento. Que os trens voltem aos trilhos em todo o País”, afirmou Gustavo Mitre, que abordou a relação da linha entre Três Corações e Cruzeiro, palco da Revolução Constitucionalista de 1932 e situada no percurso do Caminho Velho da Estrada Real, com a memória histórico-afetiva da região.
João Leite lembrou que no mundo inteiro cidades são cortadas pelas linhas de trem, transportando cargas e passageiros. “Aqui dizem que é só carga”, criticou, ao lamentar a utilização de trechos ferroviários no Estado quase que exclusivamente para atender os interesses das mineradoras e o fato da Região Metropolitana de Belo Horizonte ser a única das seis maiores do Brasil a não contar com um trem metropolitano.
O prefeito de Três Corações, Reinaldo Vilela, foi mais um a ratificar a viabilidade econômica, técnica e ambiental do projeto de retomada. Ele salientou o enorme potencial a ser desenvolvido no município, um dos maiores produtores de grãos da região.
Ferrovias Shortline
Bruno Sanches, vice-presidente da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), entidade que opera as linhas de Maria Fumaça do Trem das Águas, partindo de São Lourenço, e do Trem da Serra da Mantiqueira, a partir de Passa Quatro, informou que estão sendo recuperados 25 km do trecho em Cruzeiro, ligando Minas a São Paulo.
Ele defendeu a adoção da chamada linha shortline na região, caracterizada por uma ferrovia de pequeno porte, com um custo menor de operação, compatível com a demanda de carga local. Nesse sentido, Vicente Abate, presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), ressaltou que as shortlines são responsáveis por 30% do transporte sobre trilhos nos Estados Unidos, o equivalente a toda a malha ferroviária brasileira.
Luiz Alberto Fioravanti, assessor especial da Secretaria de Estado de Logística e Transporte de São Paulo, revelou inclusive que empresários estrangeiros estariam interessados na exploração comercial de shortlines. Ele trouxe o compromisso também do governo paulista com a reativação de ferrovias.
Segundo César Mori, representante da Ferrovia Sul Mineira (FSM), um grupo estrangeiro já sinalizou com a possibilidade de investimento de R$ 1,5 bilhão.
Presidente do Porto Seco de Varginha, Cleber Paiva também colocou o empreendimento à disposição para ser um operador logístico da ferrovia, caso necessário. Ele destacou que muitas empresas buscam essa infraestrutura, o que faz com que a demanda se multiplique.
ANTT
Aurélio Braga, coordenador da Unidade Regional de Minas Gerais da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), trouxe o compromisso da agência com o desenvolvimento do transporte ferroviário e garantiu se dedicar para que as iniciativas de recuperação de antigas linhas prosperem.
*informações ALMG