Comentários preconceituosos vão desde afirmações de desvalorização do modelo Polo até sexualização de acessórios do carro
Uma campanha publicitária, realizada pela Volkswagen do Brasil, entrou para os trending topics na última terça-feira, 10, pelo volume de ataques homofóbicos gerados. A postagem que a empresa fez no Twitter na sexta-feira, 06, viralizou. A imagem mostra um casal gay em frente a um carro do modelo Polo acompanhada da legenda “Sabe o que evoluiu junto com você? O Polo. O que já era bom ficou ainda melhor, com muito mais segurança e tecnologia”.
A publicação faz parte da agenda de Diversidade e Inclusão da montadora alemã, que já havia veiculado um vídeo em 2021 da mesma campanha, que foi criticada na época e voltou a viralizar no WhatsApp esta semana. Os comentários vão desde críticas à escolha do casal gay como protagonistas, afirmações de alguns usuários que não comprariam mais carros da marca ou que teriam seus carros desvalorizados devido à propaganda, até comentários e montagens de cunho pejorativo.
Alguns dos ataques homofóbicos mostravam montagens com o câmbio do carro com apenas a opção de “ré”, e a sexualização dos acessórios. Alguns usuários do Twitter chegaram a afirmar que as propagandas da Volkswagen nos anos 2000 eram da época que a montadora ainda sabia fazer propaganda, em referência ao vídeo promocional do modelo Gol com uma mulher nua na frente.
“A diferença enriquece, o respeito une. A Volkswagen do Brasil celebra a diversidade sexual e de identidade de gênero. Promover a Diversidade & Inclusão é um dos pilares estratégicos da marca”, declarou a Volkswagen em nota enviada ao Estado de Minas.
“Temos como responsabilidade continuar aprendendo de que forma podemos contribuir para a luta contra qualquer forma de preconceito, pois consideramos fundamental conciliar as diferenças para a construção de uma sociedade justa para todos. No que tange a interação com os usuários, comentários ofensivos e desrespeitosos, são devidamente apagados de nossas páginas”, conclui a montadora.
Campanha Amplia Público Comprador
O professor na IÉSEG Escola de Administração de Paris, na França, Lucas Lauriano avalia que a propaganda amplia o público da marca, que aumenta o diálogo com pessoas LGBTQIA. O professor elaborou um estudo no doutorado em que analisa o impacto de discussões nas redes sociais no trabalho dos colaboradores LGBTQIA em uma empresa do ramo automobilístico, que atua no Brasil. No trabalho, o pesquisador optou por não revelar o nome da empresa para uma melhor análise científica. A pedido do Estado de Minas ele analisou a campanha da Volkswagen do Brasil.
“Quando a Volks coloca um casal LGBTQIA demonstra que os carros não são apenas para os héteros. Vale ressaltar que a propaganda não diminui a questão da masculinidade, mas mostra que os carros não são apenas para os hetéros”, diz o pesquisador. Ele ressalta que, ao focar numa minoria, ao contrário do que setores conservadores afirmam, a empresa amplia o leque de consumidores.
Em 2018, a empresa analisada por Lucas iniciou o proccesso de mudança para tornar o ambiente coporativo mais diverso. Na época, a empresa só tinha indicadores de presença de mulheres em cargos de gestão.
“A indústria automobilística é muito masculina e heteronormativa. Muitos colaboradores da empresa se sentiam oprimidos e tinham que adotar comportamentos heteronormativos na escolha de gestos, falas e roupas”, relata o professor.
Lucas considera a campanha da Volks ousada por ser a indústria automobilística muito masculina, mas muito necessária para contribuir com a discussão sobre diversidade. “Querendo ou não é um risco, mas faz muito sentido no caminho de diversidade que a empresa está percorrendo internamente”, avalia.
O pesquisador pondera que a campanha é uma estratégia de marketing, mas demonstra coerência com o desejo de a empresa se adequar aos novos tempos. Na avaliação dele, os comentários negativos não devem fazer com que a marca recue. “Isso foi bem pensado antes. Eles pensam muito nos reflexos nas vendas e na imagem da marca antes de realizarem uma campanha”, diz.
O pesquisador lembra que a diversidade é uma diretriz intranacional da marca. “Não é só a Volks do Brasil”. Na Alemanha, país de origem da multinacional, esse caminho já se delineava. “A tendência é amentar a diversidade interna e na propaganda. Não vejo possibilidade de recuarem”, conclui.
*informações Estado de Minas