O psicólogo Luiz Mafle dá detalhes de como o uso constante dessas ferramentas pode prejudicar o psicológico de seus usuários
O consumo constante e cada vez mais recorrente das redes sociais mudou a forma como as pessoas se comunicam e se relacionam. Durante a pandemia, com a população forçada a se manter isolada para evitar o contágio pelo coronavírus, o uso das redes sociais aumentou significativamente em todo mundo.
O psicólogo Luiz Mafle, professor de psicologia e doutor pela PUC Minas e Universidade de Genebra, na Suíça, explica que a situação alterou a configuração dos aplicativos.
“A ideia começou a ser fazer com que se passe o máximo de tempo possível diante da tela para o consumo de propaganda. Para isso, desenvolveram a estratégia dos algoritmos, likes e engajamentos, que ativam o mecanismo de recompensa em nosso cérebro. Por conta do impulso constante para checar se recebemos uma mensagem, nos sentimos desconfortáveis e impelidos a olhar a todo instante o celular”, explica o psicólogo.
Essa alteração da função da rede, no entanto, pode trazer malefícios para a saúde mental de seus usuários. De acordo com Mafle, ao menos cinco gatilhos podem ser ativados por conta dessa relação dos usuários com os aplicativos.
Confira os cinco gatilhos que as redes sociais podem desencadear
1 – Idealização de vida perfeita e comparação
“Como somos levados a ver a vida dos outros a todo instante, vendendo uma rotina de realização e felicidade constante, comparamos com as nossas vidas e nos sentimos piores por não conseguirmos determinados status sociais ou alegria sem fim”, detalha.
“Nesse processo de comparação, somos acometidos por pensamentos de desvalorização e tentamos buscar soluções (nas próprias mídias sociais) para solucionar os problemas que elas estão gerando. Nesse looping, vamos aumentando a nossa ansiedade: nos sentimos insuficientes por não darmos conta de atingir a suposta felicidade que os outros nos apresentam”, afirma o psicólogo.
2 – Uso excessivo das redes sociais
Mafle explica que quase todos os usuários acabam sofrendo com as consequências da dopamina liberada pelo uso dos aplicativos. O hormônio está ligado com o mecanismo de recompensa desencadeado pelas curtidas tradicionais nas redes sociais.
“O que podemos pensar é em uma redução de danos, estipular horário para uso do celular, se mantendo longe dele nos momentos de desuso e retirando as notificações. O hábito e a facilidade de acesso ao celular fazem com que o acionemos com mais frequência. Se o alcance ficar mais difícil, tendemos a pensar mais se iremos buscá-lo ou não”, aponta.
3 – Cyberbullying
Alguns estudos afirmam que o uso constante das redes sociais diminui a capacidade de empatia entre as pessoas, justamente pelo afastamento que existe entre elas. Pela tela do celular, é difícil uma ideia da verdadeira reação emocional do indivíduo diante de determinadas situações.
“Normalmente, quando expostos ao sofrimento que a pessoa sentiu, quem realizou a agressão tende a se arrepender por esse mecanismo de empatia. Pela falta de percepção da reação do outro, o cyberbullying se torna mais fácil de se realizar e, por conta do volume de mensagens negativas que se pode receber, os efeitos também são potencializados. Esse volume pode ser ainda maior devido ao efeito manada, pois para se sentir incluído, o ser-humano tende a repetir o comportamento do grupo”, completa Mafle.
4 – Comparação em relação a corpos
“É inevitável vermos pessoas mais bonitas ou com corpos mais definidos que os nossos. E isso não é um problema. Só que, quando vemos demais, ou consumimos em excesso essas imagens, a nossa mente incorpora essa imagem como padrão, como uma verdade a ser imitada. Ao passar por esse processo, passamos a nos comparar e nesta hora, nos sentimos inferiores. Um processo de desintoxicação destas imagens ajuda, evitando personagens que apresentam esse padrão de beleza, e vendo mais as pessoas reais ao seu entorno, no trabalho, na escola, nos espaços públicos, etc”, alerta o psicólogo.
5 -Ansiedade e depressão
Com a monetização das redes sociais, muitas pessoas que dependem da internet para pagar as contas acabam mesclando o que é postado com o que realmente acontece na vida real. Durante esse processo, Mafle aponta que o indivíduo pode se sentir forçado a estar constantemente feliz.
“Como a alegria vende mais que a tristeza, ele precisa se mostrar feliz, mesmo quando isso não é verdade. Neste momento, ele está negando parte da sua própria personalidade, o que é uma agressão contra si mesmo. Esses sintomas patológicos só são superados quando podemos viver mais livremente todas as emoções, como a alegria, a tristeza, a raiva e o medo”, completou.
*Fonte: Metrópoles