Kátia Abreu amarga a derrota que não julgava possível
A senadora Kátia Abreu (PP-TO) foi dormir de anteontem para ontem convencida de que seria escolhida pela maioria dos seus pares para a vaga aberta no Tribunal de Contas da União (TCU) com a aposentadoria antecipada do ministro Raimundo Carreiro, nomeado por Bolsonaro embaixador do Brasil em Portugal.
Os últimos a deixarem seu apartamento naquela noite foram os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Renan Calheiros (MDB-AL) – Nogueira, chefe da Casa Civil da Presidência da República, Calheiros, ferrenho adversário do governo. Ambos apoiavam Kátia. Calheiros acompanhou Nogueira até a porta do elevador.
A votação seria secreta. Mas feitas e refeitas as contas, Kátia dizia contar com pelo menos 35 votos – um deles, do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o filho 01 do presidente. Em agosto último, levada pelo ministro do TCU Jorge de Oliveira, ela se reuniu com Bolsonaro e prometeu ser uma juíza isenta.
Depois do encontro, o presidente comentou com um dos seus ministros: “A Kátia, pelo menos, é leal”. Não se sabe o que ele queria dizer com isso. O candidato natural de Bolsonaro seria seu líder no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). Mas Coelho está enrolado com processos e Bolsonaro largou-o de mão.
O outro nome, Antonio Anastasia (MG), era o candidato de Rodrigo Pacheco (MG), presidente do Senado. Os dois são do PSD de Gilberto Kassab, que já previu mais de uma vez a vitória de Lula ano que vem, e que no segundo turno, ou mesmo antes, está disposto a apoiá-lo formalmente.
Kátia foi a mais aplaudida dos três ao discursar no plenário do Senado. Não atentou, porém, ou, se atentou, não deu importância, ao fato de que Flávio passou quase todo o tempo da sessão ao lado de Anastasia. Ficou perplexa com o resultado: 51 votos para Anastasia, 19 para ela e apenas 7 para Bezerra Coelho.
O PT votou em Kátia, afinal o suplente dela é do partido. Bolsonaristas que prometeram votar em Kátia a traíram, a começar por Flávio. Aspirante à sucessão de Bolsonaro, Pacheco foi o vitorioso do dia, ao lado de Kassab. Anastasia ministro do TCU era algo combinado entre os três desde o ano passado.
O suplente de Anastasia, Alexandre Silveira, é presidente do PSD de Minas. Chefe do jurídico da presidência do Senado, ele usou o gabinete de Pacheco nos últimos meses para despachar com prefeitos do seu estado. Ganhou um ano de mandato como senador. É candidato à reeleição. Saiu do Senado em delírio.
Bolsonaro foi feito de bobo outra vez. Não é páreo para velhas raposas da política.