Especialistas analisam possibilidade de a BA.2 se disseminar no país da mesma maneira que está ocorrendo em partes da Europa e Ásia
Do portal Metrópoles –
A atual onda de Covid-19 na Ásia e em parte da Europa colocou novamente o mundo em alerta sobre a possibilidade do coronavírus provocar novos picos em países onde a doença já está praticamente controlada.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou, nesta quarta-feira (23/3), que a BA.2, subvariante da Ômicron, é responsável por 86% dos casos globais de Covid-19, segundo os dados de sequenciamento genômico disponíveis. Mais uma vez, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, foi enfático ao afirmar que a pandemia não acabou.
Nos Estados Unidos, cerca de um em cada três casos de Covid-19 já são causados pela BA.2. No nordeste do país, incluindo os estados de Nova York, Nova Jersey e Massachusetts, a BA.2 representa mais da metade dos casos.
Especialistas em saúde avaliam que é possível que a subvariante provoque uma nova onda de infecções também no Brasil, assim como ocorreu no início do ano com a variante inicial, a BA.1.
No entanto, desta vez, por conta do avanço da vacinação e das características da subvariante, os diagnósticos positivos não seriam capazes de pressionar o sistema público de saúde.
Vacinação
A vacinação é o fator chave para definir como a nova variante se comportará no país. O Brasil tem atualmente 74,9% da população totalmente vacinada contra a Covid-19, com as duas doses. O reforço foi aplicado em 34% das pessoas, segundo dados do levantamento Our World In Data, ligado à Universidade de Oxford.
“Nós temos muitas pessoas vacinadas no Brasil e isso diminui muito a circulação do vírus e a probabilidade de ter um aumento muito grande de casos e mortes, como aconteceu antes”, explica Bergmann Ribeiro, professor do Instituto de Biologia da UnB e especialista em mutações de vírus.
A pesquisadora Ana Brito, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), afirma que Reino Unido, Itália e França estão vivendo uma nova onda de casos porque têm grupos significativos de pessoas que se recusam a tomar a vacina por questões ideológicas.
“É essa população que pressiona o sistema hospitalar, com casos mais graves da doença. Felizmente, o Brasil não tem uma população considerável de pessoas que não querem se vacinar”, afirma Ana, que também é vinculada à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Pernambuco.
Brito explica que monitorar o crescimento de doenças respiratórias via testagem será fundamental para acompanhar qual versão do vírus está aqui, entender como está se verificando a disseminação e isolar pessoas com Covid rapidamente.
Reinfecção
A chegada da subvariante coincide com um momento no qual o nível de proteção natural é alto em razão do pico anterior provocado pela BA.1.
Apesar de a possibilidade de reinfecção existir, ela é menor devido à resposta imunológica induzida pelas vacinas ou pelo contágio recente. “A probabilidade de reinfecção é maior entre as pessoas que não se vacinaram, não tomaram todas as doses, as que estão imunocomprometidas e as pessoas mais velhas, que já têm o sistema imunológico mais frágil”, explica Ribeiro.
O conselho para esses grupos é tomar todas as doses disponibilizadas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) e manter as medidas de proteção, como o uso de máscaras e distanciamento, ainda que eles estejam liberados na maior parte do país.
Transmissão e letalidade
Assim como a linhagem original da Ômicron, a BA.2 possui maior poder de transmissibilidade em comparação às linhagens anteriores. Por outro lado, tem causado menos hospitalizações e mortes.
“É natural e se observa com frequência que rapidamente esses variantes mais transmissíveis começam a impactar na ocorrência de casos. É possível que a gente tenha uma explosão de casos, sim, mas não acredito que veremos o colapso da rede de saúde”, analisa Brito.
Sequenciamento genético
Dados de sequenciamento genômico do projeto Corona-ômica, que envolve laboratórios de todo o Brasil, mostram que ainda há uma baixa circulação da BA.2 no país.
Ribeiro acredita que muitos casos estejam sendo subnotificados devido ao baixo volume de amostras sequenciadas, um problema que já foi levantado pela OMS.
Na última semana, a entidade internacional afirmou que o número de casos notificados relacionados à Ômicron é apenas a ponta do iceberg de um problema muito maior velado pela falta de testagem.