Relatos apontam para diversos problemas, como péssimo atendimento da administração, local mal cuidado, falta de segurança, sumiço de restos mortais, descaso com as famílias
Indignação. Isso é o mínimo para relatar o sentimento das pessoas que tem parentes sepultados ou a ser sepultados no Cemitério Parque, localizado na zona Sul de Poços de Caldas, município do Sul de Minas Gerias, que, dentre os relatos, enfatizam a ocorrência de vilipêndio de cadáveres.
Tipificado no Código Penal Brasileiro, em seu artigo 212, o vilipêndio de cadáveres é considerado crime contra o respeito aos mortos, ato que pode ser punido com pena de detenção entre um a três anos de reclusão e pagamento de multa.
No início de fevereiro deste ano, o “Alô Poços” publicou uma reportagem apresentando problemas e dificuldades para realizar o sepultamento de uma vítima de Covid-19, além de os restos mortais de seus pais, que deveriam estar dentro do túmulo, não terem sido localizados. [Veja em https://alopocos.com/tumulo-e-restos-mortais-somem-e-vitima-de-covid-sepultada-em-jazigo-aberto/]
No caso apresentado em fevereiro, até o momento a família não teve retorno, tão menos os restos mortais dos pais localizados e devolvidos.
Por questão de segurança e de preservação da imagem não identificaremos as pessoas e, desta vez não é diferente, os relatos são ainda maiores e, talvez, até piores, como ocorreu no último sábado, 12, no sepultamento de uma mulher.
“Fui ao enterro de uma parente minha e tinha uma ossada dentro do jazigo dela sem qualquer identificação e sem autorização do donos do jazigo”, relata um rapaz se mostrando inconformado com o descaso que as famílias e seus mortos são tratados pela administração do local.
Ele acrescenta que também conversou com os coveiros para saber onde colocariam a ossada. “Simplesmente deixaram os restos mortais, sabe-se lá de quem é, atrás de uma casa. Nem no sistema da administração do Cemitério a ossada não tem a identificação. Que administração é essa que não sabe de nada que acontece dentro do Cemitério”, indaga desolado.
“Isso é caso de polícia”, diz uma mulher acrescentando que “eles enterram pessoas em túmulos errados”, afirma ao comentar que isso aconteceu com uma amiga bem próxima. “Já aconteceu de irem enterrar o pai de uma amiga em um túmulo que não tinha nada a ver com a sepultura da família. Ela precisou ir mostrar para o funcionário onde era o correto e ele ainda foi super mal educado numa hora tão triste e difícil”, lamenta.
O descaso administrativo, os altos custos e falta de segurança também são evidenciados por outros relatos, como o de uma mulher que sepultou seu pai no Cemitério Parque. “Precisamos mandar fazer a placa de identificação do meu pai. Demoraram muito tempo para fazê-la, tive que ir até a administração para cobrar e reclamar e ainda fui muito mal tratada pela mulher que me atendeu, uma loira que não me recordo o nome. Quando a placa ficou pronta o nome foi gravado errado. Enfim, quando tudo parecia estar resolvido e a placa devidamente colocada na sepultura, ela foi roubada”, observa o infortúnio.
“Realmente a administração é péssima, ainda mais por ser particular e o alto preço que cobram para tudo naquele Cemitério”, comenta uma outra pessoa que precisou adquirir um túmulo lá porque não existia disponibilidade no Cemitério da Saudade, que é Municipal, acrescentando que o local deveria melhorar em tudo, “começando pelo atendimento, dar mais atenção ao que está mal feito e errado. Pagamos a taxa de manutenção e quando vamos lá é só decepção e nervoso”.
Além do caso relatado pelo “Alô Poços” no início de fevereiro, não se tratou de algo isolado, há outras reclamações neste mesmo sentido. “Os restos mortais dos meus tios sumiram e ninguém dá satisfação. Até hoje não acharam. Tem um quarto lá cheio de sacos com restos mortais de diversas pessoas, só que não existe qualquer identificação, então, pode ser de qualquer um”, denuncia um senhor.
Muitos outros relatos apontam para os mesmos problemas, péssimo atendimento da administração, local mal cuidado, falta de segurança, sumiço de restos mortais, descaso com as famílias que estão sepultando seus entes e denuncia de até haver interferência de facção criminosa no local.
Essas pessoas estão se organizando e cobrando a intervenção tanto do Poder Público quanto do Judiciário através do Ministério Público.
Assista ao vídeo que mostra onde estão os sacos com restos mortais sem qualquer identificação: