Foram muitos obstáculos para encontrar as informações necessárias após 20 anos de adoção, mas, os objetivos e a persistência sempre constantes, agora com nova meta
Há cerca de três semanas a reportagem do “Alô Poços” deu início a uma saga que não se podia imaginar onde iria dar, o que encontraríamos pelo caminho e tão menos se alcançaríamos o êxito esperado. A mãe adotiva de, hoje, uma mulher de 20 anos de idade procurando desesperadamente pela mãe biológica da filha. A criança foi adotada em Poços de Caldas, município do Sul de Minas Gerais, em 2001, e levada para Americana (SP) nos primeiros dias de vida. A mãe biológica era de outro município da região Sul-mineira, tinha vindo para o Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Poços de Caldas apenas para dar a luz e entregar a recém-nascida para adoção.
A fim de preservar a identidade das personagens envolvidas, trataremos a mãe adotiva por “L.C.” e a criança adotada por “A.P.C.”.
L.C., hoje divorciada e aos 57 anos de idade, conta que desde menina tinha o sonho de receber um bebê enrolado em cobertor dos braços de alguém. Os anos se passaram, a criança cresceu, se formou mulher, se casou e o sonho se mantinha. Com problemas de descolamento de placenta, L.C. chegou a ter três gestações que não evoluíram, todavia, L.C. diz “mesmo que eu tivesse meus três filhos, a adoção da A.P.C. foi e é a realização de um sonho”.
Morando em Americana, L.C. e seu esposo decidiram, no início dos anos 2000, montar um processo de interesse de adoção e distribuíram para diversas comarcas dos estados de São Paulo e de Minas Gerais, inclusive para Poços de Caldas.
A Adoção
Chegamos em 27 de maio de 2001. A mãe biológica, que trataremos por M.F.O., entrava em trabalho de parto na Santa Casa de Poços de Caldas, trazendo ao mundo A.P.C., que dias depois deixaria a cidade nos braços de seus pais adotivos.
“Como tínhamos demonstrado o interesse em adotar uma menina, a Assistência Social do Fórum de Poços de Caldas entrou em contato comigo e, na mesma hora, partimos, eu, meu ex-marido e minha ex-sogra, de Americana para Poços de Caldas. Quando chegamos, meu sonho se tornava realidade e recebi a A.P.C. da forma que sempre sonhei. Ela estava com apenas dois dias de vida”, conta L.C. emocionada.
O processo de adoção de A.P.C. tramitou pelo Judiciário de Americana e, assim, a vida seguiu ao longo dos anos. Nunca mais houve interesse e nem havia motivo para contato com Poços de Caldas, tão menos em obter informações sobre a mãe biológica.
Convivência
Aos cinco anos idade a, então, pequena A.P.C. desenvolveu diabetes e, como sempre, recebeu o carinho, a atenção e os cuidados da mãe adotiva. Mais tarde, já na adolescência, rebeldia [algo muito comum para a maioria dos adolescentes], déficit de atenção nas aulas do Ensino Médio, algo que a mãe adotiva acredita ter sido ampliado após a separação do pai. A relação com a mãe já não era mais a mesma.
“No Ensino Médio, as professoras me chamavam na escola para dizer que ela era muito inteligente, muito capaz, mas, não focava, não prestava atenção nas aulas e, por isso, tirava notas baixas. Quando me separei ela começou a fazer terapia, mas, confesso que não adiantou muito, ajudou uns 30% só”, conta L.C. acrescentando que a forma que a filha a tratava dava a impressão que ela a culpava.
Em um dos vários momentos em que a reportagem do “Alô Poços” conversou com a mãe adotiva, L.C. chegou a comentar que, tanto ela quanto outros integrantes da família, por vezes perguntaram se A.P.C. não deseja encontrar a família biológica. “Acho que por receio de nos magoar, ela nunca manifestou essa vontade. Eu confio muito que o encontro com a mãe biológica possa ajudar muito para que ela se conhecer, ela se entender. Muitas vezes o modo dela agir demonstrava certa revolta em ter sido adotada, com coisas do tipo ‘minha mãe me jogou no lixo’, ‘você me tirou da minha mãe’. São coisas que machucam demais, tanto eu quanto ela. A forma que ela me tratava parecia que me culpava de alguma coisa. Quando era criança e tinha eventos na escola, como Dia das Mães, eu percebia que as outras crianças ficavam as mães e ela não”.
Deixando a Casa
A mãe adotiva revela que alguns anos atrás elas tiveram uma discussão muito acirrada a ponto de L.C. se trancar no banheiro. “Foi preciso pedir ajuda. Nesse dia, depois de conversarem bastante com ela [A.P.C.], ela chorou muito e foi morar com um namorado, mas, de uma hora para outra se separaram. Eles tinham namorado por três anos e meio. Depois vim saber que ela era muito mal tratada por ele, xingada. Cheguei a conversar com ela sobre o relacionamento, porque eu já desconfiava, mas ela nunca contou a verdade. Depois dessa separação ela reatou um relacionamento que teve cinco atrás e hoje eles vivem juntos, mas é um lugar muito ruim. Ela foi criada como uma princesa, como se fosse um bibelô de cristal. Ela foi muito bem criada”, conta.
De acordo com L.C., a filha e o companheiro passam por dificuldades, apenas ele trabalha e o salário é baixo, contudo, não tem como ajudar mais. “Eu pago o plano de saúde dela e o pai paga a faculdade. Ela está fazendo o curso de Enfermagem Padrão”, menciona.
Outra revelação feita por L.C. é que, devido aos problemas emocionais que A.P.C. sofre, ela precisa fazer tratamento, no entanto, ela não leva a sério e fica dias sem tomar a medicação. “Então, eu reforço esse desejo de encontrar a mãe biológica da minha filha porque eu acredito que essa possa ser a chave para que ela melhore”, insiste.
Consideração
A.P.C. só veio a saber sobre a tentativa de localizar sua mãe biológica há poucos dias. L.C. queria fazer uma surpresa para a sua filha e também temia que ela pudesse ter reação de recusa. Mas, felizmente, isso não ocorreu. Em conversa entre elas e uma amiga, A.P.C. relatou que gostaria de conhecer a mãe biológica, mesmo que ela venha a ser grosseira, mesmo que venha a ser mal recebida ou rejeitada novamente. “Quero saber quem é. Não tenho nenhum sentimento ruim em relação a ela. Também não tenho sentimento de ser filha dela. Mas, quero agradecer por ela ter me dado à luz. Ela poderia ter me jogado no lixo. Poderia ter feito um aborto. Então, só agradecer por ter me deixado nascer e que o pessoal do Fórum encontrasse a família mais adequada para cuidar de mim”, contou A.P.C. à amigo em comum com a mãe adotiva.
“Não sei qual futuro Deus tem para ela, mas, espero que o fato dela encontrar a mãe biológica venha ajuda-la a mudar os comportamentos dela”, diz a mãe adotiva.
A Missão
Pois bem, depois de conhecer toda a história que envolve a adoção de A.P.C., a relação mãe adotiva e filha na infância e na adolescência e os dias atuais de ambas, deu início à saga em busca da mãe biológica.
O primeiro passo e, por certo, o que seria mais fácil para saber o nome da mãe e de qual cidade ela seria era buscar tais informação na Santa Casa de Poços de Caldas. Até então, não tínhamos qualquer informação sobre a mãe biológica. Sabíamos apenas que uma parturiente de outra cidade teria dado entrada na Santa Casa para um parto no dia 27 de maio de 2001 e que a filha foi adotada dois dias depois sendo levada para a cidade paulista de Americana.
Mas o tempo não perdoa e nos deparamos com o primeiro obstáculo. Por força de lei, o hospital deve manter seus registros físicos por 20 anos, prazo que expirou no ano passado e, portanto, não conseguimos qualquer informação.
L.C. não teve nenhum contato com a mãe biológica ou com qualquer familiar da criança adotada, de forma que, além de não saber o nome da mãe biológica, também não sabia em qual cidade ela morava.
Alguns dias se passaram para que estudássemos onde buscar as informações pretendidas, já que, sem o nome da mãe biológica parecia ser impossível obter qualquer notícia e esse era mais um obstáculo.
Todavia, barreiras existem para ser transpassadas e a persistência deve ser uma constante. O próximo passo seria encontrar o processo de adoção no Fórum de Poços de Caldas, certamente naquela peça jurídica deveriam constar os dados de todos os envolvidos. Ocorre que todo o processo de adoção tramitou no Judiciário de Americana (SP).
De volta à estaca zero. Parecia ser impossível chegar ao final dessa história com o objetivo pretendido, até porque, em Americana, a mãe adotiva não conseguia informações que contribuíssem para a localização da mãe biológica.
Senão a última tentativa, uma luz surgiu ao lembrar que a documentação com intenção de adoção, montada pelos pais adotivos, foi enviada para diversas comarcas do estado de São Paulo e de Minas Gerais. Assim, a esperança era encontrar a agulha no palheiro junto à Assistência Social do Fórum de Poços de Caldas.
Já estávamos há mais duas semanas em busca de informações que, mais do que saber o nome da mãe biológica, era saber onde ela morava e acima disso, se estava viva, como estava sua vida, se haveria algum parente vivo.
Primeiras Notícias
Era uma quinta-feira, 17, deste mês de fevereiro. O encontro de um livro pelas assistentes sociais do Fórum de Poços de Caldas nos encheu de esperança. Mas não tinha o bastante, constava apenas o nome de quem queria adotar, o nome da criança e o nome e cidade da mãe biológica. Já era alguma coisa para quem não tinha nada. Pela primeira vez chegávamos a alguma informação. Naquele momento conseguíamos o nome da mãe biológica, M.F.O., e a cidade de origem.
Veio o final de semana e era preciso manter a calma para dar sequência às investigações no próximo dia útil.
Chegamos na segunda-feira, 20, com ótimas notícias da Assistência Social do Fórum de Poços de Caldas. Outro livro foi encontrado e, desta vez, com informações animadoras. Nele constava o endereço em que a mãe biológica mora em 2001, quando deu a luz.
Agora, com nome e endereço da mãe biológica, o próximo passo seria torcer para que ela continuasse no mesmo endereço ou algum familiar. Já nos preparávamos para a possibilidade de não encontrarmos nem uma coisa e nem outra, assim, vislumbrávamos a possibilidade de algum antigo vizinho lembrar e ajudar com a apuração.
A dúvida, naquele momento, era como chegar ao endereço e como fazer a abordagem, uma vez que já se passaram 20 anos e é preciso tato para tratar assuntos de tamanha relevância.
A Localização
De tal sorte, a reportagem decidiu entrar em contato com a Promoção Social da Prefeitura da cidade da região onde a mãe biológica morava em 2001. Passamos todas as informações que temos: a história da adoção, os motivos para querer localizar a mãe biológica, o nome completo e o endereço.
Tanto a secretária de Promoção Social quanto a assistente social foram muito receptivas e já no dia seguinte já nos davam retorno.
Deus, que tem agido durante todo o tempo, deu nova demonstração. A mãe biológica de A.P.C. estava localizada, residindo ainda no mesmo endereço de 2001.
Com aparentes 45 anos de idade, a assistente social nos contou que a mulher vive com seu marido e filhos, tem alguns problemas de saúde, inclusive de ordem emocional, a exemplo da filha que foi entregue para adoção. Todavia, o mais surpreendente ainda estava por vir.
O Segredo
M.F.O. relatou à assistente social que não tem um dia na vida que ela não pense em tudo que aconteceu e na filha entregue para adoção. O parto da A.P.C. é o maior segredo da vida da mãe biológica.
Naquele tempo, o então pai da criança não queria filhos e M.F.O. teria vindo sozinha para Poços de Caldas ter a criança, como aconteceu e dois dias após o parto já estava em poder dos pais adotivos rumo à cidade de Americana.
De volta à sua cidade, M.F.O. relatou ao familiares que havia perdido a criança e nunca mais ninguém tocou no assunto, de modo que, ao ser abordado com o assunto se assustou e refutou qualquer aproximação com medo que, depois de 20 anos, venham a descobrir uma mentira do passado e que a criança está viva e hoje é uma mulher.
Compromisso e Meta
Tanto a secretária de Promoção Social quanto a assistente social assumiram o compromisso com o portal “Alô Poços” de manter contato com M.F.O., até mesmo em função de se tratar de família humilde e que demanda atenção e cuidados, uma vez que, após a missão da reportagem ter sido cumprida [localizar a mãe biológica], o objetivo foi ampliado e, agora, a meta é promover o encontro das mães, biológica e adotiva, e a filha.
A expectativa do portal “Alô Poços” é de que esse encontro possa acontecer nos próximos dias.
Muito boa a matéria! Qual a cidade da mãe biológica? Não deixe de nos informar o desfecho desta história!