Seis anos, um mês e um dia depois do assassinato de menina Beatriz Angélica Mota, de 7 anos, o caso teve um desfecho. O suspeito de desferir 42 facadas na garota, dentro de um colégio particular de Petrolina, no Sertão, foi identificado pela Polícia Científica de Pernambuco e confessou o assassinato.
O DNA encontrado na faca, segundo o laudo pericial, é de Marcelo da Silva de 40 anos, que está preso por outros crimes. Nesta terça (11), após ser ouvido por delegados, ele foi indiciado.
Desde a data do assassinato, foram realizadas sete perícias. O inquérito acumulou 24 volumes, 442 depoimentos e 900 horas de imagens analisadas.
A menina de 7 anos participava da formatura da irmã em uma das escolas mais tradicionais de Petrolina quando foi beber água e desapareceu. — Foto: Reprodução/TV Globo
Em dezembro de 2021, os pais da criança percorreram a pé mais de 700 quilômetros, entre Petrolina e o Recife, para pedir justiça.
Pais da menina Beatriz Angélica caminharam mais de 700 quilômetros entre Petrolina e o recife para pedir justiça.
Laudo pericial
A TV Globo teve acesso exclusivo ao laudo final do Caso Beatriz. Concluído na segunda (10), o documento foi enviado, nesta terça (11), para a Secretaria Estadual de Defesa Social (SDS) e ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE).
O documento da perícia técnica não esclarece a motivação do crime. Também não informa quais outros crimes são atribuídos ao homem que está preso.
A peça-chave para o esclarecimento do caso foi a faca usada pelo criminoso Marcelo da Silva, que está preso em Salgueiro, também no Sertão pernambucano.
Faca usada para matar a menina Beatriz Angélica foi peça-chave para coleta de material genético que identificou suspeito — Foto: Reprodução/TV Globo
Os peritos coletaram o DNA no cabo da arma, deixada no local do homicídio. A partir da análise, foi possível comparar com o perfil do assassino. O DNA dele fazia parte do Banco Estadual de Perfis Genéticos.
Segundo informações obtidas com pela TV Globo, o DNA da faca foi comparado com o material genético de 125 pessoas, consideradas suspeitas.
Todas essas amostras foram coletadas pelos peritos pernambucanos do Instituto de Genética Forense Eduardo Campos, desde 2015.
Documento da Polícia Científica de Pernambuco que apontou o suspeito de matar a menina Beatriz Angélica foi enviado para o MPPE e SDS, nesta terça (11) — Foto: Reprodução/TV Globo
E foi justamente o Banco de Perfis Genéticos que revelou que entre esses suspeitos estava o assassino de Beatriz Angélica, que já está preso por outros crimes.
O laudo mostra, ainda, que o perfil genético obtido a partir da amostra é compatível com o DNA da menina e do suspeito.
Marcelo da Silva, 40 anos, é suspeito de matar a menina Beatriz Mota, em Petrolina, em 2015 — Foto: Reprodução/TV Globo
Notas
Por meio de nota, a Secretaria de Defesa Social afirmou que, ao ser ouvido pelos delegados da Força Tarefa, Marcelo da Silva confessou o assassinato e foi indiciado.
O MPPE informou que já “adotou providências para garantir a segurança do preso, bem como já requisitou perícias complementares à Polícia Científica”, mas não entrou em detalhes sobre quais providências foram.
Crime
Imagens mostram a caçula da família Mota perto do pai e da mãe antes de desaparecer — Foto: Reprodução/TV Globo
Beatriz Angélica Mota estava em uma festa no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, com os pais, festejando a formatura da irmã. Cerca de 2 mil pessoas estavam na unidade de ensino no dia do evento.
O pai dela era professor de inglês da instituição. A última imagem que a polícia tem de Beatriz foi registrada às 21h59 daquele dia. Ela se afasta da mãe e vai até o bebedouro do colégio, localizado na parte inferior da quadra.
O corpo de garota foi encontrado em um depósito de material esportivo desativado, perto da quadra onde ocorria a solenidade.
A menina tinha ferimentos no tórax, membros superiores e inferiores. A faca usada no crime, de tipo peixeira, foi encontrada cravada na região do abdômen da criança.
No dia seguinte, a faca foi tirada de Petrolina e entregue ao Instituto de genética Forense, no Recife. A imagem de uma câmera de segurança mostrando um possível suspeito chegou a circular, mas a polícia não conseguiu identificá-lo.
Investigação
O corpo de Beatriz foi encontrado em um depósito perto da quadra onde acontecia a festa, a 30 metros do bebedouro — Foto: Reprodução/TV Globo
Depois de passar por oito delegados deferentes, a investigação ficou com uma Força-Tarefa formada por quatro profissionais que passaram a comandar as apurações.
Durante a caminhada de mais de 700 quilômetros pedindo por justiça, em dezembro de 2021, a mãe de Beatriz afirmava sempre que “a polícia tinha sabotado o inquérito”. Segundo Lúcia Mota, “os assassinos estavam sendo protegidos pela polícia”.
Após a caminhada, os pais da menina se reuniram com o governador Paulo Câmara (PSB), no Palácio das Princesas, sede do governo. O governador afirmou que era favorável ao processo de federalização das investigações.
No mesmo dia, o chefe do Executivo estadual anunciou a demissão do perito Diego Costa, que prestou consultoria ao colégio onde a menina foi morta.
Diante da demissão, a Associação de Polícia Científica afirmou que “estava atenta a todos os desdobramentos do caso, para adotar todas as providências voltadas para a defesa dos interesses do perito criminal Diego e de toda categoria”.
No encontro com os pais da menina, no dia da chegada da caminhada ao Recife, o secretário de Defesa Social, Humberto Freire, reconheceu que “houve dificuldades em momentos da investigação”.
Freire disse também, no dia do encontro, que imagens de câmeras de segurança que tinham sido apagadas foram recuperadas. Um inquérito foi aberto para identificar se foi “uma falha de manuseio” ou intencional.
Nesta ocasião, o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora informou que as imagens divulgadas integram o inquérito policial e que as pessoas que aparecem nelas não fazem parte da instituição.
A instituição de ensino afirmou, ainda, que “não houve manipulação ou exclusão de imagens das câmeras”.
Procurado pela TV Globo para comentar os problemas na investigação, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE), Bruno Baptista, afirmou que “falhas ocorreram principalmente no início do inquérito”.
*Fonte: g1