Crianças africanas que participaram do estudo desenvolveram defesa contra infecções respiratórias e até generalizadas além da tuberculose
Tradicional no calendário vacinal mundial, o imunizante BCG (Bacille Calmette-Guérin), oferece proteção contra outros tipos de doença além da tuberculose. Em países de baixa renda, pesquisas mostram que as crianças vacinadas acabam mais resistentes também a infecções respiratórias e generalizadas (sepse). Em nações mais ricas, os pacientes imunizados parecem sofrer menos com alergias e eczema.
Pesquisadores do Murdoch Children’s Research Institute (MCRI), na Austrália, descobriram como a fórmula atua no corpo e desencadeia essa proteção. Em um artigo publicado na revista científica Science Advances, os cientistas mostram que bebês nascidos em Uganda e na Guiné-Bissau vacinados com o imunizante desenvolveram defesas mais eficazes.
“Pela primeira vez, mostramos como a vacina BCG pode ter efeitos duradouros no sistema imunológico de bebês”, afirmou o biólogo molecular Boris Novakovic, em entrevista ao site Science Alert.
Para chegar à conclusão, os cientistas imunizaram 63 crianças dez dias após o nascimento com a vacina BCG. Outros 67 bebês não receberam a dose.
Foram analisados os glóbulos brancos circulantes, chamados de monócitos, presentes nas amostras de sangue dos pacientes dos dois grupos. As células compõem o sistema imunológico inato do corpo humano e fazem parte da primeira linha de defesa contra invasores.
Os cientistas encontraram diferenças nos monócitos dos participantes vacinados e não imunizados. Os bebês que receberam a dose de BCG tinham glóbulos brancos mais responsivos a patógenos de forma geral. Essa característica se manteve mesmo um ano após a vacinação.
Os pesquisadores também isolaram monócitos de adultos em laboratório e expuseram as células a dois tipos de vacinas BCG para verificar em detalhes o efeito dos imunizantes.
Novakovic explica que as células que tiveram contato com as vacinas são mais eficientes para lidar com patógenos e respondem a ameaças de maneira mais rápida. Os monócitos das crianças imunizadas acabam ficando em estado de alerta a longo prazo e, por isso, são capazes de agir rapidamente contra qualquer tipo de infecção.
Segundo os pesquisadores, outras vacinas que usam vírus atenuados, como os imunizantes contra poliomielite, sarampo e varíola, por exemplo, devem ter efeito semelhante.
Outros estudos já sugeriram que a vacina contra a tuberculose também poderia reduzir as mortes por Covid-19. A BCG também é aplicada em pacientes com câncer de bexiga após a retirada do tumor — a ideia é usar o imunizante para evitar uma recorrência da doença na região.
*Fonte: Metrópoles