Por Rodrigo Ramthum –
“O faixa preta é um faixa branca que nunca desistiu”. A frase é um clichê entre os praticantes de artes marciais. Hoje o texto é bem pessoal, mas gostaria de compartilhar com os leitores da coluna esse momento. Cerca de três décadas separam as duas fotos. Na primeira, sensei Gerardo Coelho amarra em minha cintura a faixa amarela. Na segunda, a faixa preta. As artes marciais entraram em minha vida logo cedo. Sempre gostei de filmes de ninjas, samurais, Bruce Lee, é claro, Van Damme etc. Com cerca de nove anos, entrei para o karate na antiga academia Falcão, em Taguatinga (DF), sob a tutela dos senseis Luiz Carlos Ribeiro de Brito e Hélio Ribeiro de Brito (in memoriam). Os dois eram oriundos da tradicional academia Ashitekan, do sensei Gerardo, daí a explicação para a presença dele no meu primeiro exame de faixa.
Os anos foram passando. Graduei-me ainda vermelha e laranja, mas a adolescência chegou e acabei me afastando. Vieram o rock’n’roll, o 2º grau, a universidade e, confesso, acabei caminhando por estradas um tanto tortuosas, mas sempre com o karate guardado em meu coração. Ainda cursando jornalismo, decidi voltar para me reconectar com meu passado e escapar de coisas e pessoas que não me faziam bem. Tive a sorte de reencontrar o sensei Gerardo, que me acolheu de braços abertos, sem questionamentos ou julgamentos. Graduei-me verde. Parei de novo.
Mais alguns anos se passaram e voltei novamente. O sensei, mais uma vez, me aceitou de pronto e retomei os treinamentos. Peguei a faixa roxa e, mais uma vez (é sério!), parei. No entanto, dessa vez o motivo era mais nobre: já estava casado, com filhos e atribulado no trabalho (não justifica, mas explica). Mais um tempo se passou e retornei aos treinos. Com a resiliência de sempre, sensei Gerardo me deu total apoio, mas não era mais possível treinar com ele por conta de agenda. Foi aí que, conversando, chegamos ao nome do sensei Paulo Sérgio.
Com a devida autorização do mestre Gerardo, procurei-o questionando se poderia treinar na Associação Bushinkan de Karate (ABKS). Já o conhecia de trabalhos na Federação, então a conversa foi amistosa e logo estava praticando em seu dojo. Peguei a faixa marrom, veio a pandemia, ficamos parados, retornamos no começo de 2021 e decidi buscar a tão sonhada faixa preta. Pedi a autorização do sensei Paulo, consultei o sensei Gerardo e ambos compreenderam a importância dessa conquista para mim. Faltava, agora, me preparar de corpo e alma para o desafio.
Não foi fácil. Tive o apoio de várias pessoas, como os senseis Vanlor e Gerardo Junior (amigos de longa data e colegas na academia Falcão e Ashitekan), do sensei Heitor e do parceiro de treinos e faixa preta Uérmes. Fui provocado a buscar o meu melhor pelo sensei Paulo. O homem é linha dura! Não aliviou um segundo sequer e cobrou compromisso e entrega da minha parte. Tive, ainda, o apoio fundamental da minha família, em especial minha esposa, Mécia, minha mãe, Hildete, minha irmã, Fabiana, e minha filha, Rebeca.
Foram quatro semanas de exame. Teste físico, aula de primeiros socorros, provas teórica, de Direito e de arbitragem, além de curso de defesa pessoal com o sensei Nonoyama. Tudo isso fora o exame propriamente dito, com kihon, kata, bunkai, renzoku waza e jiyu kumite. No domingo (19), recebi minha faixa preta das mãos daquele que nunca desistiu de mim. Não poderia ser mais grato por essa jornada. “O faixa preta é um faixa branca que nunca desistiu”. A frase é um clichê entre os praticantes de artes marciais, mas nem por isso menos verdadeira. Sou a prova viva disso. Que venham novos desafios! Até o próximo post. Oss