Diretor da empresa fala das ingerências cometidas durante gestões passadas e que impuseram graves dificuldades e multas até hoje
Fundada em 1985, a Águas Minerais Poços de Caldas, é uma empresa pública da administração municipal de Poços de Caldas, município do Sul de Minas Gerais, representada e gerida pelo Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE), que tem como sócio a Prefeitura local.
O atual diretor da Águas Minerais, Marcos Tadeu de Moraes Sala Sansão, é engenheiro agrônomo de formação, casado, pai de dois filhos, Gabriel Maran Sansão, de 19 anos, e Letícia Maran Sansão, estudante de Odontologia na Universidade Federal de Pelotas (RS), 23 anos.
Sanção trabalhou, por 18 anos, em empresas de grande porte no ramo da agricultura e, já na política, foi secretário Municipal de Serviços Públicos, de Desenvolvimento Econômico e Trabalho e de Defesa Social além de também ter sido eleitor e cumprido mandato como vereador.
Alô Poços – Dados de dezembro de 2016 demonstram a produção de 20 mil galões de 20 litros, 2.300 de 10 litros, 5.800 fardos de garrafas de 510 ml, 1.500 fardos de garrafas de 1,5 litros e 800 caixas de copos mensalmente, o que totalizava um envase médio de 480 mil litros/mês. Hoje, qual é a realidade da Águas Minerais Poços de Caldas?
Marcos Sansão – Nós praticamente duplicamos o número de envases agora, no ano de 2022.
A gente tinha um problema crônico aqui, na empresa. Nós temos duas captações, uma na serra, que é água afluente, que aflora, e a outra é a captação em um poço. As duas águas são semelhantes quimicamente. Mas, na época da seca a gente tinha o problema da água na captação um, que é a da serra secar. Na época da estiagem a gente não tinha essa água e tinha que trabalhar apenas com a água do poço e ele tinha uma condição muito limitada de trabalho.
Nós temos dois técnicos, o Miguel e o Felipe, que fizeram a medição da capacidade do poço e constataram que a capacidade era bem maior do que a gente vinha utilizando.
Com isso, determinei que a bomba fosse consertada e foi feita a troca de todo o encanamento desse equipamento e do poço e nós passamos a produção de 1.200 litros/hora para nove mil litros/hora.
Então, hoje, só o poço tem capacidade de manter a empresa o ano inteiro, fora a captação um, que é a da Serra. A quantidade de água para a gente hoje, que era um grande problema, hoje essa questão está solucionada.
“O nosso problema hoje é a agregação de valor. A gente produz a água e tudo, mas, o valor agregado é muito pouco. Não é uma empresa que traz lucros para o município como o DME [Departamento Municipal de Eletricidade]”.
Marcos Sansão sobre dificuldades na Águas Minerais Poços de Caldas.
Alô Poços – Por diversas vezes a Direção da empresa, em várias gestões, tentou ampliar o mercado de atuação. Isso foi conseguido ou continua atuando apenas em Poços de Caldas? Quais as principais dificuldades para conquistar novos mercados?
Marcos Sansão – Nós sofremos com algumas coisas que foram feitas no passado e a gente está revertendo agora.
No passado, os distribuidores de água mineral da cidade eram vistos todos como concorrentes da Águas Minerais, porque ela é uma das poucas indústrias do setor no Brasil que faz a captação, envasa e comercializa, ou seja, ela faz tudo.
A maioria das empresas faz a captação, o envase e passa para o distribuidor, que faz o comércio.
Esses distribuidores eram vistos como concorrentes da Águas Minerais Poços de Caldas, o que, para mim, não é verdade. O distribuidor tem que ser parceiro. Hoje nós estamos chamando os distribuidores para também trabalharem com a distribuição da Águas Minerais Poços de Caldas.
Antes, a pessoa vinha, queria abrir um comércio de água mineral e ela não podia comprar da Águas Minerais Poços de Caldas, não se vendia para distribuidores, então, eles foram atrás, em outras cidades, como Andradas, Águas da Prata, Caconde, e trouxeram outras marcas, invadiram o nosso mercado com outras marcas por ingerências passadas e isso dificultou bastante.
Nós estamos competindo com um mercado que a própria Águas Minerais criou por não vender para o distribuidor. Hoje estou chamando os distribuidores para distribuir a nossa água.
Outro problema que nós tivemos foi em administrações passadas quando a empresa [Águas Minerais Poços de Caldas], mas, não fechou no papel [não deu baixa], fechou só o portão.
A empresa continuou funcionando, servindo água normalmente para a Prefeitura, DMAE e DME.
Nós tivemos uma fiscalização e sofremos multas milionárias por conta de sonegação de impostos, do Sefem, que é da Agência Nacional de Mineração, Receita Estadual. Foram muitas e muitas multas que nós estamos pagando até hoje.
Eu recebi, agora, duas multas, uma de R$ 1.999,00 e uma de R$ 2.001,00. Agora que elas foram executadas e que caíram para a gente pagar. Então, a gente sofre por ingerências passadas.
Alô Poços – Hoje, qual é a receita e os gastos da empresa em números?
Marcos Sansão – A receita agente tinha um ponto de equilíbrio. A receita da Águas Minerais eu não vou te passar em números, mas, a receita das Águas Minerais é pouca se for ver, se comparar com uma indústria.
Hoje nós temos poucas pessoas trabalhando, temos só 18 pessoas trabalhando na empresa e a receita é pouca, é de uma empresa de médio porte no Brasil, de um comércio de médio porte no Brasil, quando ela deveria ser triplicada, quadruplicada, quintuplicada, talvez.
Mas, o valor agregado da água é muito pouco e a disputa comercial com as outras empresas, com empresas particulares, nós somos uma empresa pública e disputamos o mercado com particulares que nem nota fiscal dão. Então, é uma disputa muito desigual da Águas Minerais com outras empresas.
Nós estamos capitalizando a empresa, a dificuldade nossa são essas multas, nós temos várias multas ainda encaminhadas, que estão em processo, multas lá de trás, conforme já falei, multa de 2001, quando a empresa estava fechada. Nós temos várias multas que estamos pagando, renegociando, dividimos essas multas para pagar e ainda elas estão chegando.
“Então, a dificuldade nossa são essas ingerências passadas, onde a empresa sofreu vários processos, e nós estamos pagando esses processos. é a falta de investimento que teve na empresa em si, porque hoje nós estamos com a maioria de todo o nosso maquinário desde a época de abertura de empresa, são máquinas já ultrapassadas. Essas são as principais dificuldades da Águas Minerais Poços de Caldas”.
Alô Poços – Existem projetos em andamento, novos investimentos e quais os projetos futuros para a Águas Minerais Poços de Caldas?
Marcos Sansão – Nós compramos, recentemente, foi um achado, nós compramos uma máquina com recurso próprio, a empresa Águas Minerais conseguiu comprar um maquinário mais novo.
A gente tinha um maquinário de 36 anos aqui, funcionando, mas, que dava muita manutenção, muita mão de obra. A gente conseguiu comprar um maquinário usado, de uma empresa que estava trocando suas máquinas e tinha uma máquina de envase de galões com apenas dez anos de uso.
Vale ressaltar que uma máquina dessa, nova, custa cerca de R$ 700 mil e nós conseguimos comprar por R$ 20 mil em quatro prestações de R$ 5 mil. Estamos com uma máquina praticamente nova.
É uma máquina de potencial muito maior do que o que a gente tinha e esse foi, creio, o principal investimento que nós fizemos com recurso próprio, sem dependência da Prefeitura Municipal.
“A gente fez a manutenção do poço que, até então, todo mundo sofria na época de estiagem, porque não tinha água e nós conseguimos passar de 1;200 litros/hora para nove mil litros de água/hora. Então, esses foram os investimentos que a gente fez com nosso recurso, que é pequeno, mas, a gente conseguiu espremer e fazer”.