Durante entrevista, Tiago Braz faz revelações polêmicas, como a estrutura oferecida para o exercício do mandato e a busca por segurança para votar projetos e outras matérias de forma consciente
O vereador Tiago Henrique Silva de Toledo Braz [Tiago Braz], do Partido Rede e Sustentabilidade, é o convidado desta semana para a “Entrevista Exclusiva”. Ele conta um pouco sobre sua trajetória de vida e as dificuldades pelas quais passou, sua linha de atuação como vereador neste primeiro mandato e a estrutura que é oferecida para o desenvolvimento do mandato, considerada ruim por ele.
Nascido e criado em Poços de Caldas, município do Sul de Minas Gerais, Tiago Braz tem 35 anos de idade, é casado, sempre estudou em escolas públicas no ensino médio e fundamental e sempre utilizou equipamentos públicos. Formado em Psicologia pela faculdade Pitágoras, atua há mais de dez anos na área social, principalmente com a dependência química. Trabalhou como coordenador do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora e do Programa Família Guardiã de Poços de Caldas, atuando diretamente com as Políticas Públicas.
Alô Poços – Como entrou para a política e o que lhe motiva a seguir nela?
Tiago Braz – Eu acompanho a política desde criança. Minha família sempre gostou, sempre acompanhou e sempre tive esse interesse, não em ser vereador, mas, de ser participativo. Interesse que esfriou um pouco entre 2012 e 2016, mais ou menos, devido à correria da vida, a faculdade… E, depois, não que eu tinha interesse em ser candidato, mas, estava trabalhando na área social, atuando como coordenador e, convivendo, tendo contato com o meio político, sem interesses políticos, sem nada, mas sempre tinha contato, no dia a dia, com um e com outro, às vezes na Promoção [Social], às vezes na rua, às vezes alguém que acessava a instituição para querer ajudar.
Em meio a isso tudo, recebi o convite já bem avançado, próximo da eleição.
Primeiro o convite para me filiar ao Rede, que veio no final de 2019, o qual aceitei e em 2020 veio o convite para ser candidato. Eu, dentro de uma análise, a gente estava no meio da pandemia, um monte de coisas acontecendo, eu topei aceitar esse desafio e deu certo.
Fomos eleitos, talvez não com uma votação tão expressiva, mas, eu fui o vereador que teve a prestação de contas de campanha mais baixa, investimento baixíssimo, uma campanha sem apadrinhamento, sem parceria com ninguém, uma campanha feita com a ajuda da família, de amigos e com pessoas que a gente tem contato de vida.
Então, fui eleito por uma representatividade e isso dá até mais liberdade no dia a dia para eu poder atuar sem ter o “rabo preso” com ninguém.
Alô Poços – O seu mandato está voltado para uma região ou setor da cidade em especial? Quais benefícios e melhorias já foram alcançados para a população e quais projetos estão em andamento?
Tiago Braz – Eu defendo as minorias. Se tiver minorias tem a minha defesa. É lógico que sempre com muita é coerência, mas, eu venho da área social, venho de baixo, de família simples.
Eu “ralei” muito para conseguir terminar os estudos. Depois tive períodos difíceis na vida particular, em diversos setores familiares e pessoais… Consegui retomar e terminar e concluir uma faculdade com muita luta.
Então, a gente sabe a dificuldade do dia a dia, a gente viveu na pele.
Hoje tenho um tanto bom de embasamento técnico e também teórico na área da psicologia, na área da assistência e é o meu foco. Minha bandeira maior é o tratamento, acompanhamento, pós-tratamento, reinserção de dependente químico, pessoas situação de rua.
A gente defende as minorias, os servidores, defende a educação e a saúde, que são prioridades.
Alô Poços – Primeiro mandato como vereador, o senhor está conseguindo colocar seus projetos em prática? Como está sendo ser vereador?
Tiago Braz – Nem tudo. Eu funciono dessa forma, minha vida é assim, tudo o que eu começo, eu começo lendo como se fosse um livro.
Então, o primeiro ano do mandato foi um ano de muita leitura, de muito estudo, um ano de muita análise de como funcionam as coisas e, graças a Deus, trabalhando bastante a gente conseguiu, ainda, lutar por algumas bandeiras, por algumas causas, propor algumas coisas, mas, a tendência é melhorar esse ano.
Esse ano, agora, também está sendo de muita análise, mas, a gente já tem um pouquinho mais de conhecimento, porém, depois que você entra é bem diferente do que a gente imagina do lado de fora.
A gente acha que o vereador tem uma força na teoria que, na prática, não tem. Isso é desgasta muito, emocionalmente. A gente sabe que tudo é muito difícil de acontecer.
Eu acho que a estrutura oferecida para um vereador trabalhar é péssima. Acho que posso dizer assim.
Você ter uma assessora para ser seu braço direito, seu braço esquerdo, te ajudar em tudo, é muito difícil. A gente está falando de diversas áreas, de diversos setores, de muita coisa que você precisa de conhecimento para votar aqui e para isso é preciso de estrutura.
Sou formado em psicologia do trabalho social. Se vem uma pauta dessa para eu votar, eu tenho mais tranquilidade, eu sei a quem recorrer para me contribuir, tenho conhecimento técnico de vida para isso, mas, outros setores, muitas coisas são novas para a gente e para isso, sem uma estrutura, você tem dificuldade de votar, tem dificuldade de saber se está fazendo certo.
Eu sou um “cara” que me cobro demais, então, para me dar um voto favorável eu tenho que estar muito confortável e, às vezes, você vota algumas questões sem estar 100% com certeza de que está fazendo o certo.
Isso tira o meu sono.
Alô Poços – Na última terça-feira, 15, foi aprovado por unanimidade em Primeira Discussão o Projeto de Lei nº 319/2021, que autoriza que autoriza o Departamento Municipal de Eletricidade (DME) a comprar 42% da Companhia Energética Rio das Flores por um valor entre R$ 24, R$26 milhões. Como explicar esse investimento? Não é um negócio estranho do ponto de vista econômico?
Tiago Braz – Nos estudos que nos apresentaram, e isso de forma informal, foi uma cobrança nossa, segundo a própria equipe do DME diz que esses trâmites são, realmente, de forma sigilosa até para não haver um leilão. Porque eles fazem todo um estudo e deixa isso amplamente aberto, outros interessados poderiam ter todo esse estudo, de uma forma fácil, e isso tornaria o empreendimento um leilão. Segundo eles, por isso esse sigilo.
Os estudos apresentados nos mostram números diferentes, números que têm coerência e tem até um uma folga nesses valores, está até um pouco abaixo do que eles entendem como um valor de mercado.
A gente votou em Primeira Discussão, ainda vai ter a Segunda. Eu tenho uma reunião agora, sexta-feira [sexta passada, 18], nós vamos passar um período, inclusive convidei outros vereadores e já tem alguns que confirmaram a presença, e nós vamos lá no DME e eles vão nos apresentar com mais tranquilidade para a gente tudo, inclusive, algumas coisas eu quero pedir para eles formalizarem, o que a gente sentir que está faltando no sistema da Câmara, porque é importante estar oficialmente formalizado.
Será para tirar algumas dúvidas que ainda ficaram. Esse pode-se dizer que é um projeto que eu votei favorável não 100% confortável.
Entendendo tudo que eles apresentaram, entendendo toda a credibilidade que o DME tem de todos os anos, eu considero o DME um pulmão ou o coração da cidade. A gente sabe que se não fosse o DME, talvez as contas públicas sabe lá onde estariam.
Isso tranquiliza um pouco e também, apesar de um valor altíssimo, perto do valor que o DME hoje possui, de toda a construção que o DME já fez, não é um investimento tão arrojado. A gente sabe que o caixa do DME hoje é muito maior do que isso. Então, não está sangrando o DME para fazer um investimento desse e se equipe técnica lá, se passou pelas comissões, pelos conselhos lá dentro e aprovaram isso, a gente, enquanto Legislativo, tem também que acreditar que está sendo feito um trabalho de qualidade dentro de uma empresa de tanta credibilidade.
Mas, ainda assim, ficando algumas dúvidas, conversamos com outras pessoas que tem alguns apontamentos, inclusive na terça-feira, após eu votar favorável, eu abri, para quem quiser da população, trazer questionamentos para a gente levar ao DME e tentar trazer essas respostas porque, na verdade, na terça-feira que vem [22] é a Segunda Discussão, onde ele, realmente, será aprovado e aí, se isso mesmo acontecer, o DME estará liberado para fazer essa transação.
Alô Poços – Vereador, o transporte público tem sido grande preocupação e motivo de muitas críticas. Também há muita controvérsia na manutenção da prestação do serviço emergencial do transporte público coletivo urbano pela empresa Auto Omnibus Circullare ao passo que a empresa Floramar já deveria ter começado a operar na cidade. Como o senhor avalia a situação do transporte público em Poços de Caldas, o valor da tarifa e qual sua sugestão para resolver o problema?
Tiago Braz – Quem acompanha a nossa luta há um ano e alguns meses de trabalho sabe que desde o primeiro dia de mandato a gente vem perseguindo esse tema, chegando no meio do furacão, já estava no meio de alguns contratos emergenciais e aí fomos estudar, aprofundar como estava a situação.
Aí você vê que são diversas irregularidades acontecendo. A gente, inclusive eu, o vereador Lucas Arruda e o vereador Diney, provocamos o Ministério Público que nos retornou dizendo já tem três processo ajuizados contra a Prefeitura Municipal referente ao transporte público e que não há o que se falar em transporte público m contrato emergencial porque ele é total ilegal. Contrato emergencial é uma excepcionalidade, que talvez, em um primeiro momento, até seria possível entender, mas, cinco contratos não dá para entender.
A gente acredita, inclusive, que se não fosse pela votação do final do ano, onde negamos o subsídio com muita luta e que tentaram até inverter a situação para a população, dizendo que a gente, que graças a essa votação, o transporte foi reajustado. Na verdade, graças a essa votação, a Prefeitura se movimentou porque viu que se não fizesse algo a gente correria o risco de, no final desse último contrato, realmente não tem o transporte em Poços e deu início ao prazo de 120 dias para oficializar tudo, formalizar tudo e a Floramar assumir.
Então, a gente espera por isso. Essa divulgação foi feita no recesso. Voltando do recesso, na primeira semana, protocolei um requerimento questionando todo esse processo de transição, todo estudo feito, todo estudo apresentado pela empresa Floramar.
A resposta está para chegar e a gente saber em que pé está isso. A gente espera que essa novela se encerre agora em maio e que após o término desse quinto contrato emergencial a Floramar assuma e a gente possa trazer uma resposta para a população que, inclusive, com a Floramar assumindo dentro de um processo de concessão onde passou por todos os trâmites legais e a gente tem ferramentas para cobrança, porque hoje, infelizmente, o transporte público é fiscalizado pela empresa, a empresa, praticamente, dita todas as regras do transporte.
A gente vê falta de linhas, a gente vê horário noturno praticamente sem nenhuma, transporte coletivo lotado, o preço um dos mais altos do Brasil e não temos nenhuma ferramenta de intervenção. Acho que todas que a gente pode fazer, todas as cobranças, a gente fez. Provocamos o Ministério Público, que também está em cima da Prefeitura.
Sempre cobramos a Prefeitura, fazemos requerimentos, votamos contra o subsídio, porque se fosse aprovado, provavelmente, esses contratos emergenciais iriam se repetir por mais vez e os reajustes iriam acontecer.
É muito importante a população saber disso e, agora, acho que deu um basta. Realmente, vai parar que isso aconteça, teremos ferramentas para cobrar, existe um contrato realmente legal e a gente espera, inclusive, tentar o melhor valor possível para trazer conforto para nossa população.
Alô Poços – O senhor pensa em se candidatar a deputado neste ano ou já tem candidato para essas eleições? Qual recado gostaria deixar a população de Poços de Caldas e do Sul de Minas com vistas às eleições?
Tiago Braz – Não sou candidato a deputado. Eu, por enquanto, ainda não finalizou tudo, mas, se o Lucas Arruda, candidato do Rede Sustentabilidade, formalizar a sua candidatura, terá meu apoio.
Já declarado, é um parceiro, a gente atua junto aqui, somos do mesmo partido, levantamos bandeiras semelhantes e terá meu apoio, no caso se for federal ou estadual.
Se acontecer, será para federal. Hoje, um deputado que eu tenho uma relação mais estreita, que inclusive mandou emendas para a gente em Poços, sempre abre as portas em Belo Horizonte, nos atende muito bem e me sinto confortável com ele, com as assessorias dele é o deputado Cássio Soares, de Passos, que provavelmente terá o meu apoio a deputado estadual.
Também não estou dizendo que será isso, porque a gente sabe como funciona, ainda não tem nada formalizado e a gente trabalha com construções coletivas, tanto junto com o Rede Sustentabilidade aqui de Poços, a gente tem uniões partidárias que discute apoio e vamos apoiar alguém que realmente a gente entenda que vai trazer benefícios para Poços de Caldas.
Sobre o recado, principalmente para a população de Poços de Caldas, mas, também da região, uma das nossas maiores lutas desde o começo, desde o ano passado na verdade, e que já vem do próprio Lucas, do primeiro mandato, é a construção do Hospital do Câncer e a gente acredita que ele vá sair do papel.
A gente esteve em Belo Horizonte lutando por isso, a gente vem cobrando, fizemos abaixo-assinado, estamos em cima disso. Acredito que ele vai sair do papel e graças a muita luta nossa. Isso a gente tem que deixar registrado, começando do Lucas, desde 2017, e eu, desde o ano passado, quando assumi. Tenho batalhado por isso e espero que, se concretizado, vai trazer um conforto para toda a população de Poços de Caldas e região, além de disponibilizar mais espaço no Hospital da Santa Casa para que possa atender outras demandas da saúde. Eu acho que vai ser importante demais para a nossa cidade.