O ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa criticou a relação passada do ex-ministro e atual pré-candidato à Presidência da República Sergio Moro (Podemos) com o presidente Jair Bolsonaro (PL).
“O pecado dele foi confiar em Jair Bolsonaro, entrar para esse governo”, afirmou Barbosa, durante entrevista exibida na madrugada de hoje no programa “Conversa com Bial” (TV Globo), ao ser perguntado por Pedro Bial se o erro de Moro foi não ser tão transparente quanto ele próprio foi no julgamento do mensalão.
Barbosa ressaltou ainda que tanto Moro quanto Lula precisam ficar atentos.
“Eu disse isso ao Moro, que ele corre risco de vida. O Brasil de hoje é muito mais violento que o de 4, 8 anos atrás”, completou, comentando a explosão de uma fábrica durante uma visita do ex-juiz.
Barbosa seguiu com suas críticas a Bolsonaro, quando questionado sobre seu voto nas eleições de 2022. “Ainda não formei minha opinião, mas com certeza jamais votaria em Jair Bolsonaro”, Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF, durante o “Conversa com Bial”
Ele classificou o governo Bolsonaro como desastroso. “O Brasil é um país estagnado, milhões e milhões de pessoas no desamparo absoluto, nós temos uma juventude que que vive em total desassossego. E eu não vejo o governo preocupado com esse tipo de coisa”.
Após a repercussão da entrevista, Moro concordou com a crítica e elogiou Barbosa. “Meu pecado foi acreditar que o atual Governo pensava do mesmo jeito, mas confesso que, como todos, me decepcionei.”
Na entrevista a Pedro Bial, Barbosa também falou sobre o racismo que enfrentou durante sua trajetória. “Qualquer negro no Brasil que ingresse, de uma maneira ou de outra, num espaço que supostamente, no imaginário do brasileiro, é reservado aos brancos, vai sofrer racismo, e de diversas maneiras, não tem como escapar.”
Eleições de 2018
Joaquim Barbosa explicou ainda por que desistiu de ser candidato à presidência em 2018.
“Me filiei no último dia e um mês depois desisti. Tinha dúvidas se valia ou não a pena entrar nessa guerra e não quis prolongar o mistério, criar um impasse”, declarou.
O ex-presidente do STF deixou claro que não acredita ter valores e temperamentos incompatíveis com a política.
“Acho que, para começar, se é verdade que eu nunca tive militância política —e eu nunca tive—, eu posso dizer a você que, no âmbito profissional onde sempre trafeguei, sou uma das pessoas que mais conhece política. Mas uma coisa é conhecer, outra é se lançar na arena.”
Eleições de 2022
Barbosa respondeu ainda sobre a possibilidade de se candidatar em 2022, caso veja a reeleição de Bolsonaro como algo certo de acontecer.
“Em princípio, sim, mas o prazo está muito curto e não tenho mais filiação partidária. Não procurei nenhum partido, estou tocando minha vida. Essa decisão teria que ser tomada até o começo de abril. Não sei se tem partidos por aí que querem uma pessoa tão ranzinza como eu”, completou, aos risos.
Ao final da entrevista, ele fez um apelo ainda aos jovens que votarão em 2022: “Seu voto pode ser determinante para a sequência da sua vida. Votar é crucial para essas gerações”.
Questionado pelo apresentador, o ex-ministro do STF declarou que um eventual governo seu teria pilares na social-democracia.
“PSDB é meio embromador. No PT, em certos aspectos, no primeiro governo Lula, havia uma ambiência social-democrata, mas, a partir do momento que outros assuntos entraram em jogo, mudou”, opinou.
Julgamento do mensalão
Barbosa relembrou ainda seus tempos no STF e o julgamento do mensalão, esquema de corrupção organizado pelo PT, por meio de pagamentos de mesadas, para corromper parlamentares e garantir apoio ao governo Lula no Congresso em 2003 e 2004, logo após a chegada do partido ao poder. O julgamento do mensalão no STF em 2012 se arrastou por meses e condenou 25 pessoas à prisão.
“Esse é um momento de ruptura absoluto na história do Brasil pelo seu lado simbólico, pelas suas dimensões. As pessoas não têm noção do que foi aquilo. Passei 11 anos no STF julgando milhares de assuntos e concomitantemente cuidando dessa ação”, declarou.
“Sofria pressão nenhuma, não dava bola. Fazia meu trabalho, estava ali no meu canto, cumpria meu dever. Tinha prática social quase nula, minha vida social era um ciclo pequeno de amigos que eu já tinha.”
STF progressista
Outro ponto levantado na entrevista foi as pautas progressistas que avançaram no STF em sua época, como o uso de células tronco e a união estável entre pessoas do mesmo sexo.
“Havia um grupo de ministros abertamente progressistas ou pendente a aderir as causas. Nós nem víamos como progressistas, víamos como obrigação nossa”, declarou, reforçando que nenhuma decisão foi tomada por ativismo político.
“O Supremo só toma decisões quando provocado. Ele não sai por aí procurando problemas sociais para decidir”, ressaltou, reforçando que todas as decisões foram tomadas com base na Constituição.
Barbosa declarou ainda que uma parcela da sociedade reagia a tais decisões por causa de uma “letargia social” e um “conservadorismo insuportável”.
“O poder tem que ser temporário, sobretudo poder em altíssimo nível”, ressaltou ainda.
O ex-ministro explicou também a Bial por que há mudanças no entendimento do STF entre os anos quanto a processos julgados. “Mudança da composição. Mudança das pessoas leva a mudança das orientações e dos pontos de vista”.
Momento marcante
Joaquim Barbosa revelou ainda que não gosta de estar no palco e sob atenção.
“Não, tenho muita dificuldade”, destacou, contando a Bial que, no dia em que Lula anunciou sua nomeação ao STF, foi o “momento mais apavorante” para ele. “Até então, não conhecia as luzes da TV e subitamente me vi sob centenas de câmeras, aquele pipocar me deixava apavorado. Com o tempo fui aprendendo”.
Trajetória
Barbosa atuou como ministro do Supremo de 2003 a 2014, presidindo o STF de 2012 até 2014 e ganhando destaque internacional em 2013, sendo eleito pela revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo.
O ex-presidente do STF se filiou ao PSB em 2018 e permaneceu no partido até este ano. Barbosa atualmente mantém conversas com empresários, economistas e políticos para avaliar uma eventual candidatura ao Palácio do Planalto.
Ainda sem sigla, ele é cobiçado pelo PSD e pelo União Brasil, fusão do Democratas com o PSL.
*Fonte: Portal Uol