A família mora em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte
Célia Arquimino Barros, 46, é a mãe de Miguel, 11. Na última terça (2), o menino ligou para a Polícia Militar de Minas Gerais para pedir ajuda, porque eles não tinham nada para comer. A família mora em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte. Na casa vivem Célia, Miguel e outros cinco filhos dela. Três dias após a ligação e a visibilidade que a história ganhou, a realidade da família começou a mudar. Em um primeiro momento, os policiais que receberam a ligação foram até eles e fizeram a doação de uma cesta básica. Devido à repercussão do caso, muitas outras pessoas passaram a enviar mantimentos para Miguel e sua família.
Sem emprego formal há cinco anos, a mãe, que é bombeiro civil, sonha em voltar a ter um trabalho fixo, para ter a garantia seus filhos não passarão por essa situação novamente. A seguir, Célia conta um pouco de sua história, da angústia de ver os filhos passando fome e dos sonhos de viver uma nova realidade a partir de agora.
“Eu nasci e cresci em Santa Luzia. Cheguei a morar em Ribeirão das Neves, quando eu estava com o pai das crianças, mas depois que me separei, voltei para cá. Hoje, moro com meus seis filhos. O mais velho tem 20 anos e o mais novo tem só nove meses. Eu costumava trabalhar como bombeiro civil e segurança em eventos, mas já estou há cinco anos sem um emprego fixo. Neste período eu vivia fazendo bicos para sustentar a casa e alimentar meus filhos. Porém, com o início da pandemia, a situação piorou. As oportunidades de trabalho diminuíram muito e nesse período o meu curso de reciclagem venceu. Eu precisava fazer o curso para tentar conseguir um trabalho, mas eu já não tinha condições de pagar pela reciclagem, que custa cerca de 500 reais.
Sem emprego, nós passamos a viver com o dinheiro que eu recebo do Auxílio Brasil, o antigo Bolsa Família. Agora, o auxílio aumentou um pouquinho, mas as coisas no mercado estão todas muito caras. Quando a gente recebe o dinheiro faz compras, mas elas só costumam durar uns 15 dias. Depois disso, eu pedia um pouquinho de alguma coisa para os vizinhos, para os meus filhos terem o que comer. Mas chegou em um ponto que eu não tinha nem coragem de pedir mais, de tanto que eu já tinha pedido. Eu já estava desesperada, não sabia mais o que fazer. Já tinha alguns dias que as crianças estavam comendo só mingau de fubá de manhã e à noite, porque era o que a gente tinha. As crianças pediam outras coisas, mas eu não tinha o que dar para elas.
Foi aí que o Miguel me viu chorando de desespero no sofá. Ele pegou o telefone e ligou para a polícia sem eu saber. Só depois que ele me contou que tinha ligado e pedido ajuda. Os policiais chegaram, trouxeram uma primeira cesta básica e as coisas já começaram a mudar. Depois que eles vieram, o meu celular não parou de tocar, muita gente procurou querendo saber como ajudar também.
Nesses três dias a gente já ganhou bastante coisa, mantimentos, frutas, fraldas para o bebê e até brinquedos para as crianças. Antes eu não tinha nada no armário e na geladeira e agora temos uma diversidade, eu posso escolher o que fazer para os meus filhos comerem. Eu nem sei como agradecer tanta gente que ficou sabendo da nossa situação e resolveu ajudar. Toda hora tem alguém ligando querendo trazer alguma coisa para a gente. Não tem nada que pague ver o sorriso no rosto dos meus filhos. Com essas doações, nós já temos o que comer pelos próximos três ou quatro meses. É uma alegria enorme saber que meus filhos não vão passar fome. Eu também estou conseguindo ajudar outras pessoas. Eu pude repartir um pouco do que ganhei com a minha filha mais velha, com os meus netos e outros vizinhos que estavam na mesma situação.
É muito gratificante ver que eu estava em uma situação desesperadora, não sabia o que fazer, e agora posso ajudar outras pessoas que estavam passando pelo mesmo que eu. Meu sonho agora é conseguir um emprego de carteira assinada, para saber que todo mês eu vou ter um dinheiro que dê para suprir todas as necessidades dos meus filhos. Não quero ver eles passando fome nunca mais”. (Isac Godinho/Folhapress)
*Fonte: O Tempo