É importante pontuar a necessidade da facilitação do acesso ao 5G aos consumidores de menor poder aquisitivo
Em julho [2022], foi dado início a uma nova fase das telecomunicações no país com a estreia da quinta geração da internet móvel – o 5G. Inaugurado em Brasília, contemplará, em breve, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e João Pessoa, devendo chegar em todas as capitais até agosto deste ano.
Por garantir velocidade até cem vezes mais rápida de download e upload de dados, além de conexões mais estáveis, o 5G permitirá muitas novas experiências de consumo. São esperadas diversas aplicações no campo do audiovisual, do entretenimento, da comunicação e de serviços digitais.
Em setores produtivos, empregos já existentes, como cirurgias a distância e o uso comercial de drones, poderão ter amplo potencial de expansão. Da mesma forma, o tráfego de grandes volumes de dados entre aparelhos e a internet será plenamente disseminado, popularizando as aplicações de IoT (internet das coisas).
No entanto, para viabilizar tantas inovações, o Brasil terá que endereçar algumas questões. Embora tenhamos avançado com o 4G, teremos à frente o antigo binômio universalização versus qualidade, ou seja, garantir cobertura em todo o território, entregando a velocidade prometida ao consumido e superando as “áreas de sombras” identificáveis em um terço dos municípios.
Entre cidades, vilarejos e áreas rurais, há mais de 9.000 localidades sem conectividade, além de um grande número de rodovias. Cerca de 45 milhões de brasileiros vivem sem acesso à internet, excluídos da vida digital.
O desafio de inclusão é também pontuado pela acessibilidade aos serviços. Um relatório divulgado pela Cable, consultoria britânica, apontou que os brasileiros pagam cerca de US$ 26,35, ou R$ 137, por megabits por segundo (Mbps) de download, o que posiciona o país na 54ª posição em um ranking global que analisa o custo médio mensal em 220 países.
Adicionalmente, uma carga tributária superior a 40% é aplicada aos serviços, dificultando ainda mais o acesso. Nesse sentido, no início de sua implementação, o 5G poderá pesar no bolso dos brasileiros, considerando a necessidade da troca da maior parte dos celulares – cujo preço inicial gira em torno R$ 1.600 – e o custo do plano de dados, que atualmente chega a R$ 250 mensais.
Outro fator é a existência de empecilhos nas próprias cidades. As leis municipais dedicadas a regular o uso e a ocupação do solo são antigas. De acordo com o apurado no “Fórum Proteste 5G: Desafios de Implementação no Brasil”, realizado em 2021, o Brasil conta hoje com cerca de 100 mil antenas. Para viabilizar a implementação do 5G, no entanto, um volume cinco vezes maior será necessário. Dessa forma, as prefeituras precisam de estímulo e apoio para aprimorar seus marcos legais, de forma a agilizar a emissão de autorizações para a instalação de novos equipamentos.
Finalmente, é importante pontuar a necessidade da facilitação do acesso ao 5G aos consumidores de menor poder aquisitivo. Considerando que o Brasil é um país com alta concentração e disparidade de renda, há o risco do nicho do uso da tecnologia e da limitação de seu uso a um pequeno conjunto de consumidores.
Assim, de nada adianta implementarmos uma tecnologia de grande alcance e incontáveis benefícios se não houver a universalização dos serviços de telecomunicações ou se os consumidores não forem capazes de pagar por isso.
*informações Fábio Zacharias – Proteste