Gerente de Compras da estatal foi interrogada nesta quarta-feira, 09, em uma das três reuniões agendadas para esta semana
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para investigar possíveis irregularidades na gestão e o uso político da Companhia Energética do Estado de Minas Gerais (Cemig) entrou em sua reta final.
Depois de ouvir nesta quarta-feira (9/2/22) a gerente de Compras de Materiais e Serviços da estatal, Ivna Araújo, os deputados pretendem interrogar mais duas testemunhas decisivas para a elaboração do relatório final, que trará a conclusão de quase oito meses de investigações, em reuniões agendadas para quinta (10), às 14 horas, e sexta (11), às 10 horas, ambas no Auditório José Alencar.
Um dos depoentes convocados é o próprio diretor-presidente da estatal, Reynaldo Passanezi Filho. Em uma das linhas de investigação, o executivo estaria no comando de uma estratégia de desinvestimento e consequente descrédito da Cemig, com o objetivo de viabilizar politicamente a privatização da empresa.
Sob o comando do seu presidente, deputado Cássio Soares (PSD), a CPI da Cemig também interrogará o empresário Evandro Negrão de Lima Júnior. As duas testemunhas podem ou não ser ouvidas na mesma reunião, em uma das duas programadas, a depender da sua disponibilidade para colaborar com os trabalhos da CPI.
Segundo o que foi apurado até o momento pelos parlamentares, Evandro Júnior não tem cargo na Cemig nem no Poder Executivo estadual, mas é secretário de Assuntos Institucionais e Legais do diretório do Partido Novo no Estado e teria sido uma peça central no cerco partidário que teria tomado conta da empresa desde 2019 e dado margem a diversas operações suspeitas, que podem ter contrariado sobretudo os interesses de seu principal acionista, a população de Minas Gerais.
Exec
Uma dessas operações estranhas, com a participação do empresário nos bastidores, envolve a própria contratação de Reynaldo Passanezi como presidente da Cemig. Ele teria sido escolhido pela Exec, empresa de headhunter (seleção de executivos) ligada a dirigentes do Partido Novo, o mesmo do governador Romeu Zema, após indicação do empresário.
Conforme já apurado pela CPI e confirmado em depoimentos anteriores, a Exec recebeu, em contrato sem licitação, R$ 170 mil. A convalidação do contrato da Exec foi aprovada em fevereiro de 2020, mais de 30 dias depois de Reynaldo Passanezi ter sido nomeado para o cargo. Ou seja, o presidente da Cemig “contratou” a empresa que o selecionou.
Prevista na legislação, a convalidação é a regularização de contratações depois dos serviços já terem sido executados, prática que deveria ser utilizada somente em situações emergenciais. Contudo, essa artimanha teria se tornado corriqueira na gestão de Reynaldo Passanezi.
Sem licitação
A gerente de Compras de Materiais e Serviços da Cemig, Ivna Araújo, já havia prestado depoimento na CPI da Cemig em 16 de setembro do ano passado, mas os deputados avaliaram que, interrogada novamente, ela poderia ter mais revelações a fazer sobre a decisão suspeita de dispensar os pareceres jurídicos prévios em contratações bilionárias sem licitação realizadas pela estatal.
No depoimento anterior, a executiva disse que até tentou questionar isso internamente na Cemig, mas que a direção da empresa teria determinado ao seu corpo gerencial que ignorasse esse mecanismo de controle. Quando não eram simplesmente ignorados, os pareceres eram emitidos posteriormente às dezenas de contratações suspeitas celebradas pela empresa na atual gestão, com o aval da Diretoria Jurídica da estatal, também na mira da CPI.
IBM E AEC
Um dos contratos bilionários celebrados pela Cemig sem licitação e investigados pela CPI da Cemig foi com a IBM Brasil Indústria, Máquinas e Serviços, braço nacional da multinacional de tecnologia. Realizado sem concorrência e pelo prazo inédito de dez anos, essa “parceria” pode ter dado margem a diversas ações de uso político da estatal.
Como foi apontado em documentos e depoimentos obtidos pela CPI da Cemig, uma das primeiras decisões da IBM Brasil foi a subcontratação da empresa de call center AeC, fundada por Cássio Azevedo (já falecido), ex-secretário de Desenvolvimento Econômico do governador Romeu Zema.
A AeC, citada em vários depoimentos prestados na CPI, já desempenhava a mesma atividade para a Cemig desde setembro de 2008, por três contratos, e foi subcontratada pela IBM no início de 2021, mesmo após ter perdido licitação no ano anterior para continuar prestando o mesmo serviço.
* informações Notícias ALMG