O coach Pablo Marçal, que levou ao topo do Pico dos Marins, no interior de São Paulo, um grupo de 32 pessoas que precisaram ser resgatadas pelo Corpo de Bombeiros, se apresenta como mentor e estrategista digital e vende cursos que prometem prosperidade aos alunos. Um deles, com um ano de duração, é vendido por R$ 2.997.
Marçal, que tem cerca de 2 milhões de seguidores no Instagram, foi chamado de irresponsável pelo bombeiro que chefiou a operação de resgate. “Subir com um grupo de pessoas despreparadas e sem equipamento é colocá-las sob risco de morte. Essa foi a pior ação que a gente viu no Pico dos Marins”, afirmou o capitão dos bombeiros, Paulo Roberto Reis.
Após ser resgatado, o coach minimizou o episódio em uma transmissão.
Página oficial de Pablo Marçal na internet — Foto: Reprodução
Em seu site oficial e em suas redes sociais, Marçal afirma que “destravou os códigos da prosperidade e do governo da alma” e que tem “grande desejo de ajudar as pessoas a prosperarem em suas vidas ensinando os métodos e técnicas que desenvolveu e aplicou ao longo de sua vida”.
Para convencer os coachees, como são chamados os clientes atendidos pelo coach, ele aposta na retórica de tom religioso e propõe uma atividade que exige um sacrifício, que promete “destravar” capacidades de superação em cada participante. Em uma publicação, ele escreveu: “Deus é um investidor e um dia vai te perguntar: cadê o investimento que eu fiz em você?”.
Em outro trecho, ele escreveu: “não vai ser fácil, não vai ser confortável e nem algo ‘animado’ de se fazer. Mas eu prefiro que você sofra a dor do desconforto por um curto período da vida para não sofrer essa dor de arrependimento uma vida toda!”, escreveu em seu site.
Relembre o caso
Na última quarta-feira (5), Marçal, que tem 2 milhões de seguidores no Instagram, subiu o Pico do Marins com um grupo de 60 pessoas, prometendo “códigos que destravassem a mente” ao fim da escalada. O ponto é um dos mais altos do estado de São Paulo, com uma trilha complexa e histórico de mortes – a recomendação de guias que conhecem a região é que a prática de montanhismo na área seja feita nos períodos mais secos do ano, entre abril e agosto.
Durante a escalada, o grupo foi surpreendido por chuva e vento intensos, que destruiram e inundaram barracas. Quase metade dos participantes desistiu da expedição pelo cansaço ou pelas más condições do tempo. As 32 pessoas que seguiram até o topo precisaram ser resgatadas pelos Bombeiros, em operação que levou cerca de nove horas.
O que diz o coach
O g1 tenta contato com Pablo Marçal desde sexta-feira (7), mas, até a última atualização desta reportagem, não obteve retorno. Em uma transmissão nas redes sociais, ele minimizou o episódio.
“Algumas pessoas não suportam quem corre risco. Se você não corre risco, dificilmente você vai chegar no topo. Nossa subida na montanha, a gente correu muito risco. E aí alguém fala: ‘mas para que correr risco?’. Você que não quer correr risco, fica na sua casa assistindo os stories. Eu não mandei ninguém subir, eu fui na frente. Fui lá, subi e resolvi. Cada um subiu na sua responsabilidade”, disse.
*Fonte: g1 Vale do Paraíba e Região