Dicas da nutricionista Laura de Souza Silva e da chef Roberta Azevedo sobre como diminuir o consumo de carne
Do portal Metrópoles – Hambúrguer, carpaccio, ragu, churrasco, bife, carne moída… O brasileiro é, definitivamente, um povo carnívoro. Para muita gente, inclusive, se uma refeição não tiver carne, nem pode ser chamada de refeição. Contudo, o reducitarianismo (movimento político em que os adeptos reduzem o consumo de produtos de origem animal) está mais forte do que nunca.
De acordo com uma pesquisa da Datafolha divulgada em setembro de 2021, 67% dos brasileiros cortaram o consumo de carne vermelha. Agora, cada brasileiro consome cerca de 26,4 quilos desta proteína ao ano, o que indica uma queda de quase 14% em relação a 2019. Segundo os dados, este é o menor nível desde 1996.
E não é para menos: além do preço das proteínas de origem animal terem aumentado desde 2020, a carne, principalmente bovina, tem ganhado fama de “vilã” no combate ao aquecimento global. A proteína bovina é apontada como o alimento que mais contribui para emissões de gases do efeito estufa e desmatamentos na Amazônia e no Cerrado, segundo o mais recente relatório sobre clima da ONU.
Indicado como uma das tendências gastronômicas de consumo para 2022, o reducitarianismo, é a escolha da chef Roberta Azevedo, à frente da Comedoria Sazonal. Ela explica que segue esse estilo de vida há mais ou menos três anos.
“Comecei a não comprar mais carne para casa e só cozinhar cereais, leguminosas, oleaginosas, verduras e lácteos. Aos poucos percebi que só comia carne quando jantava fora ou se alguém me oferecia ou cozinhava para mim. Não queria ser radical ao ponto de não poder desfrutar de momentos sociais por causa de minha opção de reduzir o consumo”, conta a profissional.
Comandando as caçarolas de um restaurante flexitariano (lê-se que não tem a carne como foco, mas sem tirá-la totalmente do menu), ela dá algumas dicas para quem está no início do processo:
Comece aos poucos
“Passe a não consumir em casa e deixar para ocasiões em que você vai se alimentar fora do seu lar. Isso já ajuda muito na redução. Quando menos perceber, a carne já não é mais protagonista na alimentação. A economia que fará na hora das compras vai ser perceptível no final do mês”, comenta a expert.
Abuse de legumes, frutas e vegetais
“O segredo para quem está acostumado a comer muita carne é investir em tempero, textura e cor. Na Comedoria, por exemplo, usamos várias especiarias e adoramos ter no mesmo prato salgado, doce, cítrico e amargo. Dessa forma, conseguimos conectar o cérebro do cliente com o presente e fazer com que ele sinta todos esses sabores de uma vez”, explica.
Segundo ela, também vale investir em receitas afetivas. “Pode levar muitas pessoas a memórias já vividas e ajuda a instigar a imaginação. E claro, com um prato colorido, conseguimos atrair o olhar e o desejo de quem vai comer”, frisa Azevedo.
Use a criatividade
A dica da chef é criar pratos coloridos. “Seja criativo! Feijão não precisa ser sempre consumido da mesma forma. Ele pode virar hambúrguer, pasta e até brownie”.
Vale a pena investir em “carne de planta”
Uma pesquisa inédita mostra que o mercado plant-based passou de tendência à realidade no Brasil. O levantamento, que ouviu 2 mil pessoas em todas as regiões e foi coordenado pelo The Good Food Institute Brasil (GFI) junto ao Ibope, aponta que metade dos brasileiros reduziu o consumo de carnes nos últimos 12 meses.
Quase a maioria comeu carne bovina (47%) e de frango (43%) no máximo uma vez por semana. O número é ainda maior para suínos (83%) e peixes (92%). Dos que diminuíram, metade passou a consumir menos carne em cada refeição em vez de tirá-la do dia a dia.
“É fantástica a evolução da tecnologia nesse mercado, principalmente para aqueles que optam por reduzir o consumo da proteína animal por uma questão ideológica quanto ao trato com os animais”, afirma. “Sou uma entusiasta quanto a essa evolução”, finaliza Roberta.
Saúde em primeiro lugar
Segundo a nutricionista Laura de Souza Silva, é importante se atentar para as refeições não ficarem deficientes em vitaminas.
Para substituir a carne, ela indica combinar um cereal com uma leguminosa, como, por exemplo, o nosso famoso arroz e feijão. “Sempre é bom estar amparado por um nutricionista para não ocorrer deficiência nutricional e acabar prejudicando a saúde”, complementa.
A dica da “nutri” é começar primeiro retirando a carne vermelha, depois o frango e o peixe. “Ao mesmo tempo, é bom ir aumentando aos poucos as fontes de cerais e leguminosas. Se o objetivo é ser vegano, os lácteos são os últimos que devem serem retirados”, finaliza.