Início da campanha eleitoral é sempre marcado por ações estratégicas dos políticos que tentam passar a imagem de “candidato do povo”
Na disputa deste ano, a “temporada do pastel” já foi iniciada: entre os candidatos à Presidência da República, Simone Tebet (MDB) deu a largada e publicou, no fim de julho, um registro comendo a iguaria. “Sextou com S de Simone na feira + pastel + caldo de cana”, escreveu a candidata nas redes sociais.
Frequentar as feiras do Distrito Federal é um costume do presidente Jair Bolsonaro (PL). O último registro foi em 12 de agosto, durante a pré-campanha eleitoral, quando o mandatário também apreciou a clássica dupla pastel e caldo de cana em uma feira de Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal.
Entre os principais nomes da disputa ao Palácio do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é um dos únicos que ainda não apreciou o pastel durante eventos de campanha. No entanto, o clássico chapéu de cangaceiro foi acessório de Lula em visitas aos estados nordestinos.
No fim de julho, o ex-presidente e a socióloga Janja, sua esposa, apareceram dançando xaxado em trajes nordestinos durante evento em Pernambuco. O chapéu também foi utilizado no início de agosto, em agenda na Paraíba.
Ciro Gomes (PDT) também não posou saboreando um pastel, mas já apareceu em imagens com crianças. Em visita à Vila Nova Esperança, em Curitiba (PR), na última semana, o pedetista foi fotografado ao brincar com um bebê que estava no colo da mãe.
Candidatos do povo
O contato com o povo é característica importante das ações políticas — especialmente entre deputados e senadores, que têm papel de representar a população nas câmaras municipais, estaduais e federal. Em ano eleitoral, porém, a tática fica mais evidente entre candidatos a outros cargos.
“É a necessidade de ir à rua se expor, se apresentar para o eleitor, estar presente, próximo. É uma pena que esse processo se intensifica muito durante a campanha, mas deveria ser um processo continuado do representante eleito”, pontua Lúcio Remuzat, cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB).
O especialista explica que o contato gera sensação de identidade entre o eleitor e o político. “Isso se diluiu um pouco com as mídias sociais, mas continua sendo uma necessidade. É criação de identidade. É como se o político dissesse: a gente compartilha experiências, por isso posso te representar. Daí, se veste igual, come igual, frequenta espaços populares”, analisa.
Dá para acreditar?
Apesar de popular, a estratégia “pastel com caldo de cana” não é levada a sério em todas as situações. Imagens de candidatos tentando aproximação com o eleitorado viram meme nas redes sociais a cada ano eleitoral — especialmente quando o contato direto com o povo não faz parte do perfil dos políticos.
Fotos antigas do senador José Serra (PSDB) e do ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) frequentemente viram alvos de piada no Twitter. Um dos exemplos é a sequência de imagens que mostra Doria tomando um pingado e comendo o famoso pastel de feira.
“O Doria com essa cara de nojo comendo o pastel, pelo amor de Deus”, comentou um usuário. Outra imagem mostra José Serra beijando a própria mão ao segurar no braço de uma eleitora. “O José Serra beijando a própria mão representa tudo o que acho da direita em uma foto só”, publicou uma usuária da rede social.
A cientista Camila Santos explicou ao Metrópoles que a aproximação com o povo pode virar motivo de piada na internet quando é protagonizada por políticos de partidos que não têm histórico de ligação com movimentos sociais. Nessas situações, a ideia de “candidato do povo” pode soar falsa, analisa a especialista.
“Os candidatos que vêm de partidos de esquerda têm movimentos sociais como base, é uma questão com a qual eles têm maior aproximação. Já os que tendem a ser de partidos de direita costumam estar ligados a classes mais altas, e fazem essas ações no momento das eleições para angariar votos”, explica.
Apesar de ser antiga, e se repetir a cada ano eleitoral, a receita do pastel com caldo de cana deve ser mantida nos próximos pleitos, analisa a cientista política. Segundo Camila, mesmo na era das redes sociais, a rua ainda é o maior canal de aproximação com o povo.
“Com as redes sociais, o público é diferente, mais jovem. Os mais velhos não têm contato com esse mundo da internet, do Tiktok, do Twitter. O popular, a entrega de panfleto e o contato nas ruas ainda é a forma com a qual eles vão conseguir alcançar o maior público”, conclui.
*informações Metrópoles