Weintraub repetiu a informação de que sofreu pressões e ameaças para largar a disputa ao governo paulista, atribuídas por ele ao presidente Bolsonaro
O pré-candidato ao Governo de São Paulo Abraham Weintraub (PMB) criticou na terça-feira (3) o rival à direita Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que o presidente Jair Bolsonaro (PL) o decepcionou e repetiu a afirmação de que sofreu ameaças para desistir da disputa.
Ao participar da sabatina realizada por Folha e UOL com postulantes ao Palácio dos Bandeirantes, o ex-ministro da Educação levantou dúvidas, sem apresentar provas, sobre a atuação de Tarcísio no período em que comandou o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) no governo Dilma Rousseff.
Weintraub alcançou 1% na pesquisa Datafolha de abril, liderada por Fernando Haddad (PT), com 29%, à frente de Márcio França (PSB), com 20%, de Tarcísio, com 10%, e do atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB), com 6% -os dois últimos estão empatados no limite da margem de erro.
“O Tarcisio não tem nenhuma acusação de corrupção contra ele, mas ele foi indicado para o Dnit da Dilma, do Lula. Indicado pelo [ex-ministro] Moreira Franco e pelo Michel Temer. E depois, quando o Michel Temer virou presidente, ele ficou lá”, afirmou Weintraub no início da sabatina.
“Que eu saiba, ele [Tarcisio] não encaminhou à Polícia Federal e ao Ministério Público nenhum caso de malfeito em dez anos”, acrescentou, dizendo que ele, quando chefiou o MEC, relatou a autoridades 15 casos, incluindo denúncias de sobrepreço no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
“Não diria que ele [Tarcisio] prevaricou. […] Eu acho que ele não participou de esquema, mas eu não vou afirmar que ele prevaricou”, afirmou, ao ser questionado se considerava que o adversário deixou de tomar providências ao tomar conhecimento de algum problema.
Weintraub repetiu a informação de que sofreu pressões e ameaças para largar a disputa ao governo paulista, atribuídas por ele ao presidente Bolsonaro. O pré-candidato disse ainda que Tarcisio foi lançado na disputa pelo bolsonarismo para “esvaziar qualquer chance de aparecerem nomes”.
Segundo o ex-ministro, a mensagem direcionada pelo entorno do presidente a ele e a seu irmão Arthur Weintraub, ex-assessor da Presidência, foi enfática: “Simplesmente sumam, desapareçam, nunca mais pisem no Brasil”.
Ele disse ainda que o rival “tem uma estrutura gigantesca” de campanha e se associou ao centrão, a um partido robusto e a generais, diferentemente dele, que não tem “estrutura nenhuma” nem “dinheiro do fundão” eleitoral para deslanchar sua pré-campanha.
“Esse grupo montou uma estrutura para atacar e perseguir os conservadores. Não fui só eu que fui esmagado. […] Acho que tenho chance [na eleição] porque muita coisa que vem sendo articulada faz parte do teatro das tesouras. Eu não descartaria que mais perto da eleição o Tarcisio desista”, especulou.
Rompido com Bolsonaro, o ex-titular do MEC reiterou críticas à aliança do mandatário com o centrão, afirmando que ele errou com o movimento e “se perdeu pela vulnerabilidade”.
Ele diz que, em sua passagem pelo governo, percebeu como pessoas no poder são assediadas para manter esquemas e podem acabar sendo “seduzidas”. “Toda essa máquina de Brasília foi criando ódio a meu respeito porque eu não conseguia fazer os bons negócios do MEC”, exemplificou.
“Quando você vai para o poder, os cortesãos estão lá há gerações”, disse. “É uma corte que te cerca, e ao mesmo tempo fica te ameaçando.”
“Acho que houve uma aproximação com o centrão muito em função da chantagem que a estrutura, o mecanismo, fez contra o presidente. O presidente virou refém. E acabou cedendo. É aquela síndrome de Estocolmo”, disse. “O presidente Bolsonaro me decepcionou muito, eu não confio mais nele.”
O pré-candidato, no entanto, deixou em aberto se poderia votar no atual mandatário em um eventual segundo turno dele contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Nunca votei nulo. Eu sempre faço escolhas. Eu escolheria qualquer um que não fosse o Lula”, respondeu.
Ele atacou o petista em vários momentos, dizendo que o Brasil caminha para o que chamou de uma distopia, mas que isso acontecerá mais rápido se Lula voltar à Presidência. “Esse cara, para mim, é um inimigo pessoal, é um cara por quem eu tenho desprezo. O Lula, para mim, é um encosto.”
Sobre Bolsonaro, afirmou que “ele andou junto com gente errada”, mas “nunca teve um caso de corrupção”.
Ao descrever propostas para o estado, Weintraub defendeu a unificação das polícias Civil e Militar como parte de um caminho para melhora da segurança pública, aperfeiçoando mecanismos de investigação.
“Hoje o policial do estado de São Paulo é um herói que está enxugando gelo”, disse. “E são mais de 100 mil policiais. Eles são peça-chave para a gente colocar o estado de São Paulo de pé e transformar o nosso estado numa espécie de Texas brasileiro, onde você vai ter a liberdade de tentar buscar a felicidade, andando na rua com o celular, não tendo gente morrendo de overdose de crack em tudo quanto é lugar.”
O postulante ao governo disse ainda que, se eleito, não trabalhará pela defesa apenas das famílias conservadoras, mas de todas, inclusive aquelas que estariam fora de padrões. Ele afirmou que “a mesma patota” comanda o estado desde 1982 e deseja “limpar” a administração.
“O estado de São Paulo é riquíssimo e, seu eu encontrar metade do percentual de coisas erradas que eu encontrei no MEC, dá para a gente fazer muita coisa. […] Quando sobra dinheiro, você consegue colocar nas prioridades, saúde, educação, segurança.”
Weintraub se declarou contrário à legalização do aborto, à descriminalização da maconha, ao aumento das tarifas de transporte público, à inspeção veicular em todo o estado, à cobrança de mensalidade em universidades públicas, à privatização de presídios e de linhas da CPTM e do Metrô, às câmeras nos uniformes da polícia “como instrumento para o policial”.
O pré-candidato também se disse a favor da concessão de parques públicos à iniciativa privada e à privatização de estatais. Sobre porte e posse de armas por cidadãos comuns, respondeu que manteria a legislação como está.
Em relação à cracolândia, afirmou que operações policiais não resolvem o problema. Disse que é preciso ser fraterno e ajudar a pessoa dependente de drogas, ao mesmo tempo em que se combate o tráfico. “Não tem solução fácil.”
A entrevista com o ex-ministro foi conduzida pela apresentadora Fabíola Cidral, pelo colunista do UOL Leonardo Sakamoto e pela jornalista da Folha Carolina Linhares.
Weintraub deu a entrevista por videoconferência dos Estados Unidos, onde vive com a família desde que assumiu um cargo de direção no Banco Mundial, em meados de 2020. Ele diz que renunciou ao cargo neste ano para se dedicar à campanha em São Paulo.
Também nesta segunda, às 16h, a conversa será com o pré-candidato ao governo Elvis Cézar (PDT), ex-prefeito de Santana de Parnaíba. As sabatinas são ao vivo, com 60 minutos de fala.
RAIO-X
Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub, 50
Graduado em ciências econômicas pela USP e mestre em administração pela FGV, fez carreira como executivo no mercado financeiro e foi sócio de uma gestora de fundos. Aderiu à campanha do presidente Jair Bolsonaro, atuando na equipe de transição de governo e na Casa Civil. Foi nomeado ministro da Educação em 2019 e permaneceu 14 meses no posto, em gestão marcada por polêmicas. Foi indicado pelo governo para um cargo de direção no Banco Mundial, que resolveu deixar para se dedicar à pré-campanha. Alvo de investigações do Supremo Tribunal Federal sobre fake news e atos antidemocráticos, passou recentemente a criticar Bolsonaro. Filiou-se ao PMB (Partido da Mulher Brasileira) e é pré-candidato ao Governo de São Paulo.
*informações Folhapress